Muita coisa se tem dito sobre as
eleições nos jornais. Eu fiquei meio afastado para curar a ressaca da porrada
que levei dos eleitores. E não é porque perdi. Perder ou ganhar faz parte do
jogo. O problema foi ver o vendaval de incoerências praticada por eleitores.
Penso que vivemos num desespero tão medonho que as pessoas não conseguem se
posicionar. Um eleitor miserável vendendo o seu voto por medo de perder o seu
Bolsa Família é coerente com o país em que ainda vivemos, mas ver um professor baiano
votar em Rui Costa, Nelson Pellegrino e Daniel Almeida, depois do que fizeram e
disseram naquela greve de 115 dias pelos 22,22% não dados pelo Governo da Bahia,
é o ápice do masoquismo. Um masoquismo acadêmico, para ser mais elegante.
Mas eu não quero aqui entrar
ainda na questão da Bahia. Nosso estado e Heliópolis deixo para mais adiante.
Hoje quero me referir a um fantástico artigo publicado por Alex Antunes no
portal do Yahoo. Uma obra de arte. Ele começa dizendo que tentam criar um
movimento de simpatia por Dilma, “agredida” pelas brincadeiras comparando a
presidente na posse a um bujão de gás. “De fato, como no episódio dos
xingamentos nos estádios da copa, dá para rastrear o conteúdo machista da
coisa. E, de fato, como a presidente se veste ou deixa de se vestir não tem
nada a ver com seus (de)méritos políticos.”
E continua dizendo que Dilma não
é, nem de longe, uma guardiã da dignidade nacional. “Pelo contrário, suas
indicações para o ministério e outros escalões deixam clara a urgência de se
compor ainda mais visceralmente com tudo que a política nacional tem de grotesco,
atrasado e patriarcal, dos coronéis tiozões estupradores acaju aos pastores e
estalinistas ancorados nos séculos passados.” Fantástico! E vai mais além: “é
irreversível o processo de transformação de Dilma em uma figura ridícula, uma
pseudogovernante à deriva entre o colapso do projeto político do PT e sua
própria falta de estofo. O que resta para defender agora não é Dilma, mas a
ilusão de seus eleitores de que de alguma maneira ela representaria algo
socialmente mais aceitável que Aécio – ou Marina. Por falar em Marina, não me lembro
de que a militância petista tenha se incomodado com as calúnias e ofensas de
campanha contra esta outra senhora, ex-companheira, e (ela sim, por seu
histórico combativo) um “Lula de saias”.” Perfeito!
Mas o articulista capricha ainda
na lista dos ministros de Dilma que, num país sério, não seriam convocados nem
para assessores de vereadores. É só atentar. Kátia Abreu, na Agricultura,
militante da destruição do meio ambiente, do assassinato de índios, da grilagem
de terras e do trabalho escravo. Tem também o Aldo Rebelo na Ciência e
Tecnologia, igualmente inimigo do meio ambiente, e até da própria inovação
tecnológica. Para quem não conhece, tem um tal de pastor George Hilton nos
Esportes, absolutamente ignorante nesta e em outras áreas. E ainda temos nomes
que representam um poço de problemas: Helder Barbalho, o filho do ícone da
corrupção, Jader Barbalho, do Pará; Eduardo Braga (que é um dos novos ministros
que sofrem processos judiciais, ao lado de Helder e Kátia); Gilberto Kassab;
Eliseu Padilha, para ficar só por aí.
O Alex Nunes chega a detalhar os
pontos negativos de alguns dos indicados citados e faz uma análise das desgraças
deste novo ministério. Cita André Singer quando aquele afirma que Dilma
blindaria as denúncias nomeando um ministério de notáveis. “ Porém, por mais
paradoxal que pareça, à medida que as revelações prosseguem, a presidente fica
refém da opção oposta. Ocorre que Dilma precisa munir-se agora da maior base
congressual possível, pois quando o navio começar a balançar, os mais
fisiológicos irão rápido para a oposição, tornando o palácio alvo de isolamento
e chantagem. Mas para montar tal suporte, ela precisa recorrer exatamente
àqueles que estão na mira da Operação Lava a Jato (…) Em outras palavras, para
proteger-se do escândalo, precisa apoiar-se nos que estão nele enredados”.
E aí Alex vai para o fecho do
texto com uma argumentação notável: “o problema não são os supostos
“petralhas”, ou seja, a ala corrupta do PT (que existe, como de resto, em
qualquer partido que chegue ao poder). O problema é o que poderíamos chamar de
petrouxas, ou seja, quem acredita num “petismo mágico” – segundo o qual basta
“votar certo”, no personagem “do bem”, para que a política se mantenha no curso
de correção. (...) Mas, ao contrário do que creem os petrouxas, o PT tem
canalizado o oposto dos anseios de melhoria do país, tentando varrer suas
mazelas para baixo do tapete – e transformando-as assim em mazelas nacionais.”
E mais adiante diz: “O PT descuidou do Brasil. É incapaz de dar conta de um
certo anseio de moralidade. Esse anseio não é 100% “errado”; as pessoas têm direito
a se sentirem num ambiente (...). Mas, defensivamente, o petismo desqualifica
esse anseio, para não ter que pedir desculpas pelos erros no exercício do poder
(mesmo tendo sido esse impulso moralizador um dos componentes centrais do seu
sucesso eleitoral). A dívida política do país com Lula não só já foi paga (na
primeira eleição de Dilma), como agora já estamos entrando fundo no prejuízo.”
E concluiu para deleite dos bons
redatores e dos políticos éticos:” Aliás, foi de Lula o lance mais estranho (ou
não), nos últimos dias. Ele se diz insatisfeito com o novo ministério de Dilma
– de quem é não apenas o mentor, mas o fiador político e, literalmente, o
inventor (já que Dilma não tem nenhuma história política pregressa notável, a
não ser a passagem pela guerrilha). E que vai montar um grupo político para
abrir uma interlocução com os movimentos sociais – esses mesmos que estão sendo
desdenhados, após terem reeleito Dilma, por estreita margem –, para “pressionar
a presidente” nos próximos quatro anos. Já Dilma confidenciou aos colaboradores
que nunca se sentiu tão “livre” (de Lula e do PT, supõe-se). Resta saber se é
tudo jogo de cena, ou se Lula foi escanteado mesmo. Ou seja: saber se Lula é o
supremo petralha, ou o supremo petrouxa.”. Quem desejar ler o artigo completo,
é só dá um clique aqui.