BRENO COSTA e FILIPE COUTINHO –
da Folha de São Paulo
Agnelo Querioz (PT) |
O governador do Distrito
Federal, Agnelo Queiroz (PT), pagou R$ 7.500 para o policial militar João Dias
Ferreira na mesma época em que o PM ameaçava delatar um esquema de desvio de
recursos em convênios do Ministério do Esporte, quando o órgão era comandado
por Agnelo (2003-2006). As transferências - três depósitos de R$ 2.500, com
intervalo de cerca de 30 dias entre cada um - constam dos extratos bancários de
Agnelo remetidos pelo BRB (Banco de Brasília) à CPI do Cachoeira esta semana, e
aos quais a Folha teve acesso. Os pagamentos ocorreram nos 1º de fevereiro, 4
de março e 31 de março de 2008. Na época, Agnelo, então no PC do B, era diretor
da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Em dezembro de 2007, dois
meses antes do início dos pagamentos, uma auditoria do ministério identificou
fraudes em convênios firmados com ONGs de João Dias. Com a auditoria, a Polícia
Militar do DF abriu uma sindicância para investigar João Dias, que passou,
então, a pressionar o ministério a recuar e, segundo o próprio, ameaçou revelar
à imprensa as irregularidades ocorridas na gestão Agnelo. Em abril daquele ano,
o ministério, já comandado por Orlando Silva (à época, do mesmo partido de
Agnelo Queiroz), esvaziou a apuração contra a ONG de João Dias. Na ocasião, o
ministério havia enviado um ofício em resposta à Polícia Militar relatando irregularidades
nos convênios e afirmando que eles estavam inadimplentes. No entanto, cinco
dias depois, o ministério enviou um novo ofício pedindo que o parecer anterior
fosse desconsiderado. Em outubro passado, o policial afirmou à Folha que o
recuo ocorreu "pouco depois de fazer ameaças de denunciar à imprensa
irregularidades no ministério". O sigilo bancário de Agnelo só foi enviado
à CPI do Cachoeira pelo BRB, controlado pelo governo do DF, quase dois meses
depois do prazo estipulado e gerou reclamação formal da comissão ao banco.
OPERAÇÃO SHAOLIN
O policial João Dias Ferreira
chegou a ser preso em abril de 2010, numa operação da Polícia Civil do DF,
batizada de Operação Shaolin - uma referência às ONGs do policial, ligadas à
prática de artes marciais. A acusação era relativa aos desvios ocorridos,
segundo a polícia, no Programa Segundo Tempo, na época em que Agnelo Queiroz
era o ministro do Esporte.
OUTRO LADO
Em nota, Agnelo disse por meio
do porta-voz que o dinheiro refere-se à compra de um carro. À época, já era
sabido pelo Ministério do Esporte, em razão de duas auditorias, que Dias era
suspeito de desviar dinheiro da pasta quando Agnelo era o ministro. De acordo
com a nota, a compra foi desfeita dois meses depois, mas o governador não
apresentou o contrato de compra. Não há, nos extratos de Agnelo, nenhum
registro do PM devolvendo o dinheiro. "As operações financeiras dizem
respeito à compra de um veículo usado --Honda Civic, modelo 2006/2007. A
transação foi feita em fevereiro de 2008, mediante a entrega de 10 cheques
nominais pré-datados, mas acabou desfeita pouco mais de dois meses depois, com
a devolução do carro e a restituição dos cheques", diz a nota, assinada
pelo porta-voz Ugo Braga.Braga diz ainda que a compra é legal. "A operação
é absolutamente legal e o governador Agnelo Queiroz tanto não tem motivo para
escondê-la que prontamente ofereceu seu sigilo bancário, assim como o
telefônico e o fiscal, à CPMI do Congresso no dia de seu depoimento, em 13 de
junho passado."