Landisvalth Lima
O Senado aprovou nesta
quarta-feira (31) o impeachment de Dilma. Foram 61 votos a favor, sete a mais
do que os 54 necessários, e 20 contrários. Todos os senadores estiveram
presentes e nenhum se absteve. Com o resultado, Dilma é afastada
definitivamente da Presidência um ano e oito meses depois de assumir seu
segundo mandato. Eleito vice na chapa da petista em 2014, Temer deixa de ser
interino e assumiu definitivamente nesta tarde o cargo até o fim de 2018. Com
Dilma caem os sonhos da classe média de ver um país mais justo, mais humano e
para todos.
A história começa com Lula bem
lá atrás. Sindicatos, Une, partidos de esquerda, profissionais liberais e
várias instituições apostaram todas as fichas num governo democrático, popular
e humanista. Depois de três eleições perdidas, aprendendo com os erros, a
esquerda uniu-se a uma parcela do empresariado, também igualmente preocupada
com os rumos do segundo governo de FHC. Não deu outra. Lula vira presidente,
escolhido democraticamente, tanto para ser o candidato como para ser o
presidente. Seu primeiro governo foi fulminante no sentido de promover uma
grande distribuição de renda. Lula apostou no consumo e o país cresceu a níveis
nunca antes visto na história.
Paralelamente ao crescimento,
começam a surgir denúncias de aparelhamento do estado e corrupção em escala
também nunca vista na história do país. A cúpula esquerdista guiada por Lula
adotou um projeto de desgoverno para continuar no governo. Mensalão, petrolão e
outras desgraças tomaram conta da máquina pública. O PT, cada vez mais, fazia
campanhas milionárias. Parecia querer dominar todas as estruturas do país, além
de investir no populismo socialista dos países vizinhos e em Cuba.
Hoje sabemos que já não era um
projeto de governo. Usaram os recursos parcos do país para financiar um projeto
de domínio político. Pasadena, BNDES, Eletrobrás e tantas outras estatais foram
as galinhas de ouro da manutenção do poder e do enriquecimento ilícito de
algumas figuras carimbadas do socialismo mítico. Não era mais um grupo que
estava no poder. Era uma quadrilha que sugava o poder do povo brasileiro, o
trabalho de anos, a saúde da economia e o atendimento público em diversas
áreas. Os programas sociais foram apenas armadilhas para iludir o povo.
Dilma foi alçada à condição de
presidente, tirada do bolso do colete de Lula, porque era a administradora
perfeita: incapaz e arrogante. É um tipo que jamais vai fazer um mea culpa e
adora ser paparicada por puxadores de sacos. Todos os seus erros foram sempre
direcionados a alguém ou a algo. Rede Globo, revista Veja, O imperialismo
americano, a crise internacional, seus opositores, FHC, os derrotados que não
sabem perder, Eduardo Cunha e por aí vai. Com o seu pensador João Santana,
criava um país chamado Brasil distante de toda a realidade factual.
Com Dilma, veremos o capítulo
quase final de um sonho que não se concretizou, não porque os inimigos
quiseram, mas porque o PT e seus aliados nunca o sonharam realmente. A questão
era o poder pelo poder. Será difícil tão breve elegermos alguém em condições de
concretizar verdadeiramente este tão desejado sonho. É verdade que temos ainda
Marina Silva, Regulffe, Cristovão Buarque, Pedro Simon, Heloisa Helena, mas tão
distantes, separados por siglas que não têm forças dos polos que regulam econômica
e ideologicamente o Brasil. A elite está com quem estiver no poder e os
movimentos sociais ainda não acordaram. Vivem o mito do golpe que jamais
aconteceu, mera saída para esconder o fracasso do PT.
Um bom começo seria reconhecer
os erros e iniciar tudo por uma ótima mais moderna e que se coadune com o mediano
pensamento da esquerda inteligente e combativa, primando pela honestidade como
caminho primordial. Mas, o que se vê é a ex-presidente Dilma Rousseff afirmar,
em um duro pronunciamento feito no Palácio do Alvorada, em Brasília, na tarde
desta quarta-feira (31), que o impeachment é um "golpe parlamentar" e
prometeu fazer forte oposição ao governo Michel Temer (PMDB). "Eles pensam
que nos venceram, mas estão enganados. Sei que todos vamos lutar. Haverá contra
eles a mais firme, incansável e enérgica oposição que um governo golpista pode
sofrer", disse. Parece até o rugir de um leão. Mas quem não conseguiu mais
de 20 votos, num Senado onde já teve 53, está mais para gatinho. Esse falso
rugir é apenas fumaça para esconder o som de uma missa de réquiem dos sonhos de
uma geração inteira. Que o tempo a coloque no ostracismo.