É impossível ir a Poço Verde e não gostar do seu povo. (Foto: Google Maps) |
A primeira vez que visitei Poço Verde foi de passagem. Ensinava no Colégio Evencia Brito, em Ribeira do Pombal, e seguia viagem para Aracaju, capital sergipana. Lá se vão quase 40 anos. Depois, já morando em Heliópolis, Poço Verde passou a ser resenha quase diária em minha vida, principalmente quando fui aprovado no vestibular da Universidade Federal de Sergipe. Saía segunda-feira cedo, pegava o caminhão de Daniel, que recolhia leite em Heliópolis, e adentrava num ônibus da Empresa Nossa Senhora de Fátima, da Praça do Triângulo para a capital. Só havia asfalto de Simão Dias em diante.
Sou, pois, testemunha do crescimento vivido pela cidade. Além disso, fui professor do Colégio Estadual Professor João de Oliveira, o que me permitiu o uso de uma lupa para entender suas entranhas. Quanto mais mergulhava no âmago do município, melhor entendia sua gênese. Poço Verde é o encontro de cores humanas diversas, tipicidade comum das regiões de fronteira. Aprendi a gostar da cidade a partir do seu povo, da cultura do lugar, da labuta na busca do pão, do desejo de continuar sempre tentando, mesmo que se precise esmurrar a faca mais vezes.
Não veja Poço Verde pelo espelho dos seus dirigentes. Os defeitos são muitos, embora admita que há uns poucos tentando fazer o melhor. A predominância, entretanto, é de espertalhões, exploradores da fé, transformadores da coisa pública em privada, literalmente. Os políticos de Poço Verde pouco contribuíram para o crescimento da cidade. Quem trouxe algo, levou sempre uma parte maior. Sem ofender a todos, há até os capazes de nomear a própria empregada como assessora parlamentar e ficar com boa parte dos seus vencimentos. Poderia até chamar isso de A Rachadinha do Rio Real.
Portanto, goste de Poço Verde através do seu povo. São as pessoas que sustentam a cidade, que antes do sol nascer se entregam ao que fazer, regateando o tostão, gotejando suor e lágrima como uma mãe alimentando o seu bebê. Do vaqueiro ao funcionário público, do comerciante ao consumidor, do professor ao varredor de rua brota a riqueza cultural e financeira. Os créditos da evolução devem ser dados ao povo. Os dirigentes, entretanto, têm falhado com esse povo quase sempre.
O poçoverdense não é diferente do pombalense, do heliopoliense, do cícero-dantense ou do fatimense. Sofremos as mesmas angústias. Até os políticos fazem o mesmo processo político e, igualmente, são ingratos. Poucos conseguem devolver ao povo a confiança recebida, inclusive por várias vezes. Quando aparece um administrador que faça alguma coisa certa, ficamos tão gratos que até o elevamos à categoria de ser superior, incomum, genial. Nem mesmo percebemos que ele está apenas fazendo sua obrigação.
E assim caminhou Poço Verde nesta trajetória de 68 anos. Somados os altos e baixos, acho que chegamos a um saldo positivo e isto nos credencia a acreditar que haveremos de continuar a trajetória de crescimento e positividade. Haverá perrengues? Sim. Nenhuma estrada é perfeita! Sem falar que há muitas estradas, e nem todas são perfeitas. Alguém vai a Tobias Barreto ou vem para Heliópolis?