Landisvalth Lima
Jon Snow (Kit Harington) morto pelos companheiros da Guarda da Noite (foto:HBO) |
Não há nada mais difícil e
complicado que trotar com a realidade. O caminho da fantasia é sempre mais
fácil porque o real é aquele soco no estômago na hora que a gente menos espera.
E vou aqui usar a fantasia para explicar a realidade. Na série Guerra dos Tronos,
da HBO, Jon Snow, olhando para o futuro, é assassinado pelos próprios
companheiros por convencer os Selvagens a se unir à Guarda da Noite. Para Jon,
o inimigo maior eram os Vagantes Brancos. Seus companheiros estavam dominados
pelo ódio do passado e o viam como um traidor. A ida de Zé do Sertão para o PT,
em pleno dia das mães, revela a cada dia a máxima de que a vida imita a arte.
Longe de mim está a ideia de
comparar Jon Snow com Zé do Sertão. O primeiro é um nobre bastardo, de
personalidade humanística, sem sede para ocupar cargos. Sempre foi focado no
objetivo de proteger Westeros. O nosso personagem real é o único filho
legítimo, sobrevivente das agruras deste solo amargurado de desesperança
provocada por tanta esperança malograda. Outrora libertador, progressista, estrada
para o futuro de Heliópolis e região, hoje não passa de um náufrago, agarrado
ao que sobrou no seu mar de equívocos, regado pelas enxurradas de egocentrismo.
Mas todos precisam sobreviver, e
o vice-prefeito sabe disso. Já ele dialogava com uma oposição sem rumo, guiada
por deputados calcados numa fantasia, que beira o ridículo, pautada numa agenda
que prega a soltura do até então maior corrupto da nossa história. Para
completar, vai para o ninho onde dois ex-prefeitos enfrentam batalhas na
justiça, um deles laureado pela Operação 13 de Maio. Aproveitando o governo
vacilante do prefeito Ildinho, que teve a oportunidade nas mãos de mudar tudo
isso, Zé do Sertão se agarra ao único pedaço de madeira que lhe apareceu em
pleno naufrágio ideológico: o PT.
Do ponto de vista político, a
oposição pode não ter ganhado nada. A ida de Zé do Sertão faz o mesmo efeito
que fez para Ildinho: o número de adesões é sempre menor que o número de
desgostosos. O vice-prefeito tem muitos inimigos políticos e isso pode
comprometer a oposição. A adesão de um Mundinho do Tijuco dá muito mais crédito
hoje a qualquer grupo, embora isso esteja distante de ser política mesmo. Entre
Zé do Sertão e Mundinho do Tijuco o que há de diferente é o cargo de vice-prefeito.
Foi isso que o PT viu. Não haverá alteração significativa de votos. O
vice-prefeito ganha mais indo para o PT que o partido recebe com o novo
filiado. Ganha a oposição, como um todo, por mostrar-se viva para o próximo
embate.
Num município onde mudar é
apenas discurso, o mais velho se une com o velho de sempre. A política é apenas
um grande negócio, ou, como alguns costumam dizer muito bem, um simples jogo de
interesses. Os comuns torcem sempre imaginando alguma mudança, mas também não
ousam mudar o voto e acabam confirmando o de sempre. Como a vida imita a arte,
Jon Snow voltou do mundo dos mortos para combater os mortos nocivos aos vivos.
O vice-prefeito renascerá também ou será apenas mais um vagante branco?