Brasil será julgado por não pagar precatórios
Uma denúncia apresentada por
funcionários da Prefeitura de Santo André (SP) foi acatada pela Comissão
Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos
(OEA)
Lisandra Paraguassu e Lucas
Abreu Maia, de O Estado de S.Paulo
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Sessão da CIDH |
BRASÍLIA - A Comissão
Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA)
vai julgar o Brasil por desrespeito aos direitos humanos ao não pagar
precatórios devidos pelo Estado brasileiro (Governo Federal, Estados e Municípios)
a milhares de pessoas. A denúncia foi feita por funcionários da prefeitura de
Santo André (SP) e, acatada pela CIDH, terá o mérito julgado nos próximos
meses. A decisão, ainda não informada oficialmente ao governo brasileiro,
deverá se transformar em mais um capítulo na sequência de crises entre o Brasil
e a Organização, inaugurada em abril do ano passado, quando a OEA exigiu a suspensão
imediata da construção da hidrelétrica de Belo Monte e ouviu uma dura resposta,
incomum na diplomacia brasileira.
Para aceitar a denúncia, a CIDH
alegou que a legislação brasileira não tem meios de obrigar o Estado a pagar
efetivamente suas dívidas com os cidadãos. Por isso, diz a decisão, a situação
brasileira se enquadra em um termo da Convenção Americana que trata do "relativo
esgotamento dos recursos de jurisdição interna". O julgamento vai examinar
se o caso fere quatro pontos da convenção: a obrigação dos Estados de respeitar
os direitos humanos, o dever de adotar disposições de direito interno, de dar
garantias judiciais e prazo razoável para processos e um recurso judicial
simples, rápido e efetivo.
Desde a crise sobre Belo Monte
- a medida cautelar exigindo a suspensão da obra foi considera uma
interferência indevida, precipitada e injustificável pelo governo brasileiro -
a relação entre Brasil e OEA transformou-se em uma crise eterna. Apesar de um
pedido de desculpas da CIDH sobre a questão da hidrelétrica, nos últimos oito
meses o governo brasileiro tem retaliado sistematicamente a Organização.
Já em abril o Itamaraty retirou
a candidatura do ex-ministro da Secretaria Nacional de Direitos Humanos Paulo
Vannuchi a uma vaga CIDH. A alegação é que o ex-ministro poderia ser candidato
a um cargo de maior importância. Depois disso, o embaixador na OEA, Ruy Casaes,
também deixou o cargo - será o novo Cônsul no Porto, Portugal - e não há sinais
de um novo nome a ser indicado. As retaliações não pararam por aí. Apesar das
negativas de problemas na relação, o Brasil até hoje não pagou sua cota anual
de U$ 6 milhões, o equivalente a 6% da arrecadação da OEA.
Em outubro deste ano, o último
atrito: a CIDH marcou uma audiência pública para tratar das violações de
direitos humanos na construção de Belo Monte e o governo brasileiro se recusou
a mandar representantes. A audiência foi cancelada e virou apenas uma oitiva de
índios e representantes de ONGs brasileiras.