Os dois prefeitos baianos
suspeitos de desvio de verba pública se entregam. Suspeitos são gestores das
cidades de Fátima e Sítio do Quinto. Esquema de corrupção em prefeituras pode
superar R$ 70 milhões.
O prefeito de Fátima, Idelfonso Borges (Nego) - (foto: Sofátima Net) |
Os prefeitos de Fátima e Sítio do
Quinto, suspeitos de participação no esquema de desvio de recursos públicos que
pode superar R$ 70 milhões, se entregaram na sede da Polícia Federal, em
Salvador, no início da manhã desta quarta-feira (14). Os gestores José
Idelfonso Borges dos Santos (PDT) e Cleigivaldo Santa Rosa (PDT), das
respectivas cidades, serão interrogados pelo delegado José Nogueira Elpídio.
Além deles, mais quatro das 10
pessoas que não foram encontraras durante a "Operação 13 de Maio",
deflagrada na terça-feira (13) e que prendeu 19 pessoas temporariamente, também
se entregaram na manhã desta quarta. Com isso, ao todo, 25 pessoas estão
detidas, sendo que a maioria, segundo a PF, já prestou depoimento. Foram 29
mandados de prisão emitidos pela Justiça Federal - quatro ainda são foragidos. Do
total dos mandados de prisão emitidos, dois são para prefeitos, quatro
ex-prefeitos, quatro vereadores, seis secretários ou ex-secretários, além de diversos
servidores públicos. Pelo menos 90 laudos periciais foram emitidos.
Entre as pessoas já presas estão
o ex-prefeito do município de Fátima, Osvaldo Ribeiro de Nascimento, o
Secretário de Finanças e filho do prefeito, José Roberto, além do Secretário de
Educação Cidney Andrade, o vereador e ex-presidente da Câmara Municipal de
Fátima José Wilson Reis, dentre outros.
Esquema investigado
Ex-prefeito Osvaldo Ribeiro sendo detido pela PF (foto: Jorge Magalhães) |
Uma das empresas investigadas é a
União Brasil Transporte, que está em nome de dois ex-assessores do deputado
Luiz Argôlo, do Solidariedade da Bahia, segundo o Jornal Nacional. Luiz Argôlo
e a empresa já foram citados em outra investigação da Polícia Federal, a Lava
Jato, que prendeu o doleiro Alberto Youssef. A assessoria do deputado disse que
ele não tem qualquer relação com a empresa investigada na operação e que
desconhece as atividades dos ex-assessores.
Os primeiros indícios que
renderam dois anos de investigações foram encontrados no município de Fátima,
localizado a 342 km de Salvador. De acordo com a PF, os prefeitos das cidades
de Sítio do Quinto, Clegivaldo Santa Rosa, e de Fátima, José Idelfonso Borges
dos Santos também se encontram entre os envolvidos, que vão responder por mau
uso de dinheiro público, lavagem de dinheiro e contra lei de licitação. Ao todo
12 envolvidos já foram levados para o presídio regional de Feira de Santana.
De acordo com delegado da Polícia
Federal que está à frente das investigações sobre o esquema ilegal em 26
municípios baianos, o montante de dinheiro desviado pelas gestões municipais
chegou a R$ 70 milhões. A "Operação 13 de Maio" também apura fraudes
em Aracaju (SE) e Brasília (DF). "Muitas
dessas empresas não têm sede física, não têm funcionário, não têm declaração de
Imposto de Renda, nem contabilidade. Até agora, já foram contabilizados R$ 70
milhões no mínimo em desvios. Estamos analisando outros laudos e esse número
pode aumentar", afirmou o delegado José Nogueira Eupídio. Há quem afirme
que poderá chegar a 300 milhões.
A Polícia Federal relata que a
investigação do esquema de desvio de verba pública começou em 2008, mas há
indícios de que as irregularidades estejam sendo cometidas desde o ano de 2001.
Nogueira estima que somente no município de Fátima tenham sido desviados cerca
de R$ 20 milhões. "Ficamos impressionados em relação ao número de empresas
de fachada em Fátima. O que sabemos é que aquela organização que atuava em
Fátima teve o poder de atuar em outros municípios e se interagir com essas
organizações", explica.
O delegado informa que as
empresas eram constituídas de fachada. "Essas empresas eram contratadas
para diversos tipos de serviços. E logo em seguida, o dinheiro caía na conta
dessas empresas, que repassavam esse dinheiro para prefeitos, secretários,
ex-secretários e vereadores. Esses gestores criam uma aparência de estar tudo
funcionando, mas as coisas não eram feitas de acordo com o valor licitado. Ou
as obras não funcionavam ou funcionavam de forma precária", diz o
delegado. Segundo José Nogueira, o dinheiro público desviado era usado para aquisição
de imóveis e carros. "Muito dos bens, do patrimônio, não estão no nome
dessas pessoas. Geralmente, estão no nome de alguns parentes. Esses parentes
compravam fazendas, gado, imóveis, carros", relata. Um dos bens
apreendidos em Heliópolis, na casa do ex-prefeito Walter Rosário (PCdoB), uma
camionete S-10 cabine dupla, tinha sido adquirida há poucos dias. Foi o filho
mais velho do prefeito, Diego Rosário, quem entregou o bem aos policiais
federais.
Com informações complementares do G1-Bahia.