A revista Veja publicou nesta quinta-feira (8) uma
reportagem que mostra a decadência do Ensino Médio no Brasil. Segundo a
revista, o mapa do ensino divulgado pelo MEC é um sinal inequívoco de que é
preciso repensar o modelo brasileiro. A reportagem é assinada por Cecília
Ritto.
Veja informa que nos países que primam pela excelência, os
anos finais do ciclo escolar consolidam o conhecimento acumulado ao longo do
trajeto e mais: preparam os estudantes para se tornar gente pensante,
produtiva, inovadora. Oferecer um bom ensino médio é, portanto, crucial para
pavimentar o caminho do jovem, seja para a vida acadêmica ou qualquer ofício
que lhe dê bom rumo na vida. Essa é a história contada do ponto de vista do
ideal. A realidade no Brasil é muito mais árida, como mostra o novo Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) divulgado nesta quinta-feira.
Só para se ter uma idéia, matemática no ensino médio obteve
o pior resultado desde 2005. Não avançou um décimo. Ao contrário, retrocedeu.
Na última avaliação, referente a 2013, apenas 9% dos alunos apresentavam
aprendizado considerado adequado na disciplina, número que junta as escolas
públicas às privadas. Segundo os números de hoje, o porcentual é menor, entre
8% e 9%. Em 1999, eram mais: 12%. Já em português, houve leve melhora,
considerada insignificante do ponto de vista estatístico. Vista ao longo do
tempo, inclusive, a média caiu: em 2009 chegou a ser melhor.
Não precisa ninguém mais se preocupar em procurar culpados.
O adolescente que chega ao nível médio vem, em geral, com base fraca para
enfrentar os novos desafios intelectuais que se apresentam. A reportagem também
afirma que não há dúvida de que este modelo de ensino médio, uma “jabuticaba
brasileira”, é um grande equívoco. “O Brasil precisa fazer uma mudança radical
aí, e já”, afirma Mozart Neves Ramos, diretor do Instituto Ayrton Senna. “O
retrocesso em matemática significa uma queda no preparo dos alunos para o
século XXI, em que as matérias de exatas são fundamentais para inserir o
estudante no mundo”, reforça Priscila Cruz, diretora da ONG Todos pela
Educação.
Também a reportagem repete velhos chavões de que o ensino
médio brasileiro é o menos flexível do mundo. Todos os alunos seguem o
mesmíssimo enfadonho roteiro, independentemente de suas aptidões e interesses.
O problema começa com a engessada e volumosa grade de matérias: são treze
disciplinas obrigatórias, espremidas em um turno de quatro horas de aula. Mais
adiante o texto diz que, na prática, já se mediu, contando-se toda a perda de
tempo na escola, a jornada de estudos não passa de duas horas e meia, em média,
no Brasil. Em alguns países, o aluno tem mais liberdade para escolher as
matérias; noutros, pode optar entre tipos de escola diferentes, das mais
acadêmicas às mais técnicas. Então o problema está com o currículo ou com a
aplicabilidade da carga horária correta?
Ainda a reportagem informa que os outros dois níveis
testados pelo MEC foram o quinto e o nono ano do ensino fundamental. Os mais
novos tiveram avanço. Aumentaram 12 pontos a proficiência em língua portuguesa
e oito em matemática. Parte do progresso está ligado ao programa Pacto Nacional
pela Alfabetização na Idade Certa, que ensina a criança a ler e a escrever até
os oito anos. Presidente do Instituto Alfa e Beto, o especialista João Batista
Oliveira faz uma ponderação: “Nas séries iniciais fatores externos ao ensino,
como melhoria de renda e de escolaridade dos pais, pesam mais. Não é
conclusivo, portanto, dizer que houve um avanço no ensino propriamente.” E
completa: “Se estivéssemos diante de uma melhora relevante na sala de aula,
isso se refletiria também nas outras séries.” De fato, o segundo ciclo do
ensino fundamental, antigo ginásio, segue avançando, mas em ritmo lento.
Quanto ao ensino médio, já em 1950 o sistema daqui espantou
o prêmio Nobel de Física Richard Feynman (1918-1988), em viagem ao Brasil. Em
nenhuma outra parte, Feynman vira tanta matéria e tão pouco aprendizado – “um
paradoxo fadado ao fracasso”, concluiu. Passou da hora de mudar. A reportagem
também afirma que a boa notícia é que o atual ministro, Mendonça Filho,
trabalha por isso no Congresso, onde tramita um projeto de lei flexibilizando o
atual modelo. Ou seja, mais um projeto milagreiro. Na verdade, é preciso uma
mudança pontual, mas não se pode olhar para isso como a solução de tudo. O que
se deve fazer é voltar o ensino médio a formar técnicos para o mercado de
trabalho. Uma coisa na reportagem o ministro diz: “Urge a reforma do ensino
médio. Não se pode ficar passivo aguardando o ano letivo do próximo ano”.
Verdade. Já passou da hora, mas é preciso que a sociedade comece a fazer sua
parte. As instituições não estão ajudando a educação e, quando os resultados
negativos ficam ainda mais negativos, a coisa mais fácil é dizer que a culpa é
do professor. É preciso vencer a resistência de corporações que preferem deixar
tudo como está. Que não seja preciso esperar mais décadas e mais resultados
ruins para fazer o que parece óbvio.