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Lena morreu!

Estamos na era do pecuniocentrismo?

                              Landisvalth Lima
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O Papa Francisco veio ao Brasil e detonou a sociedade capitalista esnobe. Praticou a simplicidade pregada. Foi exemplo. E não precisa mais falar sobre os gritos que invadiram as ruas nos últimos meses e vêm sacudindo os alicerces da República sustentada no Bolsa Família, na pregação da melhoria dos pobres, no dizer do nunca antes feito no país uma divisão de renda tão ampla. Concordo até que muito realmente tenha sido feito. Não tanto, mas houve avanços. O problema é o preço que paga cada brasileiro. A corrupção é algo alardeante. Nunca se roubou tanto neste país. E não me venham com esta de que as contas fora aprovadas e blá blá blá. O roubo aqui é aprovado e permitido pela própria lei. Criaram leis para facilitar os desvios. Isso é uma das inúmeras provas de que o dinheiro tomou o lugar das pessoas. O Papa foi claro ao dizer que há um exagero no culto à moeda. Isso é tão verdadeiro que chegamos ao ponto de valorizar tanto a pecúnia que, quase todos os meios são justificáveis quando se busca o acúmulo de capital. Não há dúvida, depois do Teocentrismo e do Antropocentrismo, vivemos a era do Pecuniocentrismo.
E vou aqui mergulhar mais uma vez no mar que conheço: a educação. Em auditoria feita pela CGU – Controladoria Geral da União – constatou-se que 73% das prefeituras desviam recursos do Fundeb – Fundo de Educação Básica - criado para melhorar a gestão no setor. Principal entrave para a melhoria do índice de desenvolvimento humano dos municípios (IDHM) no Brasil, a qualidade da educação tem sido afetada por desvios e malversação de recursos destinados pelo governo às escolas. De cada 100 prefeituras fiscalizadas em 2011 e 2012, 73 fraudaram processos de licitação para a compra de serviços e materiais de uso na rede pública de ensino. São mais de 100 bilhões transferidos anualmente para bancar salários de professores, compra de equipamentos e manutenção de atividades como a merenda e o transporte escolar. Pior é saber que os recursos aumentaram, mas não o suficiente para intimidar a corrupção. O relatório indica que o porcentual de municípios flagrados em situação de irregularidade aumentou.  E a maioria das fraudes é na concorrência. Só vence quem o prefeito quer e tem que dar propina para vencer a licitação.  O órgão de controle do governo aponta vários outros problemas. Nos dois últimos anos, 70% dos municípios fizeram despesas incompatíveis com a finalidade do Fundeb. Em 25% dos casos, houve falhas na execução de contratos. É comum o uso do dinheiro sem qualquer controle ou prestação de contas: 32% sacaram dinheiro do fundo na boca do caixa. Há situações em que a retirada dos recursos foi feita pelo gestor pouco antes da posse de um novo prefeito. O relatório também cita a contratação de empresas fantasmas para o transporte escolar, ou empresas de amigos que financiaram a campanha política. Há casos, como há muito tempo ocorre em Heliópolis, em que a empresa que vence não tem um carro sequer e, para fazer o transporte escolar, aluga veículos irregulares de terceiros. 
Um país que precisa desesperadamente de melhorar o nível de conhecimento de seus jovens e tem tribunais que aprovam contas públicas irregulares como “Aprovadas com ressalvas”, imputando a prefeitos multas que são verdadeiras gorjetas diante dos desvios tácitos, retira do centro a preocupação com a formação do homem e elege o dinheiro, mesmo que sob a égide da corrupção, como o objeto a ser devotado. Já não se fala mais em caráter, honra, ética, profissionalismo, solidariedade. Estes valores são caretas. Estão eliminando o ser humano, relegando-o ao campo da inferioridade. Não se trata mais de ver o ser como um objeto. O homem e suas necessidades passaram a ser inferiores ao objeto, ou melhor, a um objeto chamado dinheiro, moeda, pecúnia. Daí, não é difícil saber por que é tão fácil roubar no Brasil. A busca pelo dinheiro justifica tudo, até mesmo a corrupção. E triste é saber que isso já virou uma ideia comum. Ninguém mais se assusta ao ouvir uma notícia de que alguém foi morto por causa de um troco de 25 centavos. A personagem Valdirene, da novela Amor à vida, da Globo, faz sucesso imediato. A atriz é uma das mais populares da telinha, e amada pelo público como se fosse uma princesa. E é apenas o papel de mais uma vítima do pecuniocentrismo.