Aliny Gama, do UOL.
Denilton Araquan foi morto pela polícia no último dia 12 de maio no Piauí (Foto: blog O povo com a notícia) |
No sertão nordestino, um grupo de
assaltantes de bancos, que se autodenomina "Novo Cangaço", tem atuado
de forma violenta, explodindo caixas eletrônicos, fazendo moradores reféns e ameaçando
matar policiais locais.
Eles contam com explosivos,
carros blindados e armamento pesado para suas ações. Mesmo procurados, eles
ameaçam de morte policiais em recados enviados pelas redes sociais.
"Como a bala entra em nós,
entra neles também. A juventude do "Novo Cangaço" vai voltar e vai
cobrar. Nós vamos roubar esse banco e vamos fazer latrocínio. Agora, "o
polícia' que estiver de plantão vai pagar por essa covardia [morte de
integrante]", diz um dos integrantes da quadrilha.
"Vamos matar qualquer PM na
rua, não importa se trabalha no Corpo de Bombeiros. Nós não somos covardes como
vocês, vamos mostrar como se briga, como é o verdadeiro cangaço",
continuou o foragido. Veja a íntegra da gravação.
Reféns em Curimatá
No dia 5 de maio, a quadrilha
invadiu a pacata cidade de Curimatá, região sul do Piauí, provocando pânico na
população. Usando duas caminhonetes, com as carrocerias cheias de material que
seria usado na explosão da agência do Banco do Brasil, os criminosos fizeram os
reféns as pessoas que estavam em bares, transformando-as em escudo para se
proteger da polícia.
"Eles colocaram os reféns em
fila na frente da agência. Depois da ação, os reféns foram espalhados pelos
carros, para dificultar a ação da polícia", contou comandante do
policiamento do interior do Piauí, coronel Paulo de Tarso.
A quadrilha, composta por 14
pessoas, conseguiu, então, explodir os caixas eletrônicos, mas, na saída da
cidade foi interceptada pela Polícia Militar.
Seis pessoas foram presas, cinco
morreram – entre os mortos estava o líder do grupo Denilson Araquan – e três
conseguiram fugir a pé. Foram
apreendidos três fuzis, uma submetralhadora, uma pistola e dezenas de munições,
além de material explosivo, rádios comunicadores e certa quantidade de
dinheiro.
Os fugitivos se esconderam na
zona rural do município Morro Cabeça do Tempo (PI) e Avelino Lopes (PI), na
divisa com a Bahia. As polícias do Piauí, Pernambuco e Bahia estão na caça ao
restante do grupo.
Durante a fuga, que já dura 20
dias, moradores relataram que eles chegam às casas dos sítios exigindo comida e
água, fazem ameaças para ninguém informar à polícia onde estão e seguem a pé em
direção à Bahia. A polícia não informou os nomes dos foragidos. Mas pelo menos
um deles, Cícero Henrique, foi identificado pela própria mãe que pede que os
policiais o prendam.
Edvan José dos Santos, vulgo "VANVAN ARAQUAN", e
Anaxandro Pereria Matias , vulgo "NEGUINHO DO IBÓ",
também fora mortos pela polícia dia 10 de maio,
(Foto: blog O povo com a
notícia)
|
"Me ajude e traga meu filho
preso porque eu não vou querer advogado para tirar ele não. Eu quero que ele
cumpra a sentença pelo que ele fez, eu vou ajudar ele na prisão, ele vai pagar
pelo que ele errou. Mas sou uma mãe aflita e peço, eu só tenho um filho que
Deus me deu ele", pede a mulher. Ouça o vídeo que ela divulgou nas redes
sociais.
Violentos, irredutíveis e
ramificados
"A característica desse
grupo criminoso é que os integrantes não se entregam, mesmo encurralados, eles
resistem e preferem morrer a serem presos. Eles são extremamente violentos.
Porém, a polícia está preparada para contê-los. Não nos intimidamos com os recados
que eles estão enviando pelo WhatsApp", afirmou o coronel Carlos Augusto
Gomes de Souza, comandante da Polícia Militar do Piauí.
A quadrilha estaria fazendo uma
espécie de revezamento nas cidades onde encontram menos dificuldade para
praticar os crimes. São municípios com uma ou duas agências bancárias, que não
possuem efetivo policial suficiente e onde a delegacia não funciona 24h.
"Observamos que nas cidades
onde eles conseguem roubar dinheiro mais fácil, eles sempre voltam a
atuar", disse o delegado José Rivelino Moraes, da Dinter (Diretoria Integrada
do Interior) de Pernambuco.
A quadrilha é originária do
sertão de Pernambuco, da região do "polígono da maconha", e atua em
cidades que estão na divisa do Estado com a Bahia, o Ceará e o Piauí.
São cerca de 40 integrantes,
todos de uma mesma família: os Araquan. Nas décadas de 1980 e 1990, disputas
deles com outras famílias sertanejas como os Benvindo, Cláudio, Gonçalves,
Nogueira e Russo resultaram em dezenas de assassinatos em cidades como Floresta,
Belém do São Francisco e Cabrobó, todas no interior de Pernambuco.
Segundo a Polícia Civil de
Pernambuco, o "Novo Cangaço" é subdividido por setores de atuação.
Uma parte é especializada em arrombamentos a bancos e outra em assaltos a
agências bancárias e Correios, além disso, atuam no tráfico de drogas e
armamentos. "Cada setor tem um chefe. Nunca vão todos para a mesma ação
criminosa, pois caso aconteça de serem presos ou morrerem, o restante do grupo
continua a atuar", disse o delegado.
Os integrantes teriam também
ligações com milícias no Paraguai e na Bolívia, onde conseguiriam as armas e
treinamentos para manuseá-las.
Medo em Curimatá
Após o arrombamento ao banco em
Curimatá, moradores tem evitando ficar até tarde nas ruas. Bares, lanchonetes e
restaurantes também têm fechado cedo suas portas. Dono de um bar no centro da
cidade, que pediu para não ser identificado, conta que quando os bandidos
chegaram à cidade atiraram para o alto e desceram dos carros pegando quem
estava sentado nas mesas do estabelecimento dele.
"Foi um terror porque
ninguém sabia o que eles poderiam fazer com as pessoas, pegaram homens e também
mulheres. Depois disso, o movimento do bar diminuiu e as pessoas não demoram
muito aqui como antes. Eu até prefiro fechar cedo para não correr risco, pois
os ladrões disseram que iam voltar", disse o comerciante.
Uma moradora da rua Barão do
Paraim, no centro, onde fica a agência bancária, contou que estava no terraço
da casa quando os carros da quadrilha passaram em alta velocidade. "Como
aqui no interior quase não tem movimento, a gente observa logo quando algo
diferente está acontecendo. Estávamos no terraço e corremos para dentro de casa
com medo de tiros", disse Maria dos Anjos Moreira, 53.