Landisvalth Lima
Tradução: Diga-me o que você pensa ser e eu te direi o que você não é. |
O homem público precisa ter a
consciência das suas limitações. O verdadeiro estadista é aquele que coloca
suas necessidades no final da fila. O político moderno não pode ser alguém que
satisfaça o seu partido, a sua família, a sua ideologia ou os seus amigos. Ele
precisa ter como norte o bem comum, a sociedade como um todo.
Sei que o que afirmei no
parágrafo anterior não vai mudar a mentalidade do personagem desta crônica, nem
mesmo servir como base para medi-lo inferior ou superior a nenhum outro
político de Heliópolis, mas espero que sirva de alerta para os políticos jovens
de hoje que farão o amanhã. Nosso personagem servirá de exemplo de como não se
deve jamais fazer política. Refiro-me à Zé do Sertão. Sei que ele não ficará
nada satisfeito com o que direi aqui, mas espero que pelo menos reflita.
José Emídio dominou a política
em Heliópolis e chegou a ser um dos nomes mais promissores da nossa região.
Virou deputado estadual e teria condições de ir mais longe não fossem as
patologias comuns que contaminam inúmeros dos nossos representantes públicos.
Uma destas patologias é o egocentrismo. Numa comunidade carente como a nossa, é
preciso fazer política pensando no outro. Foi com esse discurso que Ildinho
venceu as eleições em 2012. Os administradores que lá estavam sofriam de
narcisismo político. Viviam a se olharem nos espelhos das águas. Pegaram muita
grana vinda de Brasília e se acharam eternos, poderosos. Corrupção,
perseguição, mentira, achaque, desaforo, ostentação e outras doenças permitiram
a união de vários grupos para uma tomada de poder. Zé do Sertão contribuiu
plenamente.
A sua não eleição para vereador
deveria servir como um alerta para um novo renascer. Heliópolis havia dado a
ele uma nova chance em 2004. Estava naquele ano o divisor das águas entre a
permanência como líder maior ou a decadência com recuperação quase impossível.
Não soube aproveitar bem. Foi derrotado na reeleição, inclusive com o meu apoio
e o de Ana Dalva, em 2008. Desapareceu. Parou o trabalho político. Deve ter
achado que o povo deveria votar nele por obrigação ou achou que ainda estava na
crista da onda. Embora tenha perdido em 2012 para vereador, seu grupo foi
fundamental para a vitória de Ildinho, como todos os outros foram. Foi uma
vitória apertada. Apenas 137 votos de frente.
Como primeiro suplente e como
ex-prefeito, Zé do Sertão recebeu tratamento privilegiado na administração do
prefeito Ildinho. Seu partido recebeu a maior parte das secretarias. Sua esposa
virou chefe de gabinete e sua filha diretora de cultura, fora tantos outros
cargos que não cabem aqui citar. Nenhum dos grupos de apoio a Ildinho recebeu
tanto privilégio. Então, era hora de arregaçar as mangas e reconstruir sua
carreira política. Além do mais, Ildinho chamou Ana Dalva para a secretaria de
saúde. Todos sabem que não foi apenas pela competência dela. Ildinho fez uma
jogada para prestigiar ambos. Zé do Sertão virou vereador. Era a senha para a
volta por cima? Nada disso.
Agora, depois de um trabalho
muito bom de Ildinho na prefeitura, considerado pelas pesquisas o prefeito com
os melhores índices na região, eis que Zé do Sertão se transforma, do dia para
a noite, na maior dor de cabeça para o grupo que está no poder. Primeiro queria
ser o vice-prefeito, com a assinatura de Ildinho. Soube que só abriria mão para
um vice de fora do grupo, com real potencial de votos. Depois, passou a querer
que Ildinho o apoiasse para ser o candidato a prefeito. Mas onde está o erro?
Querer ser candidato do grupo não é nenhum pecado. Verdade. O problema é como a
coisa está sendo feita.
José Emídio pegou um partido, o
PROS, e colocou os vereadores Valdelício Dantas da Gama e José Clóvis Pereira,
além dele próprio. Com os três, esperava pressionar Ildinho. Para completar,
sua filha, Joana Darte, ou Jane de Zé Sertão, vive nas redes sociais a dizer
que é candidata a vereadora de oposição, dizendo cobras e lagartos do
prefeito, como se ela fosse a última bolacha do pacote. Chegou a afirmar que o
vice-prefeito Gama Neves apoiaria Zé do Sertão para prefeito. Seria ingenuidade
de Jane? Esperteza é que não é! Soou como ingratidão das brabas e gerou um
mal-estar enorme no grupo. Até o deputado Marcelo Nilo entrou na história e
estamos esperando uma solução pacífica. Depois disso tudo, Zé do Sertão parece
estar cedendo, mas só parece. Falta o depoimento oficial.
É salutar repetir que qualquer
eleitor de Heliópolis tem o direito de se candidatar a prefeito. Se Zé do
Sertão dissesse que seria candidato, era só entregar os cargos, dizer até a
vista e partir para luta. Pronto. O estranho é sua filha enlamear a administração
de Ildinho, colocar pressão, como se ela e o pai fossem fundamentais para a
reeleição dele. São importantes, mas quem é fundamental numa eleição é a
vontade da maioria do povo. Alguém pode até dizer que Jane é maior de idade e
pode se posicionar politicamente. Se é verdade, então Zé do Sertão não tem mais
nem o controle político de sua família.
Dizem que fogo amigo, em
política, dura pouco. É o tempo de uma conversa, mas se alguém estava esperando
um motivo na oposição para disputar a eleição já tem. Zé do Sertão e Jane
prestaram enormes serviços aos opositores. Se a coisa não for estancada, pode
virar o principal cabo eleitoral de Mendonça ou Gama Neves, ou dos dois. Era a
munição que eles esperavam. Sei que Ildinho ainda é o franco favorito da
disputa, mas isso abalou muito o grupo. Não é pecado pleitear, mas é preciso
cuidado para agir. Faltou à Zé do Sertão a humildade. Reconhecer que ele não é
mais protagonista. Mesmo para vice, seu nome está no fim da fila. Poderia até
ser ele, mas a distância agora é enorme. Porque ninguém imaginava que um dos
principais articuladores da eleição de Ildinho tenha feito tal barbeiragem. Não
conseguiu controlar seu egocentrismo, nem o da filha.
Sou até suspeito em falar, mas
Ana Dalva deu exemplo quando a Rede Sustentabilidade sugeriu a ela que fosse
candidata a prefeita. Ela foi firme ao dizer que já tinha um compromisso com a
reeleição de Ildinho, pela boa administração que ele faz e pela necessidade que
o município tem. Não era a sua hora. Um dia ela será, na hora certa. O tempo é
senhor. Ironia é saber que o grupo tinha, e muitos ainda têm, Ana Dalva como a vereadora
que não ficaria no grupo. Ela vive 24 horas tentando corrigir muitas besteiras
feitas por alguns, que jogam lama no ventilador. Essa lama jogada por Zé do
Sertão, só ele mesmo pode consertar. Espero que ele use sua experiência de
prefeito, deputado e vereador para sanar este episódio. Caso se arvore de
bradar seu ódio contra este articulista e contra este blogue, colocando-se como
vítima, nada vai mudar. Só esperaremos a ferida se fechar para tentarmos
continuar a luta árdua, diária, quase injusta, de tentar transformar uma
realidade cruel, dolorida, em que vive o nosso povo.