Exclusivo!

Neópolis - Cidades do Velho Chico - 31

Do Sertão ao Centro-Oeste: Luís Eduardo Magalhães e as BRs 242 e 020

Saímos de Barreiras e seguimos pela BR 242, em direção a Luís Eduardo Magalhães. Como não poderia deixar de ser, a rodovia tem um tráfego intenso de caminhões, transportando as diversas safras do agronegócio. A região é denominada de Matopiba, uma referência à concentração da produção agrícola que abrange os estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Para onde quer que se olhe, fica óbvia a ligação da região com a exportação de grãos para os principais centros consumidores do mundo. 

 Ao lado de Barreiras e Formosa do Rio Preto, Luís Eduardo Magalhães completa o tripé de maiores produtores de grãos da Bahia e do Brasil. A história do município se confunde com a linha de constante crescimento do agronegócio por esta região. Mas tudo começou bem antes do Matopiba.  

Em 1974 chega à região os baianos Enedino Alves da Paixão, conhecido por Negão, e sua esposa Maria Firmino de Jesus, com seus oito filhos. Instalaram-se no entroncamento das BRs 242 e 020, construindo uma pensão que alojava os caminhoneiros que transitavam pelas BRs. Oito anos depois, o pecuarista Hipólito Cardoso Ferreira e o empresário goiano Arnaldo Horácio Ferreira adquirem uma área de terra equivalente a 182.000 ha. Começam a chegar pessoas para trabalhar no campo. Em 1984 é fundado o povoado de Mimoso do Oeste. Cinco anos depois nasce o distrito de Mimoso, pertencente ao município de Barreiras.

Desta época são registradas as chegadas de pecuaristas e agricultores oriundos do sul do país em busca de melhores condições de vida, atraídos pelas características da topografia e grande abundância de água. Nasce daí a fronteira agrícola de hoje. Dentre estes agricultores e pioneiros, encontravam-se os senhores Adelchi Pereira Ramos, Jacob Lauck e Amélio Gatto. Também nos anos 1980 chegaram, Luís Hashimoto, Eduardo Massao Yamashita, Constantino Catarino de Souza, Ottomar Schwengber. Aliás, é bom lembrar que foi a família Schwengber que fundou o primeiro Centro de Tradições Gaúchas (CTG) da cidade. Siegfried Janzen, conhecido como Toni, de Dianópolis, no Tocantins, fundou a primeira Associação de Moradores de Mimoso do Oeste. O casal Aparecido Cirilo e Amélia Pontes Costa Cirilo, dona Amelinha, 1ª enfermeira da região, também fazem parte desta história. 

Mimoso do Oeste virou Luís Eduardo Magalhães, emancipado de Barreiras em 30 de março de 2000, através do projeto de Lei nº 395/1997. O nome foi uma homenagem ao filho do ex-governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães, escolhido após referendo. LEM, como é mais conhecida, hoje possui a 7º economia do Estado da Bahia, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com um Produto Interno Bruto (PIB), de R$ 6,2 bilhões. É o maior exportador da Bahia, com participação de 16,74%, o que representa US$ 1.281.454. O município é um dos maiores produtores de soja, com 569.904 toneladas, de algodão - 78.024 toneladas - e milho com 133.650 toneladas na safra 2019/2020.

Quando se desmembrou de Barreiras, o então povoado de Mimoso do Oeste não passava de um ponto de apoio na BR 242, a estrada que liga a Bahia a Goiás. A população, que era de 18 mil habitantes, saltou para os atuais quase 110 mil. Vem gente de todo o lugar do Brasil e do mundo, principalmente do Sul do país. É o local onde menos se ouve o baianês. A capital do agronegócio baiano, completa agora em março 23 anos apenas e é uma das cidades que mais crescem no país. E com a expansão da soja e do algodão, chegaram indústrias, lojas, grandes revendedoras. Sem falar da expansão urbana, com prédios sendo erguidos por todo lado. A construção civil, os serviços e o comércio são as áreas da economia que mais crescem. Só as lojas de máquinas e equipamentos agrícolas movimentam mais de R$ 1 bilhão por ano.

O crescimento de LEM foi graças à irrigação. Dos 3,1 milhões de hectares cultivados, 171 mil são irrigados. No sequeiro, os produtores colhem só uma safra por ano, mas com os pivôs eles levam vantagem. Além da garantia de duas colheitas por ano, uma de soja, e uma de algodão, nas áreas irrigadas a produtividade costuma ser em média entre 15% e 20% maior que no sequeiro. Uma só fazenda da região, por exemplo, tem 28 pivôs de 1,8 mil metros de extensão. Cada um irriga 350 hectares. A cada minuto, o pivô avança 5 metros e a cada 21 horas ele fecha o círculo. Para dar a volta inteira, 15 milhões de litros de água são gastos. O maior volume da água que irriga as terras do Oeste vem de duas bacias hidrográficas: rio Corrente e rio Grande, afluentes do São Francisco. O aquífero Urucuia, que passa na região, também ajuda.

Todo mundo sabe que há o lado ruim desse processo. Há divergências na avaliação dos impactos negativos causados pela irrigação. Estudos apontam que a vazão dos rios vem diminuindo nos últimos anos e que no futuro eles podem secar. Mas também tem pesquisas que afirmam que há equilíbrio entre a demanda e a oferta de água. O geógrafo Tássio Cunha analisou dados da Agência Nacional de Águas e afirma que já é possível mensurar as perdas. Ele disse ao G1 que há uma diminuição da vazão dos rios em torno de 27%. Também há uma diminuição das chuvas nesse período, porém, os dados de chuva equivalem a praticamente metade da diminuição da vazão, então há um apontamento de que pode existir um déficit no balanço hídrico presente na região.

Também não se pode esquecer que o crescimento econômico de Luís Eduardo Magalhães apresenta o lado negativo. Da mesma forma que a cidade cresce, crescem os problemas sociais. Há dezenas de homicídios por ano, fruto da desigualdade. Além disso, há problemas de saúde pública e da falta de qualidade na educação. Quem passa pela cidade vê logo o contraste: condomínios de luxo de um lado, bairros pobres, sem urbanização do outro, mesmo a prefeitura tendo uma das melhores receitas entre os municípios do Oeste baiano.

Luís Eduardo Magalhães ainda vai crescer muito e o desafio é crescer de forma justa, com diminuição considerável da pobreza, transformando bairros pobres em condomínios de moradias dignas. Também precisa que a atividade agrícola retribua ao meio ambiente parte das riquezas extraídas do seu solo fértil. Os rios precisam continuar nos seus cursos e o cerrado não pode desaparecer. Ou seja, LEM pode ser cenário de uma prática moderna de agronegócio sustentável.

Depois de conhecermos bem a cidade, pretendíamos seguir viagem para Goiás e seguimos pela BR 020. Só que, depois de algumas dezenas de quilômetros rodados, um dos pneus do Mobi simplesmente estourou. Como as distâncias no Oeste são sempre generosas, resolvemos voltar a LEM. Como o comércio já estava fechado, dormimos na cidade. No outro dia compraríamos um pneu e seguiríamos viagem para Brasília.