Poço Verde - Se |
Antes de mais nada, sou um
defensor intransigente da democracia. Com todas as suas imperfeições, ainda não
inventaram sistema sequer igual. Também registro que este artigo não generaliza
nada. Poço Verde teve alguns poucos e notórios administradores, alguns até
poderiam avançar mais, caso se libertassem das amarras de alguns sanguessugas,
ou carrapatos de poder.
E vou aqui aproveitar o gancho da
eleição municipal. Quando recebi as primeiras pesquisas internas, com ainda
Tiago Dória candidato à reeleição, Iggor Oliveira estava disparado com 66% da preferência.
O prefeito carregava parcos 20% e uma rejeição do tamanho de um prédio de 40
andares. Luís Américo tinha apenas 2% e 12% ainda estavam indecisos ou não
votavam em nenhum. O motivo todos sabiam. Sendo a prefeitura municipal o
principal empregador, não se pode admitir atrasos no pagamento de salários. Não
ofende apenas a dignidade do servidor como alimenta o caos em toda economia.
Com a entrada de Eduardo Milton,
os números foram gradativamente melhorando, a ponto de até se pensar numa
chegada final, com disputa sensacional. Dez dias antes da eleição, também numa
pesquisa interna, Iggor caía para 53%, Eduardo chegava aos 41%, Luís Américo
ainda com 2% e apenas 4% de indecisos ou que não votavam em nenhum. Fazíamos um
paralelo com o candidato do PSDB de São Paulo. Lá, o candidato cresceu e ganhou
no primeiro turno. Aqui aconteceu o voo da galinha.
Todos conheciam os motivos e
ninguém fez nada. O que parecia chegar numa disputa final aguerrida acabou numa
vitória tranquila, quase sonolenta e esperada. Imaginávamos que os servidores
seriam pagos com mil pedidos de desculpas e que a vitória de um ou de outro
estaria calcada num discurso voltado para resolver os eternos problemas de Poço
Verde. Não! Acabou virando uma eleição do voto de vingança a um péssimo administrador.
Tiago Dória foi, de fato, o maior cabo eleitoral de Iggor Oliveira.
Porque não dá para entender o isolamento
dado a Luís Américo. Qual a diferença pragmática entre ele e Iggor Oliveira?
São até da mesma família. Seria o poder econômico? Ou seria o fato de ser o
eleito filho de Everaldo Oliveira apenas? Talvez fosse o fato de Iggor estar
mais próximo da vitória. O povo não gosta de perder. Sei que uma coisa não fizeram:
analisar os programas de governo de um ou de outro. Também, na eleição passada,
Tiago Dória não foi eleito por sua competência, mas por ser indicado por Toinho
de Dorinha. Está aí o resultado. Quando vamos aprender?
Abro aqui ainda mais um
parênteses para dizer que não tenho ligações com nenhum dos candidatos. Se
votasse aqui em Poço Verde, votaria em Lourinaldo Lisboa, Ina Valéria,
Iranilde, Ceiça, Jorge Leal, Andreza,
Adriano, Jobeane, Oneas ou outro professor que aceitasse o desafio. Sairia até
candidato se fosse possível. Penso que se anda é para frente. O passado serve
para nos ajudar a construir o presente e projetar o futuro. Política não pode
ser o que estamos praticando por aqui. Chamem de outra coisa, política é que
não é!
Enfim, somos vítimas das nossas
próprias escolhas. Não duvido que Iggor Oliveira faça uma boa administração e
coloque Poço Verde nos trilhos. Seria uma grata surpresa, e ele estaria
colocando o nome dele na história, afastando de vez o fantasma de ser filho de
um administrador de comportamento republicano duvidoso. Só que ele não foi
eleito por ter um bom projeto, por ser considerado competente, por discutir
políticas públicas, por forjar um novo horizonte para o vale do Rio Real. Valeu
o voto da vingança, do oportunismo, das promessas de emprego, das negociatas
etc. Isto também poderia ter acontecido com os outros dois candidatos.
O processo eleitoral já passou. A
vida segue, e segue sufocada. O poçoverdense está descrente no futuro. A
economia está estagnada, a fé também. Estagnada está a mentalidade de muitos
políticos que não percebem o momento. Como podem ter a coragem de pensar em
aumento de vencimentos de prefeito, vice e vereadores a uma altura destas? Pagar
30 mil de salários a um gestor público numa terra com vários meses de salários
dos servidores atrasados é dar um tapa na cara do cidadão e dizer a ele que,
apesar de ser o produtor das riquezas do município, são os políticos os
principais destinatários destas benesses.