Sofrimento e desespero na hora do seputamento (Foto:Edison Vara/Reuters) |
As prisões temporárias de dois
sócios da boate Kiss e de dois músicos da banda Gurizada Fandangueira nesta
segunda-feira (28), em Santa Maria (301 km de Porto Alegre), foram motivadas
por indícios de que eles estariam prejudicando as investigações com o desaparecimento
ou com a manipulação de provas. Um incêndio no interior do estabelecimento, na
madrugada desse domingo (27), deixou 231 mortos e mais de cem feridos.
A informação é da promotora
criminal Waleska Flores Agostini, representante do Ministério Público na
investigação do caso. Em entrevista ao UOL, ela disse que o aparente sumiço de
imagens do circuito interno de câmeras da boate caracterizaria obstrução por
parte dos empresários Mauro Hoffmann e Elissandro Callegaro Spohr. Eles foram
presos hoje, respectivamente, nas cidades de Santa Maria e Cruz Alta.
Já as prisões dos dois músicos,
de acordo com a promotora, foram subsidiadas pela não localização de
equipamentos de pirotecnia semelhantes aos usados no show pela banda, antes do
incêndio, durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão em suas residências.
De acordo com a promotora, os pedidos de prisão formulados à Justiça foram
apresentados pela Polícia Civil, com manifestação favorável à medida por parte
do MP. "Manifestamo-nos pelas prisões porque houve notícia de que os
investigados estariam atrapalhando as investigações. Esses pedidos visam
sobretudo a preservar a coleta de provas e de materiais", disse.
Para a promotora, antes de 30
dias "dificilmente" as autoridades terão uma resposta final sobre as
investigações, uma vez que esse é o prazo inicial, sem dilatação, para que a
Polícia Científica apresente o relatório da perícia iniciada hoje no prédio da
boate. Esse também é o tempo para a Polícia Civil concluir o inquérito, caso
não peça prorrogação de prazo, para só então os autos serem encaminhados ao MP para
oferta ou não de denúncia.
"A investigação está ainda
no nascedouro. Já definimos hoje a conduta de cada um [dos suspeitos] quanto a
ação ou omissão, mas ainda é muito prematuro definir qual a conduta
deles", afirmou a promotora, que completou: "Como houve morte
violenta, a princípio o MP vislumbra crime de homicídio –agora é ver se foi
doloso (intencional), com os responsáveis assumindo o risco pela conduta, ou culposo,
sem intenção", definiu.
Perícia
Indagada sobre quais tipos de
provas periciais o MP considera importantes na investigação, a promotora
criminal de Santa Maria citou a existência ou não de elementos químicos no
material que fazia a proteção acústica da boate "ou mesmo no material de
pirotecnia usado pela banda". "Porque isso tudo, aliado às saídas de
emergência, por exemplo, vai ajudar a definir como foi a asfixia das vítimas.
Se houve algum elemento químico utilizado pela própria boate, isso [a asfixia]
pode ter sido precipitada". Já sobre o fato de a boate Kiss funcionar pelo
menos desde agosto sem alvará –concedido e fiscalizado, em tese, pelas
prefeituras --, a promotora criminal adiantou que o MP deverá pedir
responsabilização cível de agentes públicos. "Existe uma responsabilização
na área cível, mas também não se descarta essa responsabilização na área
criminal --cada vez isso fica mais evidente", resumiu.
O UOL tentou contato com os
advogados dos dois empresários. Jader Marques, advogado de Spohr, não atendeu
as ligações. Mário Cipriani, que defende Hoffmann, afirmou que só poderia falar
após o depoimento do empresário, em andamento. Os advogados dos músicos da
banda não foram encontrados para comentar o assunto. Pela Prefeitura de Santa
Maria, a assessoria de comunicação informou que a Procuradoria que se
manifestaria. A pasta argumentou que a secretária municipal de Fazenda, Ana
Beatriz Barros, é quem falaria --mas ela não atendeu as ligações. No gabinete,
uma funcionária informou que a secretária está no comitê de crise montado pela
prefeitura.
Informações do UOL.