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Carinhanha - Cidades do Velho Chico 22

Do Sertão ao Centro-Oeste: Valente, BA 120, BA 416, São Domingos, São Pedro e Santo Antônio

Este é o segundo episódio da série Caminhos do Brasil - Do Sertão ao Centro-Oeste.

Sob a presença exuberante do Açude Tapera, saímos de Santa Luz e seguimos pela BA 120, rodovia em péssimo estado e em processo de revitalização. Ao longo da rodovia há placas indicando o processo de recuperação, mas as obras estão mesmo a todo vapor já bem perto de Valente. Cerca de dez quilômetros depois passamos pela comunidade de Lagoa das Pedras, localizada logo depois da divisa entre Santa Luz e Valente, mais ou menos no meio do caminho entre as duas municipalidades. Mais dez kms depois chegamos ao município de Valente, a Capital do Território do Sisal.

Localizado em pleno semiárido, o município de Valente foi abençoado por ter um solo e ambientes propícios ao cultivo do sisal. O agave veio da América Central e se desenvolveu por aqui, abastecendo nossa região e até sendo exportado. Famílias do local fizeram fortunas, embora isto não tenha diminuído a dependência do povo do lugar a programas sociais governamentais. 

Valente foi um povoado pertencente a Conceição do Coité e virou cidade em 12 de agosto de 1958. O nome antigo era Caldeirão do Boi Valente, nome originário de uma fazenda de gado onde existiu um boi que se desgarrou do rebanho e nunca mais foi dominado por vaqueiro algum. Findou morrendo afogado, quando resistia ao domínio do homem. O local ficou conhecido como Caldeirão do Boi Valente, Fazenda Caldeirão do Boi Valente e depois de virar povoado o nome foi reduzido para apenas Valente.  O município tem uma população de 32 mil moradores e se localiza bem próximo do rio Jacuípe. Em suas terras nasce o riacho Carnaíba, que tem suas águas represadas no distrito de Poço Grande, em Araci. A área total do município chega a 394,876 Km². Sua altitude é de 358 metros e a sede fica distante 238 km de Salvador.  

Apesar de hoje ter uma maior diversidade econômica, Valente ainda se nutre do sisal. Prova é a existência da Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira – APAEB, que produz fios naturais, tapetes e carpetes de sisal. Também há uma indústria calçadista que emprega muitas pessoas. Como não poderia deixar de ser, a Prefeitura Municipal de Valente também é um dos principais empregadores. Além disso, com a baixa valorização dos derivados de sisal, a agricultura familiar foi diversificada e tem até unidade produtora de mel, sem nunca ter abandonado a pecuária.

Como todas as cidades nordestinas, as festas populares do mês de junho, como o São João, ainda despertam muito interesse. Neste período a cidade recebe muitos turistas e ex-moradores, pessoas que ganham a vida em São Paulo, Feira de Santana, Salvador e outros cantos, para fugir do desemprego na região. No esporte, há todos os anos o campeonato municipal de futebol realizado no Evandrão, estádio da cidade, além da Copa de Integração Rural de Futebol Soçaite e do Rally do Sisal, competição automobilística integrante do Campeonato Brasileiro de Rally.

Os espaços culturais em Valente são bem desenvolvidos graças aos seus moradores que sempre mantém viva a cultura popular do lugar, mas o destaque fica com a Casa da Cultura, construída em cima de um imenso lajedo no centro da cidade, equipada com um teatro com capacidade para 320 pessoas, espaços de convivência, auditório e centro de informática. Lá, repentistas, cantadores, reiseiros, grupos de teatro amador, cantores e outros artistas alimentam o legado deixado pelo folclórico músico Tio Moura.   

No caso da infraestrutura, Valente conta com um hospital de médio porte, escolas estaduais e uma rede municipal com boa estrutura, escolas particulares, faculdades, ginásio poliesportivo, clubes, áreas diversas de lazer, pistas de skate, academias e tudo mais que seus habitantes precisam para ter qualidade de vida. Além da BA 120, que liga o município a Retirolândia e Conceição do Coité, há ainda a BA 416, que segue na direção da cidade de São Domingos e de lá vai até a BR 324. Embora esteja também sendo recuperada, o trajeto foi uma luta contra a tradicional infernal buraqueira que assola as estradas desta Bahia de meu Deus!

Saindo então de Valente, seguimos pela BA 416 e, após 10kms, chegamos ao município de São Domingos, mais uma cidade que surgiu de uma fazenda. Os proprietários eram o Coronel Francisco Pedreira e D. Amélia Pedreira. A localidade foi construída no ano de 1926. Devoto de São Domingos, o coronel colocou o nome do santo na fazenda, que na época pertencia ao município de Conceição do Coité. Anos depois a fazenda passou para João Torquato de Oliveira, casado com Aquilina Vitalina de Oliveira. Tiveram ali sete filhos e abriu um pequeno comércio. Chegaram então os primeiros moradores. João Torquato resolveu morar na fazenda Bela Vista. Na fazenda São Domingos ficaram o seu filho João Oliveira e o genro Leonardo Celestino, que administrava a casa comercial. 

Em 1941 já constava como proprietário da fazenda José Vitalino de Araújo, casado com Maria Ramos de Araújo. Daí em diante, o povoado só cresceu. Surgiram barbearias, barracão para feirantes e a capela, erguida em 1949, consagrada ao padroeiro São Domingos de Gusmão. No início da década de 50 veio a construção do açude. Nesse período, São Domingos já fazia parte do distrito de Valente.

A luta pela emancipação começa em 1984 e contou com a simpatia de várias autoridades. Em 13 de junho de 1989, é sancionada a Lei Estadual nº 5.005, desmembrando São Domingos do Município de Valente. Os primeiros Prefeito, Vice-Prefeito e Vereadores foram eleitos em eleição de 15 de novembro de 1989 e tomaram posse nos seus respectivos cargos em 1º de janeiro de 1990. Hoje, São Domingos tem uma população próxima dos 10 mil habitantes, numa área de 265,375 km².  

Continuando pela BA 416, ainda em estado de penúria, três kms depois nos deparamos com a simpática comunidade de São Pedro, de formação bem recente e que ainda não está preocupada em organizar sua história. Cerca de outros três kms depois chegamos à Vila África, uma comunidade quilombola onde moram cerca de 20 famílias. Mais cinco kms depois chegamos ao distrito de Santa Antônio do Jacuípe, localizado nas divisas de São Domingos com Gavião e Nova Fátima. Curioso é que, depois de atravessar o rio Jacuípe, é a BA 416 a linha divisória entre Gavião e Nova Fátima, até chegar ao entroncamento da BR 324. Santo Antônio tem o rio Jacuípe como seu principal atrativo, além do Morro do Mamote, que fica bem próximo. Claro, o período dos festejos juninos recebe visitas de muitos turistas e ex-moradores. 

Seguindo mais dez kms pela esburacada BA 416, chegamos ao entroncamento com a BR 324 e daqui seguiremos com destino a Gavião, Capim Grosso e Jacobina, mas é assunto para o nosso próximo episódio da série Caminhos do Brasil - Do Sertão ao Centro-Oeste

Veja o vídeo.