A ex-modelo Pâmela Bório e o
governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, cultivam um estilo de vida
extravagante. Mas quem paga a conta é o contribuinte
Josie Jeronimo – da revista ISTOÉ
Pâmela (acima) promove festanças, expõe no Instagram coleção de lingerie e diz que o "maridão" é quem "curte" as novidades |
A primeira-dama da Paraíba,
Pâmela Bório, 29 anos, é uma mulher esfuziante. Ex-modelo, belíssima, olhos
claros e corpo escultural, gosta de luxo e badalações, sem revelar nenhuma
preocupação com a discrição. Ao contrário. Recentemente, Pâmela exibiu na rede
social Instagram sua nova coleção de lingeries e, abaixo das fotos, sapecou a
legenda: “Presente para mim, mas quem curte é o maridão.” Tal exibição de
intimidade deveria ser uma questão que só dissesse respeito a ela e ao referido
“maridão”, o governador Ricardo Coutinho (PSB), 52 anos. O episódio, porém,
tornou-se o novo capítulo de uma explosiva investigação de uso indevido de
dinheiro público. Após auditoria nas contas da residência oficial do
governador, o Tribunal de Contas da Paraíba concluiu que inúmeros mimos da
primeira-dama não são pagos somente com o salário de R$ 20 mil de Ricardo Coutinho,
cujo patrimônio é avaliado em menos de R$ 1 milhão. Parte do dinheiro usado
para bancar o luxo ostentado e os hábitos peculiares da primeira-dama sai dos
cofres públicos.
Ricardo Coutinho - Governador da Paraíba - "o maridão" |
Um relatório do Tribunal de
Contas, obtido por ISTOÉ, revela que as festas promovidas na Granja Santana –
como é chamada a residência onde moram o governador e a primeira-dama –
consumiram 17,4 toneladas de carnes, peixes e frutos do mar, só no ano de 2011.
Na mesma prestação de contas, que o órgão de fiscalização classificou como um
dos inúmeros “exageros de gastos”, havia uma nota registrando a compra de 60
quilos de lagosta. Além das despesas com comida, os auditores descobriram que
até o enxoval do bebê de Pâmela e Coutinho foi pago pelo contribuinte. O
governador não mexeu no próprio bolso nem mesmo para comprar os móveis para o
quarto do filho ou as bolsas para carregar mamadeiras. A quantidade de farinha
láctea adquirida para a criança também espantou o tribunal: foram 460 latas
apenas entre os dias 21 de novembro e 13 de dezembro de 2011. “O governador
deve ter uma creche em casa para consumir toda essa farinha láctea em menos de
um mês”, criticou o deputado estadual Janduhy Carneiro (PEN). A oposição a
Coutinho passou a se referir ao caso como “o escândalo da comida infantil”,
lembrando que em 28% dos municípios paraibanos não há creches.
O relatório do Tribunal de Contas
estadual ainda mostra outras excentricidades. Segundo a fiscalização, no ano
passado, a residência oficial foi abastecida com rolos de papel higiênico ao
custo de R$ 59 o pacote com quatro unidades. Detalhe: as folhas higiênicas eram
personalizadas com a impressão do desenho de um casal de noivinhos. Foram
adquiridos também sais e espumas de banho, além de artigos de decoração. Tudo
sem levar em consideração a cotação de preços exigida por lei. “Transpareceu
como critério de escolha o gosto pessoal e não a impessoalidade exigida na ação
administrativa pública. Robustece a afirmação o fato de os orçamentos terem
sido solicitados pela primeira-dama do Estado”, censurou o tribunal. Ou seja,
como se estivesse administrando o orçamento de sua casa, Pâmela assumiu o lugar
dos pregoeiros e demais funcionários da administração pública responsáveis por
cotar preços e dar transparência ao destino das verbas do Estado. Ao que tudo
indica, a primeira-dama, ostentando sua infalível bolsa Birkin, da grife
Hermés, circulou pelas lojas locais comprando o que era de seu interesse. “O
transportador da mercadoria, registrado na nota fiscal, foi a senhora Pâmela,
esposa do governador”, cravaram os auditores.
Nascida na Bahia, aos 13 anos
Pâmela começou uma carreira como modelo. Quando adolescente, participou de
vários concursos de beleza, sendo premiada em todos eles, como gosta de
lembrar. Já adulta, promoveu campanhas publicitárias para uma renomada
joalheria. Em 2008 conquistou o título de miss Bahia. E, quando seu destino
parecia mesmo as passarelas, transferiu-se para João Pessoa, para trabalhar
como apresentadora de uma televisão local. Foi ali na tevê, em 2010, que ela
conheceu Coutinho, entrevistando-o como candidato ao governo do Estado.
Casaram-se em fevereiro de 2011, um mês após a posse. No Estado, Coutinho é
conhecido como homem simples, filho de um agricultor e uma costureira. Segundo
amigos do casal, o “maridão” e a primeira-dama seguem vivendo num clima amoroso
que parece prolongar a lua de mel. O problema é saber quem paga a conta do
romance. Na quinta-feira 10, a assessoria do governador Coutinho informou à
Istoé que na Granja Santana são servidas 120 refeições diárias que atendem o
pessoal da limpeza, segurança, jardinagem, etc. Quanto às despesas, com o
enxoval do filho do governador, informa que “é obrigação do Estado suprir os
gastos particulares de sobrevivência dos governantes nas residências oficiais”.
Afirma, ainda, que a primeira-dama não possui cartão corporativo e que a bolsa
Hermés “é uma réplica”.