Boato causou pânico nas agências da Caixa (foto: Blogue da Joice) |
Como dissemos aqui neste blogue,
a nossa classe política está em decadência. O boato do fim do Bolsa Família
pode ter sido algo orquestrado pela oposição,como chegou a dizer o governo, mas
todos os indícios levam a uma armação do governo ou de setores simpáticos ao
governo. Também não está descartada a possibilidade de ser coisa de gente que
apenas joga gasolina no fogo para ficar apreciando a paisagem arder. Agora, as suspeitas que recaem sobre o
governo são, no mínimo, curiosas. Primeiro, a presidente Dilma admite que possa
ter ocorrido falha na Caixa. A afirmação revela mudança em discurso oficial.
Depois de acusar a oposição de
espalhar boatos sobre o fim do Bolsa Família, no início desta semana, o governo
iniciou um recuo em seu discurso sobre o assunto. Neste sábado, durante visita
a Etiópia, na África, a presidente Dilma Rousseff afirmou que a apuração em
curso sobre o episódio avalia a possibilidade de ter ocorrido uma
"falha" no pagamento dos benefícios pela Caixa Econômica Federal. Em
seguida, a Caixa Econômica Federal volta atrás e, em nota oficial, admite
antecipação de pagamentos.
"Usamos a tecnologia da
informação mais sofisticada possível com o Bolsa Família. Nós somos humanos;
pode ter tido falhas. A Polícia Federal e a segurança da Caixa vão procurar
todos os motivos e elencá-los", disse Dilma. "O que fazemos é
garantir que seja o menos possível de ser objeto de falha interna." Na
mesma entrevista, a presidente desautorizou membros do governo a fazer
acusações sobre a autoria dos rumores sobre o fim do programa federal. "Jamais
faria manifestação nesse sentido", disse. E acrescentou: "Ninguém no
governo está autorizado a dizer qualquer coisa sobre esse processo." É uma
guinada no discurso oficial.
Na segunda-feira, a
ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República,
Maria do Rosário, acusou a oposição de espalhar rumores sobre o fim do Bolsa
Família. Em seu perfil do Twitter, ela escreveu: "Boatos sobre fim do
Bolsa Família deve (sic) ser da central de notícias da oposição. Revela posição
ou desejo de quem nunca valorizou a política." Mais tarde, ela tentou voltar
atrás e fez nova publicação no microblog, afirmando não ter nenhuma
"indicação formal da origem de boatos".
A Caixa publicou nota em seu
site na noite de sábado dizendo que "o pagamento do programa Bolsa Família
ocorre normalmente de acordo com calendário estipulado pelo Governo Federal. A
Caixa esclarece ainda que não procede a informação de que hoje [sábado] seria o
último dia para o pagamento do Bolsa Família." O banco também negou qualquer
tipo de pagamento extra. O rumor, que surgiu no sábado, levou milhares de
pessoas em pelo menos doze estados a procurar a Caixa para sacar o benefício
deste mês. Em alguns estados também circulou o boato de que o programa iria
disponibilizar um suposto pagamento "extra" de Dia das Mães, o que
também atraiu pessoas para as agências. A corrida aos bancos ocorreu
principalmente em cidades do Nordeste, do Norte e no Rio de Janeiro.
A Caixa, no seu segundo comunicado oficial,
ressaltou que somente em torno das 13 horas do sábado (18) é que se verificou o
início da anormalidade de saques em alguns estados, quando também começaram a
circular notícias sobre os boatos em relação ao Bolsa Família. Para garantir o
acesso aos benefícios e a integridade física das pessoas, o banco manteve o
procedimento de disponibilizar os pagamentos, independente da data prevista, durante
o final de semana.
Empresa de telemarketing do RJ
espalhou boato sobre o Bolsa Família
A Polícia Federal descobriu
durante as investigações sobre o boato espalhado no último final de semana de
que o Bolsa Família iria acabar que a origem das informações é uma central de
telemarketing com sede no Rio de Janeiro. Uma mensagem de voz distribuída pela
central anuncia aos ouvintes beneficiários o fim do programa, conforme dados do
inquérito aberto no início da semana a partir de uma determinação do ministro
da Justiça, José Eduardo Cardozo. A descoberta reforça a tese de que a ação
tenha sido organizada e que há pessoas com provável interesse político na
questão. A polícia tentará agora
descobrir quem contratou os serviços de telemarketing e se, de fato, existe
algum grupo com interesse político-eleitoral por trás da tentativa de se
assustar os beneficiários do Bolsa Família. A polícia decidiu também
interrogar, a partir da próxima semana, as 200 primeiras pessoas a fazer saques
logo após o início da disseminação dos boatos sobre o fim dos programas. A PF
também já tem informações sobre pessoas que receberam telefonemas no último
final de semana com mensagens sobre o fim do Bolsa Família. A PF não confirma o
número de pessoas identificadas, mas diz que dispõe de informações sobre a
possibilidade do boato ter surgido a partir de ligações originadas por
telemarketing.
Após o ocorrido, o governo
federal disse que vai passar a fazer um monitoramento "mais fino" dos
saques feitos por beneficiários do Programa Bolsa Família durante os finais de
semana. Segundo a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza
Campello, a medida vai se somar a outros mecanismos de controle do pagamento
dos benefícios. A finalidade é permitir uma resposta mais rápida a problemas
como os tumultos do último fim de semana em agências bancárias da Caixa
Econômica Federal e lotéricas de 12 Estados. Seja qual for o resultado das
investigações, há uma certeza no ar: o programa ainda não resolveu
definitivamente o problema da fome no Brasil, mas já garantiu a vida de muita
gente que, com certeza, jamais precisará do Bolsa Família.
Com informações complementares de O GLOBO, R7, ESTADÃO e VEJA.