Com ajuda do Rotary
Internacional, Nadya Andrade Filipe veio ao Brasil para aprimorar o Português e
realizar o sonho de ser médica
Nadya Andrade Filipe veio do Timor-Leste e estuda no Colégio do Salvador, em Aracaju-Se. (foto-montagem: Landisvalth Lima) |
O nome dela é Nadya Andrade
Filipe, estudante do Colégio do Salvador, em Aracaju. Ela veio do outro lado do
mundo, do último país a ter a Língua Portuguesa como oficial: O Timor-Leste.
Nadya veio para o Brasil graças a um intercâmbio promovido pelo Rotary
Internacional. Todos os anos, mais de 8.000 jovens viajam para países
diferentes, patrocinados por Rotary Clubs, com o objetivo de estreitar os laços
de amizade e fraternidade entre as diversas nações em todo o mundo. Nadya foi
uma de três selecionados o ano passado e veio para a cidade de Aracaju, em
Sergipe. Ela está matriculada no 3º ano do Ensino Médio do Colégio do Salvador,
mas já concluiu os estudos medianos em Dili, capital do Timor-Leste, no colégio
Santa Madalena de Canossa. Os outros dois estudantes estão em São Paulo.
O país de onde veio Nadya tem
nome pleonástico. Timor vem do indonésio timur,
que significa leste. O nome foi
aportuguesado para Timor e acabou ficando Timor-Leste. Em tétum, idioma mais
falado por lá, o nome do país é Timor
Lorosa'e, este segundo nome também significa leste. Situado na ilha de
Timor, no continente asiático, o território montanhoso do Timor-Leste só possui
fronteira terrestre com a Indonésia. Ex-colônia portuguesa, o país é o único da
Ásia que tem o Português como idioma oficial, apesar de ser falado por apenas
10% da população nacional. Com isso, a nação é uma das integrantes da
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Nadya Filipe está com 17 anos.
Ela nasceu quando o país já havia se livrado do domínio indonésio. O
Timor-Leste se tornou independente em 2002. Essa conquista ocorreu após vários
anos de lutas contra os colonizadores. Os portugueses foram os primeiros a
ocupar o território, em 1859, realizando a exploração de madeiras nobres, fato
que provocou a destruição da mata local. Entre os anos de 1975 a 1999, a
Indonésia invadiu o Timor Leste, iniciando uma onda de terror naquele país. O
ensino do idioma local, o tétum, foi proibido, execuções em massa foram
realizadas e ocorreu a destruição da infraestrutura. Nadya estava com 1 ano de
idade quando o país conquistou sua independência, mas ainda sofreu quando implodiu
a guerra civil pelo domínio político do país. Com seis anos, Nadya fugiu com a
família para uma ilha.
Enquanto Nadya estuda aqui no
Brasil, Timor-Leste vive o seu momento democrático. Ocorreram eleições
antecipadas esta semana e a Aliança de Mudança para o Progresso (AMP) está consolidando
uma maioria absoluta, com 49,33% dos votos. A contagem dos boletins das
eleições antecipadas deste sábado (12) em Timor-Leste está na reta final, já
com 96% dos votos contados e deve legitimar a liderança de Xanana Gusmão, um
dos nomes da luta pela independência. Na manhã deste domingo, a coligação AMP,
liderada por Xanana, tinha 285.534 votos, à frente da Frente Revolucionária do
Timor-Leste Independente (Fretilin), com 198.745 votos, ou seja, 34,33% do
total. Em terceiro lugar, surge o Partido Democrático (PD) com 45.884 votos
(7,93%) e depois a Frente de Desenvolvimento Democrático (FDD), com 32.706
votos (5,65%).
Aqui no Brasil, Nadya se prepara
para fazer um curso de nível superior. Ela informa que lá existem vários
cursos, desde Medicina até Letras-Português. A dificuldade relatada por ela é
que, embora o Português seja ensinado desde a pré-escola, nos cursos superiores
os professores falam o Tétum, em alguns casos até o inglês. Nadya veio ao
Brasil não só para aprimorar, mas também para conhecer um pouco do mundo e
contribuir para a melhoria de sua comunidade. Por isso ela quer fazer Medicina.
Embora já tenha sua vaga reservada para o curso de engenharia mecânica, ela
acha que prestará melhor serviço como médica.
Nadya Andrade Filipe é filha de
um empresário da construção civil, Francisco Honório. Sua mãe é funcionária de
um departamento de importação e exportação, uma aduana, Adelina Andrade.
Curioso é a quantidade de idiomas que eles precisam falar no Timor. Adelina, Francisco,
Nadya e sua irmã mais nova, Michela, falam quatro idiomas, o Português, o Tétum,
o Indonésio e o Inglês. Quando voltar em janeiro de 2019 para a sua cidade
natal, Dili, capital do Timor, Nadya terá uma extraordinária bagagem de
conhecimentos. Ela diz que guardará para sempre coisas da nossa cultura, como o
nosso forró, e tem uma definição para o povo sergipano: “pessoas lindas,
simpáticas e engraçadas”. Ela está esperando a época certa para aprender a
dançar forró. Não faltarão professores.
Lá no Timor-Leste também existe um exame
nacional do ensino médio. Do resultado que obteve no ano passado, Nadya está
apta a cursar Engenharia Mecânica. Como deseja Medicina, Nadya fará novamente
e, desta vez, acredita que conseguirá. Apesar de gostar muito de Aracaju, a
garota do Timor fala de Dili com emoção. Diz que a cidade foi reconstruída e
hoje tem shoppings, largas avenidas e uma população que chega a 280 mil
habitantes, sendo a maior cidade do país. O Timor-Leste voltou a ter uma
população crescente, inclusive com a volta de muitos que tiveram que abandonar
a ilha. Hoje, são 1 milhão e 300 mil habitantes, 500 mil a mais que há 19 anos.
No país há três canais de televisão com noticiário em Tétum e Português, mas
não há exibição de novelas brasileiras. Lá, os folhetins eletrônicos são de
Portugal ou da Indonésia.