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Nossa Senhora de Lourdes - Cidades do Velho Chico 21

Porto da Folha - Cidades do Velho Chico 14

Quem trafega pela rodovia SE 200, margeando o São Francisco, vindo de Lagoa da Volta ou de Gararu, deve encontrar pelo caminho uma cidade construída a partir de um morgado, que é um patrimônio familiar passado a herdeiros sem possibilidade de venda. Estamos falando de Porto da Folha. A história deste município, localizado na Mesorregião do Sertão Sergipano e na Microrregião Sergipana do Sertão do São Francisco, começa em novembro de 1807. Antônio Gomes Ferrão de Castelo Branco registrou suas terras em Propriá, um latifúndio de 30 léguas com a denominação de morgado de Porto da Folha. Apesar disso, quem colonizou mesmo Porto da Folha foi Tomás de Bermudes, fundando um curral, após fazer amizade com os índios. O local ficou conhecido como fazenda Curral do Buraco, que ganhou esse nome por dar a impressão de que a região fica num baixio rodeado de morros. Até hoje, por isso, ainda  é comum denominar os portofolhenses como buraqueiros.  

Com a crescente povoação do local, em 19 de fevereiro de 1841 passou a se chamar Nossa Senhora da Conceição de Porto da Folha, com suas terras se estendendo a Poço Redondo, Curral de Pedras (Gararu) e a Canindé, municípios que já pertenceram a Porto da Folha. Curioso é que a localidade mais antiga da região é a Ilha de São Pedro, hoje abrigando a única comunidade indígena de Sergipe. Por isso, por algum tempo, a Vila de São Pedro foi a sede do município, criado com a denominação de São Pedro do Porto da Folha, pelo decreto de 16 de agosto de 1832 e por Resolução Provincial nº 676, de 08 de junho de 1864. Só que, em 19 de fevereiro de 1835, transfere-se a sede de São Pedro do Porto da Folha para a povoação do Buraco, com a denominação de Nossa Senhora do Porto da Folha, considerada a data de fundação do município. Confusão se faz quando outro decreto, datado de 23 de fevereiro de 1836, transfere a sede São Pedro do Porto da Folha para a povoação de Curral das Pedras, que hoje é o município de Gararu. Até a Ilha do Ouro já foi sede do município, de acordo com a lei provincial nº 841, de 23 de março de 1870, transferindo a sede Curral das Pedras – Gararu - para a povoação de Boa Vista, com o nome de Ilha do Ouro.

Como confusão pouca é bobagem, uma nova resolução provincial nº 1003, de 16-04-1875, é criado o distrito de Curral das Pedras e anexado ao município de Ilha do Ouro. O nome Porto da Folha volta a figurar pelas leis provinciais nºs 664, de 11 de maio de 1864 e 1.153, de 28 de março de 1880, carimbando o nome de Nossa Senhora do Porto da Folha, quando a sede já estava definitivamente onde hoje se encontra. O nome Porto da Folha, como é atualmente, foi instituído pela lei estadual nº 195, de 11 de novembro de 1896, já na era republicana. Depois das emancipações de Gararu, Poço Redondo e Canindé, antigo Curituba, não se criou mais nenhum distrito. Até hoje Porto da Folha tem apenas o seu distrito sede, mesmo tendo povoações históricas e importantes.

E por falar em povoações, a Aldeia Xokó, na Ilha de São Pedro, que já foi sede do município, hoje figura como simples povoado. Sua colonização remonta ao século XVIII, com a catequese dos índios promovida pelos frades capuchinhos. Ao fim do século XIX, o local estava despovoado e foi incorporado às propriedades do Coronel João Fernandes de Brito, passando posteriormente aos seus descendentes. Esse período é duro para os índios da região que passam a ser perseguidos e têm a sua cultura discriminada. Depois de anos de conflito, os índios reocupam a Ilha de São Pedro em 1979, ano em que a FUNAI reconhece a área como sendo terra indígena. Para se chegar ao local, trafegando-se pela SE 179, seguindo para o povoado Niterói, em frente ao povoado Ranchinho, segue-se pela SE 413. São apenas 12 kms de uma estrada estreita e em péssimas condições. A atração da viagem é mergulhar numa mata que parece ser virgem, quase que uma cópia das condições vividas pelos bandeirantes e frades quando aqui chegaram séculos antes.

Retornando pela mesma SE 413, depois de percorrer 6 kms, toma-se uma estrada vicinal com destino ao povoado de Lagoa da Volta. É o maior povoado de Porto da Folha, e um dos maiores de Sergipe, hoje com um eleitorado que beira os 5 mil votos. A padroeira da povoação é Santa Luzia e há uma estrutura comparada a de um município. Tem até escola estadual. Boa parte da produção de leite, milho e feijão tem origem na Lagoa da Volta. O povoado, que ainda não é distrito, tem a maior praça de eventos de Porto da Folha. Os moradores, claro, querem a emancipação e até já escolheram o nome: Luzinópolis. Se fizerem o plebiscito, o resultado já está garantido.  

Outros dois povoados importantes de Porto da Folha ficam às margens do São Francisco, além de Ilha de São Pedro: Niterói e Ilha do Ouro. A importância de Niterói está na sua localização privilegiada. Além de ficar margeando o Velho Chico, é o local onde se pega uma balsa para chegar ao município de Pão de Açúcar, em Alagoas. Já a Ilha do Ouro, tanto por sua importância histórica como pelos seus atrativos turísticos, é o maior cartão postal de Porto da Folha. Sua distância da sede do município é de apenas 8 kms, por uma estrada completamente asfaltada. Recebe turistas do Brasil inteiro. O ponto negativo, infelizmente, é dado pela atuação dos políticos. Um canteiro de obras, que promete adequação e requalificação da sua estrutura turística, parece uma história sem fim, em mais uma prova do desperdício do dinheiro público. Outro povoado, que não foi visitado por esta reportagem, é Lagoa do Rancho. Também servido de boa estrutura, fica localizado na SE 317, outra rodovia que passa pelo território de Porto da Folha, a 22 kms da sede municipal. Vale ainda citar o povoado de Lagoa Redonda, situado na SE 230, próximo a Monte Alegre de Sergipe, também com boa estrutura e apresentando crescimento urbano considerável.

É fácil, pois, após tantas povoações importantes, concluir que Porto da Folha é um município que precisa ser visitado. Tem a maior festa de gibão do Brasil, aquela vaquejada que pega boi no mato, realizada no mês de setembro. É um dos maiores produtores de leite do Nordeste, com uma área total de 877 km². Faz limites com os municípios de Poço Redondo, Monte Alegre de Sergipe, Gararu e Nossa Senhora da Glória, em Sergipe; Belo Monte e Pão de Açúcar, em Alagoas. Sua população em 2022 é de 26.576 habitantes, com uma densidade demográfica de 30,3 habitantes por km². Fica distante de Aracaju em 190 kms.