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Carinhanha - Cidades do Velho Chico 22

Cidades do Velho Chico: Glória e Quixaba - Capítulo 2

Saindo de Paulo Afonso e seguindo pela BA 210, cerca de 5kms depois é a entrada para o município de Glória, a cidade-mãe dos municípios de Rodelas, Macururé e Paulo Afonso. Sua história é marcada pela descontinuidade. Renasceu duas vezes porque foi atingida por duas barragens, a de Moxotó e a de Itaparica. A primeira inundou povoados, fazendo desaparecer a localidade de Barra e a antiga sede do município.  

Glória fica localizada a 514 km da capital Salvador. A Glória foi concluída no final de 1974 para abrigar os moradores do antigo município e do Povoado Barra. O enchimento do reservatório de Moxotó foi concluído em maio de 1975. Em janeiro do mesmo ano aconteceu a mudança da população. Parte dos moradores que não aceitaram morar na nova cidade ficaram no Povoado Quixaba, mais próximo da antiga sede do município.

Mas a história dos glorienses, claro, é confundida com a do município de Paulo Afonso, seu antigo distrito. Os primitivos habitantes do município foram os índios das tribos 'Mariquitas' e 'Pancarus'. Os portugueses exploradores foram os mesmos chefiados por Garcia D’Ávila. O primitivo núcleo da cidade de Glória contou ainda com a essa bandeira de uma missão religiosa chefiada por padres católicos. Tudo isso até o ano de 1705. Os colonos ali estabelecidos constituem família e dão início à efetiva colonização e povoamento do território. São aproveitados na prática da agricultura e no criatório de gado. O indígena e o negro contribuem de maneira expressiva para a evolução da localidade.

Data deste período o nome 'Curral dos Bois', visto que eram inúmeras as boiadas no local, claro, por ter água em abundância no Velho Chico. Esses rebanhos se destinavam a outras localidades, mas sempre ficava alguma coisa por aqui. Surge então uma pequena estrutura para atender os passantes. Surgem estabelecimentos comerciais que permitem um crescimento lento e progressivo. Mais tarde, a devoção ao padroeiro permite o crescimento do nome para Santo Antônio da Glória do Curral dos Bois e o povoado é elevado à categoria de Vila pela Lei Provincial nº60, de 08 de abril de 1842. Em 1886, dia 1º de maio, Lei Provincial criou o município de Santo Antônio de Glória, com sede em Santo Antônio da Glória do Curral dos Bois e território desmembrado do município de Jeremoabo. Sua instalação ocorreu em 7 de janeiro de 1887, constituído de apenas um único distrito. Por força dos Decretos Estaduais de números 7.455 de 23 de junho e 7.479 de 8 de julho de 1931, o município teve o seu nome simplificado para Glória.

A área das terras de Glória era gigantesca. Na divisão administrativa do Brasil, do ano de 1933, como nas Territoriais datadas de 31 de dezembro de 1936 e 31 de dezembro de 1937, e também no quadro anexo ao Decreto-Lei Estadual nº 724, de 30 de março de 1938, o município de Glória figura com os seguintes Distritos: Glória (sede), Rodelas, e Bonfim, que mais tarde receberá o nome de Macururé. Pela Lei Estadual nº 628, de 30 de dezembro de 1953, foi criado o Distrito de Paulo Afonso, com instalação em 24 de setembro de 1954, ficando o município constituído de quatro Distritos: Glória, Rodelas, Macururé e Paulo Afonso. Hoje, mesmo depois de perder os seus distritos, Glória se estende por 1 255,7 km² e conta com 16 mil habitantes e uma densidade demográfica de 12,1 habitantes por km².  

Seguindo pela BA 210, foi preciso conhecer um dos seus maiores povoados: Quixaba. Segundo artigo de José Clécio Silva e Souza, publicado na Revista Educação Pública, o Povoado Quixaba é um dos mais de 70 lugares, entre povoados e sítios, que formam o município de Glória. Foi fundado em 1974 por um grupo de pessoas que não aceitavam a mudança para as imediações do antigo povoado Barra, onde foi erguida a nova Glória. O líder do movimento foi Hortêncio Correia, morador da povoação de Queimada, pequeno povoado que foi inundado pela construção na Usina Hidrelétrica de Moxotó, localizada em uma região hoje denominada Beira do Rio.  Os futuros Quixabenses desejavam ir para uma localidade distante apenas 5 km da antiga Glória e por ali ficaram. A intenção não foi aceita pelos políticos da época. Houve assim uma divisão: uma parte ficou na Quixaba e outros para a nova cidade e outras partes do município. Entre os anos de 1974 e 1976 foi edificada uma pequena escola, denominada Escola Cosme de Farias, fundada com apoio da Chesf. Depois foi construído um posto de saúde com assistência médica curativa e uma nova escola, aumentando assim a oferta de vagas. O Povoado Quixaba começou a evoluir ainda no período de 1977-1982, com a chegada da energia elétrica e abandono sofrido em sua fundação.  

Situados a 256 metros de altitude, Glória e o povoado Quixaba possuem um forte potencial para o turismo de lazer. No município há pontos como a Serra do Retiro, com 150 metros de altura, e possui uma trilha especial para o turismo ecológico e religioso. O Balneário Canto das Águas, às margens do rio São Francisco, é mais um atrativo da região dos Lagos e Cânions do São Francisco. Já a famosa Ilha de Rarrá, com um arco de 8Km de extensão territorial, é um lugar paradisíaco no meio da logo Moxotó, em plena caatinga. Entre dunas de areias brancas e praia de água doce acessa-se as ruínas da Igreja Sagrado Coração de Jesus, localizada no estado vizinho, Pernambuco, na antiga Vila de Barreiras. O município tem no nome o estado daqueles que visitam suas terras, seja pelo deslumbre daquilo feito pelo homem, encoberto pelas águas ou esculpido pela mãe natureza.