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Carinhanha - Cidades do Velho Chico 22

Os erros do prefeito e o nosso futuro político

O leitor aqui do Contraprosa já sabe minha opinião sobre os políticos brasileiros hoje, com sua esmagadora maioria dançando conforme a música, num sistema completamente falido, prestes a enterrar o Brasil no lamaçal da incompetência e da ignorância. Mas no meio dessa sujeira toda, há alguns com oportunidades de escrever o nome por décadas nos anais da administração pública e, mesmo diante de tanta desgraça, ser considerado um estadista ou grande gestor. Quando não se sabe contornar o sistema para gerar os frutos comuns e corriqueiros, é preciso usar a inteligência para não ser engolido pelo reverso do que ele pode produzir. O sistema é planejado para produzir corrupção, mas é preciso contorná-lo para gerar também votos e prestígio, mesmo que isso seja apenas ilusão. Cabe então uma pergunta: o que faz o prefeito José Mendonça com uma administração tão pífia?

É costume dos políticos, por força da reeleição, praticar no primeiro mandato o que nós chamamos de maquiagem na administração pública, iludindo o eleitor. Ricardo Maia fez isso com sucesso em Ribeira do Pombal e está colhendo os frutos agora. Outros prefeitos, embora não tenham praticado tal performance de forma tão explícita, fizeram outros eventos, a partir de circunstâncias locais. Dr. Ricardo em Cícero Dantas, Germano na Ribeira, Paulo Sérgio em Adustina, Iggor Oliveira em Poço Verde, só para citar alguns. Nenhum deles trouxe nada de novo, fez transformação alguma. Apenas moveram as peças do xadrez embelezando a paisagem ou se locupletando do sistema. E Mendonça, o que está fazendo?

Afora a maquiagem feita no sistema de saúde, que deu alívio temporário ao povo, é incrível como o prefeito não está conseguindo realizar tarefas fáceis, comuns do dia a dia de uma administração. Uma simples correção no calçamento de uma rua pode levar meses. Algumas ainda não foram corrigidas ao longo de todo seu mandato. É incrível atestar que o ano letivo começou sem haver transporte escolar em algumas localidades. No povoado Arrozal, por exemplo, apesar de ter levado calçamento público, não consegue atender a simples tarefa de colocar um ônibus escolar para servir aos estudantes de forma efetiva. Na última semana, alunos ficaram sem fazer prova na segunda-feira (15.05) porque o veículo quebrou mais uma vez. Pais e mães tiveram que se juntar para alugar um carro, de forma emergencial, para que seus filhos não perdessem as outras avaliações do restante da semana.

Há certas coisas na vida, e também na política, que marcarão as pessoas para o resto da existência. Lula pode gritar o quanto quiser, mas não apagará a corrupção do Mensalão e Petrolão da história. Basta saber que já há maioria para condenar Fernando Collor de Melo a 33 anos de prisão pelos malfeitos na BR Distribuidora, no segundo mandato do governo Lula. Sim, isso mesmo! O homem que o petista já chamava de ladrão nos anos 90 virou aliado de governos do PT. Agora a conta chegou. Lula tinha razão nisso aí! Duvidamos que aconteça, mas Bolsonaro se arrependerá amargamente, mesmo que intimamente, de não ter se vacinado e incentivado vários dos seus seguidores a não o fazer. Era só uma picadinha, uma foto no jornal e milhares de pessoas salvas, diminuindo a conta dos setecentos mil mortos. Está pagando caro e vai continuar sangrando até desaparecer da memória do povo.

O povo do Arrozal vai esquecer um dia o benefício do calçamento, mas guardará na memória afetiva as quebras dos ônibus escolares e as aulas perdidas. Os doentes ficarão sãos e podem não mais se lembrar do médico que os atendeu no posto médico, da enfermeira que aplicou a injeção ou da atendente que lhe forneceu o remédio na farmácia do município, mas guardará com suplício o buraco na rua que não foi tapado ou o esgoto que escorre a céu aberto e exala seu odor insuportável. De tanto ver desmandos nas administrações públicas, o cliente desta república até aceita, infelizmente, a corrupção como algo inerente à política. Entretanto, deixar de atender o básico, aquilo que é fundamental para continuarmos seguindo, mesmo cambaleando, os ditames do processo social, é um perigoso teste da paciência do povo.

O atual prefeito de Heliópolis já jogou fora uma farmácia e uma lotérica. Parece que seu último ato é atirar pela janela a oportunidade de ser reconhecido como, pelo menos, um prefeito razoável, o que já seria suficiente para reelegê-lo. É bom lembrar que Walter Rosário só não se reelegeu porque desprezou estes pequenos detalhes e até hoje paga caro pelo seu desastre administrativo. Não somos donos de nenhuma verdade, mas é certo dizer que ou Mendonça está centralizando tudo e não deixando sua equipe trabalhar, ou os seus auxiliares são incompetentes. Mas há ainda uma terceira hipótese: ele é centralizador e os seus auxiliares incompetentes. Neste último caso, não há saída e a derrota em 2024 serão favas contadas. Só restará então saber se ele perderá para o novo ou para o de sempre.