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Neópolis - Cidades do Velho Chico - 31

O egocêntrico ou a lama no ventilador

                                            Landisvalth Lima
Tradução: Diga-me o que você pensa ser
e eu te direi o que você não é. 
O homem público precisa ter a consciência das suas limitações. O verdadeiro estadista é aquele que coloca suas necessidades no final da fila. O político moderno não pode ser alguém que satisfaça o seu partido, a sua família, a sua ideologia ou os seus amigos. Ele precisa ter como norte o bem comum, a sociedade como um todo.
Sei que o que afirmei no parágrafo anterior não vai mudar a mentalidade do personagem desta crônica, nem mesmo servir como base para medi-lo inferior ou superior a nenhum outro político de Heliópolis, mas espero que sirva de alerta para os políticos jovens de hoje que farão o amanhã. Nosso personagem servirá de exemplo de como não se deve jamais fazer política. Refiro-me à Zé do Sertão. Sei que ele não ficará nada satisfeito com o que direi aqui, mas espero que pelo menos reflita.
José Emídio dominou a política em Heliópolis e chegou a ser um dos nomes mais promissores da nossa região. Virou deputado estadual e teria condições de ir mais longe não fossem as patologias comuns que contaminam inúmeros dos nossos representantes públicos. Uma destas patologias é o egocentrismo. Numa comunidade carente como a nossa, é preciso fazer política pensando no outro. Foi com esse discurso que Ildinho venceu as eleições em 2012. Os administradores que lá estavam sofriam de narcisismo político. Viviam a se olharem nos espelhos das águas. Pegaram muita grana vinda de Brasília e se acharam eternos, poderosos. Corrupção, perseguição, mentira, achaque, desaforo, ostentação e outras doenças permitiram a união de vários grupos para uma tomada de poder. Zé do Sertão contribuiu plenamente.
A sua não eleição para vereador deveria servir como um alerta para um novo renascer. Heliópolis havia dado a ele uma nova chance em 2004. Estava naquele ano o divisor das águas entre a permanência como líder maior ou a decadência com recuperação quase impossível. Não soube aproveitar bem. Foi derrotado na reeleição, inclusive com o meu apoio e o de Ana Dalva, em 2008. Desapareceu. Parou o trabalho político. Deve ter achado que o povo deveria votar nele por obrigação ou achou que ainda estava na crista da onda. Embora tenha perdido em 2012 para vereador, seu grupo foi fundamental para a vitória de Ildinho, como todos os outros foram. Foi uma vitória apertada. Apenas 137 votos de frente.
Como primeiro suplente e como ex-prefeito, Zé do Sertão recebeu tratamento privilegiado na administração do prefeito Ildinho. Seu partido recebeu a maior parte das secretarias. Sua esposa virou chefe de gabinete e sua filha diretora de cultura, fora tantos outros cargos que não cabem aqui citar. Nenhum dos grupos de apoio a Ildinho recebeu tanto privilégio. Então, era hora de arregaçar as mangas e reconstruir sua carreira política. Além do mais, Ildinho chamou Ana Dalva para a secretaria de saúde. Todos sabem que não foi apenas pela competência dela. Ildinho fez uma jogada para prestigiar ambos. Zé do Sertão virou vereador. Era a senha para a volta por cima? Nada disso.
Agora, depois de um trabalho muito bom de Ildinho na prefeitura, considerado pelas pesquisas o prefeito com os melhores índices na região, eis que Zé do Sertão se transforma, do dia para a noite, na maior dor de cabeça para o grupo que está no poder. Primeiro queria ser o vice-prefeito, com a assinatura de Ildinho. Soube que só abriria mão para um vice de fora do grupo, com real potencial de votos. Depois, passou a querer que Ildinho o apoiasse para ser o candidato a prefeito. Mas onde está o erro? Querer ser candidato do grupo não é nenhum pecado. Verdade. O problema é como a coisa está sendo feita.
José Emídio pegou um partido, o PROS, e colocou os vereadores Valdelício Dantas da Gama e José Clóvis Pereira, além dele próprio. Com os três, esperava pressionar Ildinho. Para completar, sua filha, Joana Darte, ou Jane de Zé Sertão, vive nas redes sociais a dizer que é candidata a vereadora de oposição, dizendo cobras e lagartos do prefeito, como se ela fosse a última bolacha do pacote. Chegou a afirmar que o vice-prefeito Gama Neves apoiaria Zé do Sertão para prefeito. Seria ingenuidade de Jane? Esperteza é que não é! Soou como ingratidão das brabas e gerou um mal-estar enorme no grupo. Até o deputado Marcelo Nilo entrou na história e estamos esperando uma solução pacífica. Depois disso tudo, Zé do Sertão parece estar cedendo, mas só parece. Falta o depoimento oficial.
É salutar repetir que qualquer eleitor de Heliópolis tem o direito de se candidatar a prefeito. Se Zé do Sertão dissesse que seria candidato, era só entregar os cargos, dizer até a vista e partir para luta. Pronto. O estranho é sua filha enlamear a administração de Ildinho, colocar pressão, como se ela e o pai fossem fundamentais para a reeleição dele. São importantes, mas quem é fundamental numa eleição é a vontade da maioria do povo. Alguém pode até dizer que Jane é maior de idade e pode se posicionar politicamente. Se é verdade, então Zé do Sertão não tem mais nem o controle político de sua família.
Dizem que fogo amigo, em política, dura pouco. É o tempo de uma conversa, mas se alguém estava esperando um motivo na oposição para disputar a eleição já tem. Zé do Sertão e Jane prestaram enormes serviços aos opositores. Se a coisa não for estancada, pode virar o principal cabo eleitoral de Mendonça ou Gama Neves, ou dos dois. Era a munição que eles esperavam. Sei que Ildinho ainda é o franco favorito da disputa, mas isso abalou muito o grupo. Não é pecado pleitear, mas é preciso cuidado para agir. Faltou à Zé do Sertão a humildade. Reconhecer que ele não é mais protagonista. Mesmo para vice, seu nome está no fim da fila. Poderia até ser ele, mas a distância agora é enorme. Porque ninguém imaginava que um dos principais articuladores da eleição de Ildinho tenha feito tal barbeiragem. Não conseguiu controlar seu egocentrismo, nem o da filha.
Sou até suspeito em falar, mas Ana Dalva deu exemplo quando a Rede Sustentabilidade sugeriu a ela que fosse candidata a prefeita. Ela foi firme ao dizer que já tinha um compromisso com a reeleição de Ildinho, pela boa administração que ele faz e pela necessidade que o município tem. Não era a sua hora. Um dia ela será, na hora certa. O tempo é senhor. Ironia é saber que o grupo tinha, e muitos ainda têm, Ana Dalva como a vereadora que não ficaria no grupo. Ela vive 24 horas tentando corrigir muitas besteiras feitas por alguns, que jogam lama no ventilador. Essa lama jogada por Zé do Sertão, só ele mesmo pode consertar. Espero que ele use sua experiência de prefeito, deputado e vereador para sanar este episódio. Caso se arvore de bradar seu ódio contra este articulista e contra este blogue, colocando-se como vítima, nada vai mudar. Só esperaremos a ferida se fechar para tentarmos continuar a luta árdua, diária, quase injusta, de tentar transformar uma realidade cruel, dolorida, em que vive o nosso povo.