A Sífilis está de volta |
Enquanto o dinheiro do povo
brasileiro está irrigando os bolsos dos canalhas, colocando a nossa saúde e
educação no lugar mais pobre da involução, uma doença, que chegou a ser considerada
do passado, voltou com força em pleno século XXI: a sífilis. No final de 2016,
o Ministério da Saúde admitiu que o Brasil vivia uma epidemia da doença. Em um
ano (2014-2015), o número de casos entre adultos aumentou 32,7%. Esse
crescimento, contudo, também pode ser observado em outros países. Nos Estados
Unidos, por exemplo, o aumento nesse mesmo período foi de 19%.
Chamada de “doença de mil
faces”, ou a “grande fingidora”, por causa da multiplicidade de sintomas, a sua
origem ainda é um mistério. Uma das hipóteses diz que teria sido levada da
América para a Europa pelos navegadores de Cristóvão Colombo. A face mais cruel da doença se apresenta
justamente entre recém-nascidos. A chamada sífilis congênita, passada de mãe
para filho, pode provocar abortos, partos prematuros, cegueira, surdez e até
mesmo microcefalia. Os últimos números de 2015 mostram que a doença foi
responsável pelo aborto e a morte de cerca de 1.500 bebês no Brasil.
No estágio mais avançado, ela
provoca comprometimento em órgãos como o cérebro e o coração. No passado,
muitas pessoas que foram diagnosticadas com problemas psiquiátricos, na
verdade, desenvolveram manifestações tardias da sífilis, e ainda hoje ela pode
ser confundida com Mal de Alzheimer, por exemplo. O grande artilheiro do
Botafogo, Heleno de Freitas, morreu por causa de complicações decorrentes da
doença.
A cura definitiva para a sífilis
só veio através da descoberta da penicilina (1928), usada em grande escala
durante a Segunda Guerra Mundial. Foi o primeiro antibiótico do mundo, mas hoje
tem despertado pouco interesse por parte da indústria farmacêutica devido ao
seu preço, considerado baixo no mercado. Atualmente, apenas a Índia e a China
produzem a matéria-prima para a penicilina, o que vem provocando ondas mundiais
de desabastecimento. Além disso, parece que a resistência ao antibiótico também
pode ser visto como mais uma causa do retorno da doença.
Longe dos holofotes, a doença,
que para muitos só existia nos livros de história, vai mostrando a sua face
cruel, devastando vidas e contando com a colaboração de políticos
inescrupulosos, que mais se preocupam em desviar o dinheiro da saúde, e do
terrível preconceito. Muitas gestantes com sífilis preferem não se identificar
e isso que revela bastante sobre antigos problemas que, de alguma forma, ainda
persistem no nosso século: o tabu que envolve o sexo e o embate entre
interesses econômicos e questões sociais.
(Com base em reportagem do
portal da EBC – Empresa Brasileira de Comunicação)