Fernando Pimentel e Carolina Pereira. Corrupção chega ao PT de Minas Gerais (foto: Época) |
Turma do homem forte de Pimentel
tinha até contrato com a lobista Erenice Guerra. A Polícia Federal descobre um
esquema milionário operado por amigo do governador de Minas Gerais. O
Ministério Público acusa a mulher de Pimentel de conivência com os desvios
FILIPE COUTINHO- da revista ÉPOCA
Na manhã desta sexta-feira (29),
quando subiram pelas escadas do Bloco B da 114 Sul em Brasília, rumo ao
confortável apartamento no 4º andar, os agentes da Polícia Federal sabiam que
adentrariam um endereço que guarda alguns dos maiores segredos da República. O
apartamento é uma espécie de sede paralela do Palácio das Mangabeiras,
residência oficial do petista Fernando Pimentel, governador de Minas Gerais.
Está registrado em nome da mulher dele, a jornalista Carolina de Oliveira
Pereira (na foto acima com o marido). Durante o primeiro mandato da presidente
Dilma Rousseff, quando era o poderoso ministro do Desenvolvimento e Comércio
Exterior, Pimentel e sua então namorada Carolina promoviam jantares discretos
com políticos, empresários e lobistas, segundo fontes que participavam desses
convescotes. A sala ampla acomodava bonitos quadros e uma mesa de jantar para
oito pessoas. Uma empregada com uniforme servia sorrisos e boas bebidas.
Falava-se muito de negócios, especialmente no Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social, o BNDES. Pimentel era presidente do Conselho de
Administração do banco. Pimentel morava no apartamento. Guardava suas coisas
lá. Agora, os agentes da PF recolheriam, com ordem judicial, o que houvesse no
imóvel: dinheiro, computadores, pen drives, papéis.
Ainda no começo do dia, também em
Brasília, os agentes estiveram na sede da Oli Comunicação e Imagem, empresa que
pertence a Carolina. A operação da PF, batizada de Acrônimo, investiga um
esquema de lavagem de dinheiro desviado de contratos com o governo federal. A
PF estava na rua – e nos bons apartamentos de Brasília e de outras cidades –
para buscar mais provas do esquema. Entre os alvos, além da primeira-dama de Minas,
brilhava um empresário que participou da campanha de Pimentel e da primeira
eleição da presidente Dilma Rousseff, em 2010: o empresário Benedito Oliveira,
o Bené. ÉPOCA obteve acesso ao inquérito da operação. De acordo com o
Ministério Público Federal, que fundamentou os pedidos de busca e apreensão em
90 endereços, a Oli “seria uma empresa fantasma, possivelmente utilizada para
os fins da ORCRIM (organização criminosa) com a conivência de sua proprietária
Carolina de Oliveira Pereira”.
Foi exatamente o que revelou
ÉPOCA em novembro passado, numa reportagem. Nela, a revista, com base em
entrevistas com a turma de Pimentel e documentos sigilosos, demonstrava que a
empresa de Carolina era fantasma. Mostrava também que a ascensão financeira de
Bené, dono de gráficas e empresas de eventos com contratos no governo petista,
coincidiu com a ascensão política de Pimentel. Bené até indicara assessores e
um secretário do Ministério do Desenvolvimento. E fora o dínamo da campanha de
Pimentel ao governo de Minas.
A reportagem de ÉPOCA alavancou
uma investigação da PF sobre Bené, que começara no mês anterior. Durante a
eleição, ele fora detido no aeroporto de Brasília, num King Air de sua
propriedade, com R$ 116 mil. Vinha de Minas. Não esclareceu a origem do dinheiro.
Como se revelou na reportagem, o prefixo do avião (PR-PEG) trazia as iniciais
dos filhos de Bené – daí “Acrônimo”, o nome da operação da PF. De acordo com a
investigação que se seguiu, culminando com as batidas na sexta-feira, Bené era
o cabeça do esquema. Foi preso, assim como o publicitário Victor Nicolato,
parceiro dele, que ajudou a coordenar a campanha de Pimentel no ano passado.
O esquema de Bené, segundo as
investigações, não era sofisticado. Ele conseguia contratos superfaturados com
o governo do PT, valendo-se de sua influência junto a próceres do partido,
lavava o dinheiro por meio de uma vasta rede de empresas – e, após embolsar sua
parte, repassava o butim para sua turma. Nas palavras da PF, o amigo de
Pimentel “seria o operador de organização criminosa estruturalmente ordenada e
com clara divisão de tarefas, a qual teria por atividade o desvio de recursos
públicos, por meio de contratos não executados e/ou superfaturados com entes
federais, mormente no setor de eventos e gráfico, e a posterior lavagem desses
recursos, utilizando para tanto diversas empresas, com abuso da personalidade
jurídica e confusão patrimonial, inclusive com interposição de pessoas”.
ÉPOCA obteve um documento, já em
poder da PF, que mostra que a investigação esbarrará em outra personagem que
também orbitou a campanha e a convivência de Dilma: a ex-ministra da Casa Civil
Erenice Guerra. Em maio do ano passado, Erenice acertou um contrato de
sociedade com a Brasil Século III, de Virgílio Guimarães – era por meio dessa
empresa, segundo a investigação, que o petista recebia dinheiro do esquema de
Bené. De acordo com a PF, o ex-deputado petista, cuja biografia se notabilizou
por ter sido o agente que promoveu o encontro do publicitário Marcos Valério,
preso como operador do mensalão, com o PT, era destinatário do “envio frequente
de recursos financeiros de Benedito” em benefício próprio e “outras pessoas
indicadas”. O contrato entre Erenice e Virgílio visava “promover o
desenvolvimento sustentável e competitivo” da FBM Farma, uma indústria
farmacêutica pertencente ao grupo Hospfar Indústria e Comércio de Produtos
Hospitalares, que mantém em 2015 contratos de R$ 10,6 milhões com o governo
federal. Em 2014, a empresa recebeu R$ 61,4 milhões dos cofres públicos, o
dobro do ano anterior. A companhia, que já foi alvo de investigação do Tribunal
de Contas da União, contratou Erenice Guerra para advogar em seu favor.
A relação próspera entre Bené e o
PT resultou numa multiplicação extraordinária da fortuna do empresário. De 2005
para cá, o faturamento de seu grupo formado por cerca de 30 empresas passou de
R$ 400 mil para R$ 500 milhões. Esse salto gigantesco foi impulsionado graças a
contratos superfaturados fechados com órgãos públicos, segundo a Polícia
Federal. As empresas de Bené possuíam contratos de centenas de milhões de reais
com os ministérios das Cidades, da Educação e do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome, entre outros. A Gráfica e Editora Brasil, controlada pela
família de Bené, recebeu R$ 294,2 milhões entre 2004 e 2014. Quase um terço
desse valor foi desembolsado pelo Ministério da Saúde. O inquérito da PF
apontou ao menos 39 contratos com indícios de irregulares encontrados em
auditorias realizadas pelo TCU e pela Controladoria-Geral da União. “São várias
empresas com sócios entre si, com os mesmos endereços, sendo algumas delas
fantasmas. O objetivo disso era realizar a lavagem de valores, provavelmente
oriundos de fraudes licitatórias”, diz o procurador da República Ivan Cláudio
Marx, do Núcleo de Combate à Corrupção do Ministério Público Federal no
Distrito Federal e responsável por conduzir o caso com a Polícia Federal.
Em nota, o advogado Pierpaolo
Bottini afirma que Carolina Oliveira “viu com surpresa a operação de busca e
apreensão” em sua antiga casa, em Brasília. “Carolina acredita que a própria
investigação vai servir para o esclarecimento de quaisquer dúvidas”, diz o texto.
O governo de Minas Gerais afirmou, em nota, que não é objeto da investigação.
Procurado, o advogado de Bené, Celso Lemos, não retornou as ligações. ÉPOCA
também não conseguiu contato com o ex-deputado Virgílio Guimarães e Erenice
Guerra. Agora, os investigadores tentarão identificar o destino dos recursos
desviados. O delegado do caso, Dennis Cali, deu pistas dos próximos passos.
Perguntado se Pimentel era um dos investigados, o delegado dizia que não. E
completava: “Até o momento”.
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