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Ádria, o último adeus!

Do Tiradentes como herói ao ser comum

Tiradentes, agindo hoje, seria visto como herói ou otário?

Numa manhã de sábado, há exatos 229 anos, o alferes Joaquim José da Silva Xavier, dentista, membro do levante conhecido por Inconfidência Mineira, caminhava pelas ruas de Ouro Preto, em Minas Gerais. Foi exposto nas ruas antes de ser levado ao cadafalso. Seria enforcado por ordem de Dona Maria I, a rainha louca que nada fazia sem antes rezar. Joaquim José era conhecido pelo nome popular de Tiradentes e foi executado naquele dia sob a acusação de trair a coroa. Virou herói nacional. Em vida pregava a liberdade, a independência de Minas e o fim do regime monárquico. Pagou com a vida.

Não há mais Tiradentes. Os heróis de Cazuza, no tempo e espaço dele, morreram de overdose. No meu tempo e espaço, procuro homens comuns, seres reais, que apenas cumpram com suas obrigações. Procuro mulheres que criem crianças para, no futuro, cumprirem com as obrigações. Coisas comuns. Quero que quem vá para a escola estude, que quem ensine professe o conhecimento, que os pastores guiem com o exemplo, que os juízes julguem dentro das leis, que os protocolos científicos sejam seguidos para salvar os enfermos, que o comerciante lucre o que for justo, que o administrador público seja probo, que a democracia seja nossa palavra de ordem. Coisas comuns que parecem muito distantes.

Trinta anos antes da nossa independência, um homem dava sua vida por um país melhor e virou herói nacional. Nossos heróis hoje desviam recursos da merenda escolar, recebem propinas de empreiteiros, traficam drogas até em aviões das Força Armadas, deturpam a Constituição para permitir a liberdade de outros supostos heróis. Os heróis da nossa era destroem florestas para que a boiada passe, vendem feijões abençoados para curar doenças, negam a ciência, a democracia e as liberdades individuais. Nossos heróis estão armados até os dentes para buscar uma liberdade que nos tira outra liberdade e pedem para que façamos o que eles não conseguem fazer. Nossos heróis roubam, mentem, traficam, matam, detestam seres humanos e animais. Nossos heróis odeiam o outro.

A deturpação da palavra herói nos dias de hoje faz com que as pessoas de boa vontade enxerguem no homem ou mulher comuns a salvação da nossa nação. É só perceber que, se existisse hoje e praticasse o que o levou à forca, Tiradentes seria considerado um grande otário ou babaca.