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Bom Jesus da Lapa - Cidades do Velho Chico 17

Qual o custo real da nossa democracia?

                                                                                                         Landisvalth Lima

Manter as instituições funcionando hoje na Brasil requer alto custo. A corrupção é o custo maior! (Foto: Poder 360)

A pergunta do título deste artigo não tem nada de inocente. Na verdade, ela sugere que há muita grana envolvida na manutenção do nosso status de país democrático do que possa imaginar a nossa pobre filosofia. Embora eu saiba que o tema não é lá de comover nosso leitor, teimo sofregamente em reiterá-lo. Não se trata de ciência, mas de puro achismo. Acho que ainda seremos uma nação que odiará a corrupção. Sim, eu também acreditei que o PSDB era social democrata, que consertaríamos o país com Lula, que o PT era, de fato, um partido formado pelos mais honestos seres deste país, que Bolsonaro consertaria alguma coisa mínima que fosse na administração pública. Quebrei a cara várias vezes e hoje posso me dar ao luxo de não acreditar em nenhum deles, pelo menos nos que estão na lista de candidatos.

Manter a máquina democrática por aqui é um alto custo. Um vereador custa 5 mil, um prefeito começa com cerca de 10 mil. Um vice-prefeito, só para ficar esperando o outro morrer, custa, no mínimo, 5 mil. Um deputado estadual parte de 25 mil, um federal vai a 35 pilas. O senador começa com 35 mil também, um governador inicia com uns 30 paus, além do vice, secretários, chefes de gabinetes, ministros de estados, ministros do Supremo, ministros do STJ, policiais militares, policiais federais e membros das Forças Armadas... Ufa! A lista é enorme! Contudo, parece que a máquina ainda não se satisfaz! Além de tudo isso, vem a bendita corrupção. Não posso ofertar números ou provas, mas posso pegar os dados da Lava Jato. Se os procuradores estavam certos, o custo da corrupção é maior que o da manutenção das estruturas democráticas. Curioso é que elas existem para permitir a inexistência da corrupção!

Então, não seria exagero dizer que as instituições não estão funcionando no Brasil! Ou talvez possamos afirmar que elas funcionam exatamente para manter o processo corrupto enraizado nas entranhas do estado brasileiro. Senão, como imaginar que, mesmo depois de um processo transitado em julgado, com sentença contrária a alguém, seja ele possível se candidatar neste país, como é o caso de um candidato em nossa região, Ricardo Maia? O advogado Gildson Gomes dos Santos lança a hipótese de que ele foi condenado, mas não foi comunicado. Por isso, o processo será considerado nulo. Se não fosse essa a saída, haveria outras. Por exemplo, que tal dar um jeito de dizer que o juiz que condenou não era o adequado, como fizeram com a anulação da condenação de Lula?

Vamos sair um pouco e caminhar para a cidade de Ibititá. Edcley de Souza Barreto, o Cafu Barreto (PSD), deixou a prisão na última terça-feira, 10 de maio. Ele havia sido detido pela Polícia Federal durante a Operação Rochedo, deflagrada no dia 5 deste mês. A operação apura um esquema de lavagem de dinheiro e desvio de recursos públicos federais repassados a Ibititá. A soltura foi determinada pelo juiz Fábio Roque da Silva Araújo, da 2ª Vara Federal Criminal. Ele foi prefeito da cidade, tem contas rejeitadas, e será candidato a deputado estadual pelo partido, com grandes chances de ser eleito, segundo previsões de especialistas. De acordo com a PF, a organização criminosa era formada por empresários, agentes públicos, advogado, contadores e “laranjas”, e desviou mais de R$ 7 milhões durante as gestões de Cafu (2013/2016 e 2017/2020). A corrupção ajuda a manter a própria corrupção enraizada nas artérias desta suposta democracia, com a ajuda das instituições.

Voltemos para a nossa região com o prefeito de Heliópolis, José Mendonça Dantas. A empresa vencedora do fornecimento da merenda escolar era de Feira de Santana, distante 220 kms. Felizmente o contrato foi desfeito em abril porque era impossível cumpri-lo. Mas como ficaram os dois meses sem alimentação das crianças? E em Paripiranga, com nosso prefeito Justino das Virgens Neto? Ele foi condenado à perda de função pública, suspensão de direitos políticos por seis anos, e pagamento de multa de mais de R$ 150 mil, em decorrência de uma Ação Civil Pública interposta pelo Ministério Público da Bahia por improbidade administrativa. O que fez Justino de errado para tamanha punição? Contratou serviço de locação de uma máquina retroescavadeira, sendo que a prefeitura tem um equipamento semelhante. Se o MP-BA olhar mais nitidamente, encontrará uma cassetada de casos parecidos por toda esta Bahia de meu Deus! E isto é ainda coisa do seu primeiro mandato. O contrato foi celebrado com a empresa Matheus Santos Santana EIRELI — EPP, pertencente ao Sr. Matheus Santos Santana, com dispensa de licitação n° 014/2017 e pagamento feito de R$ 152.490.00, nos dias 12 e 20/06/2017. Ou seja, quase 5 anos depois! A decisão foi do juiz André Andrade Vieira e ainda cabe recurso. Se Justino quiser ainda poderá se candidatar a deputado estadual ou federal. Eleito, ganhara Foro Privilegiado! Muitos prefeitos não buscam só um mandato para ajudar na construção de uma nação cada vez mais próspera e democrática!

Sim, leitor ou leitora, o custo da democracia é imensamente alto no Brasil. Não vale a pena ir para as urnas votar em corruptos, genocidas, farsantes, caloteiros e outras desgraças sociais! Não dá para imaginar que aquela foto com as malas cheias de dinheiro, ou aquela imagem do homem puxando uma maleta com 500 mil, ou as delações de empresários corruptores, ou a decretação de sigilos por 100 anos sobre determinadas ações do governo, ou que a fala de um presidente sobre um palanque prometendo não cumprir ordens da Justiça são pequenas coisas que não devemos considerar. Pior, não dá para colocar a culpa no juiz ou no promotor que resolveu denunciar tudo. Precisamos nos desgarrar do processo para se opor a ele, colocando a lógica no lugar na paixão. Além de economizar uma boa grana, ajudaremos a consolidar, de fato, a democracia no Brasil.