Número de prefeitas na Bahia
cresce 36% na eleição de 2012. Dois grupos predominam: o de mulheres que
venceram em cidades dominadas por homens e o das herdeiras políticas dos
maridos
Jorge Gauthier – do CORREIO
Tetti Brito - prefeita eleita de R. do Amparo |
Patrícia Almeida - prefeita eleita de Banzaê |
“Eu nunca perdi para homem quem
dirá para uma mulher”. Com essas palavras, o candidato a prefeitura de Anagé
Elson Soares (PTB) encerrou seu último comício. Nas urnas, a surpresa: a
professora Andrea Oliveira Silva, 38 anos, conseguiu derrotar o adversário que
já tinha sido prefeito cinco vezes. Tornou-se a primeira mulher eleita para
comandar Anagé, a 560 quilômetros de Salvador. Andrea faz parte de um fenômeno
eleitoral este ano: segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, o número de
prefeitas na Bahia cresceu 36% em comparação com 2008, saltando de 47 para 64,
percentual 5% maior que o do resto do Brasil.
Andrea diz acreditar que sua
eleição foi impulsionada pelo momento feminino na política. “Essa campanha em
Anagé rompeu diversos tabus de gênero na cidade. No início, não acreditavam que
eu teria força de ganhar, mas consegui”, conta Andrea, que tinha perdido em
2008 por 192 votos. Divorciada, mãe de um filho de 14, ela conta: “ele me deu apoio, mas assim como o resto da
minha família, ficou com medo, já que tive que enfrentar um forte grupo
político”. Em Amargosa, a 235
quilômetros de Salvador, a atual vice-prefeita Karina Silva (PSB), 41 anos,
rompeu com o prefeito Valmir Sampaio (PT) e venceu seu candidato, o também
petista Júlio Rocha. “Rompemos porque ele não respeitava minha posição como
mulher”, alega.
Formada em Administração pela
Ufba, Karina tenta repetir a história de sua mãe, Iraci Silva, que foi prefeita
de Amargosa de 92 a 96. “Minha mãe foi a primeira prefeita e agora tenho a missão de fazer um trabalho tão bem
avaliado como o dela. Ela derrotou o grupo político dos Andrade, que dominavam
a cidade há 20 anos. Eu derrotei a força grandiosa que é o PT, que tem a
máquina na mão”, conta.
Fátima Nunes - reeleita em Euclides da Cunha |
Segundo Karina, depois do
rompimento político, os adversários iniciaram ataques. “Sofri muito preconceito
(por ser mulher). Os adversários começaram a me comprar a Carminha e Chayene,
vilãs das novelas Avenida Brasil e Cheias de Charme, respectivamente”,
diz. Casada, mãe de três filhos, Karina
conta que, apesar de ser filha de político e de estar na vida pública há mais
de 15 anos, não quer que os filhos sigam sua vocação. “É sempre complicado,
porque tem pouco tempo para a família”, afirma. Na nossa região, a atual
prefeita de Banzaê, Jailma, será substituída por Patrícia Almeida, ambas do PT.
Em Ribeira do Amparo, Tetti Brito (PSD), esposa do ex-prefeito Marcelo Brito,
será a nova prefeita. Em Euclides da Cunha, a atual prefeita Fátima Nunes (PSD)
venceu bem Dr. Luciano, com mais de 17 mil votos.
Experiência
Anabel de Tista - prefeita eleita de Jeremoabo |
A petista Rilza Valentim, de São
Francisco do Conde, na Região Metropolitana de Salvador, conseguiu se reeleger com 75.89% dos votos
válidos. Desde 2008, ela tem a responsabilidade de administrar a maior
arrecadação per capta entre as cidades brasileiras. “Quando fui eleita pela
primeira vez, achavam que eu não ia saber o que fazer. Mas fui estudar,
aprender. Hoje sei como tudo isso funciona”, explica Rilza, que tem 50 anos e é
doutora em Química, em uma cidade que tem a segunda maior refinaria de petróleo
do país.
Herdeiras
O nome de campanha Anabel de
Tista (PSD) já indica que a prefeita eleita de Jeremoabo, a 370 quilômetros de
Salvador, tem um padrinho eleitoral. No caso, seu marido e atual prefeito da
cidade, João Batista Melo de Carvalho, o Tista. A nova prefeita, Anabel
Carvalho, 43 anos, se elegeu com quase 1,3 mil votos de diferença. Ela entrou
na política pelas mãos do marido, mas
credita a vitória ao momento político da mulher no Brasil. “Pesou ser mulher
porque a mulher está num momento político positivo com a presidente Dilma
Rousseff”, explica Anabel, primeira prefeita eleita na cidade.
A revolução feminina na cidade
foi ainda maior, já que Anabel tem como vice outra mulher, Jannete
Menezes, também ex-primeira da cidade.
Na campanha, as duas eram chamadas de “As meninas”. Mas, nem todas mulheres eleitas tinham
pretensões eleitorais, e acabaram tendo que assumir a candidatura de maridos
que renunciaram às vésperas da eleição. Em algumas cidades, chegaram a ser
eleitas com a foto do marido na urna. Foi o que aconteceu em Almadina, Sul da
Bahia, onde a eleição foi vencida por Gleide de Val (PSD).
O mesmo ocorreu com Dra. Iracêma,
eleita em Itaquara. Faltando apenas seis dias para a eleição, o marido dela,
Astor Moura Araújo, foi barrado pela Justiça Eleitoral por ter as contas
rejeitadas. “Tive receio em assumir a candidatura, mas tive um apoio crescente por
ser mulher. Afinal, mulher quando quer fazer uma coisa faz”, explica Iracêma, 54
anos e mãe de três médicos. Ela conta
que os filhos tentaram fazer com que ela desistisse. “Nenhum filho quer a mãe
na política. Eu tinha acabado de casar o último filho e pensei que iria cuidar
da vida, mas o dever me chamou”, diz.
Com informações complementares de vários blogues regionais.