Cidades do Velho Chico: Rodelas. Episódio nº03
Saindo do Distrito de Quixaba, seguimos pela BA 210 com destino à cidade de Rodelas, sempre margeando o Velho Chico. Seria uma pequena jornada de 95 kms. Ainda no município de Glória há um desvio da rodovia em direção à barragem de Itaparica, onde se gera energia elétrica da usina Luiz Gonzaga. Passando a barragem já é Pernambuco. Antes, seguimos pela esquerda ainda pela BA 210. Um mundo de água e verde povoavam todo o trajeto. Passamos na região de Alagadiço, Caraíbas, Penedo, Várzea Grande, Barra do Pajeú. Este último fica a poucos quilômetros, embora em solo baiano, da foz do Rio Pajeú, em Pernambuco, que desagua no São Francisco logo após receber as águas generosas do Icó. Tudo em volta é só beleza, águas azuis e inúmeros projetos de irrigação.
Próximo a Rodelas, é possível avistar as vastas áreas de plantações de coco, atividade que trouxe ao município um fio considerável de desenvolvimento nos últimos anos. Não é sem propósito que Rodelas é chamada de A Capital do Coco. No Censo do IBGE divulgado esta semana, a população do município chegou a 10.308 pessoas em 2022, o que representa um aumento de 27,95% em comparação com o Censo de 2010, quando apresentava cerca de 7.800 almas. O coco fez Rodelas entrar na lista das que mais cresceram na última década na Bahia.
Mas e como este povo chegou até
aqui? Tudo começa no século 16. A região fazia parte da rota migratória dos
índios que vinham do Piauí e finalizavam a caminhada na região zorobabel, território
de Rodelas. Com a chegada da missão francesa dos frades capuchinhos ao Rio São
Francisco, o contato inicial foi com os índios da tribo Tuxá, já
permanentemente vivendo na região onde se encontrava a velha povoação de
Rodelas. Além dos frades, colonizadores brancos recebiam terras para
arrendamento na Casa da Torre, de Dias D’Ávila. Mais tarde vieram os negros
fugitivos da Zona da Mata de Pernambuco. Passaram então a povoar o lugar em
torno de uma pequena capela construída pelos frades capuchinhos.
A questão agora é entender de
onde vem o nome Rodelas. E hoje não há mais dúvidas de que veio de um índio
chamado Francisco Rodelas, devidamente batizado e catequizado, que, chefiando
duzentos homens de sua tribo, lutou com bravura na Batalha de Guararapes contra
os invasores holandeses. Mas os registros da povoação localizada na grande
volta do Rio São Francisco só aparecem pela Lei Municipal nº 18, de 29 de abril
de1922, aprovada pela Lei Estadual nº 1582, de 17 de agosto de 1922, que criou
o Distrito de Rodelas, subordinado ao município de Santo Antônio da Glória.
Mais de 40 anos depois, a Lei Estadual nº 2764, de 30 de dezembro de 1962,
desmembra do município de Glória o distrito de Rodelas, que passa a ser
município.
As terras de Rodelas hoje limitam-se
com Glória, Paulo Afonso, Jeremoabo, Macururé e Chorrochó em território baiano.
Floresta, Belém do São Francisco, Itacuruba e Petrolândia em território
pernambucano. A cidade fica distante de Salvador 540 kms. A data em que os
rodelenses comemoram a emancipação é 31 de julho, quando farão 61 anos. O atual
prefeito é Emanuel Rodrigues Ferreira (PC do B), que venceu Geraldino de Livino
(PP) por 228 votos de frente. Rodelas tem uma área bem razoável, de 2.275,088
km2, o que dá pouco mais de 3 habitantes por km2.
Quem visita a cidade pela
primeira vez não consegue ver os seus defeitos porque se apresenta bem
organizada e limpa, pelo menos a praça principal, onde está a Igreja Matriz,
onde os devotos de São João Batista vão referendar o santo. A imagem do
padroeiro foi esculpida em pedra encontrada no leito do São Francisco. Segundo
a lenda, a imagem fora trazida para a pequena capela criada pelos frades. Outra
praça organizada é a da Bíblia e a Praça Firmino Ramos de Sá. De vários pontos
da cidade dá para avistar o São Francisco e não será difícil se deparar com uma
plantação de coco ao sair da zona urbana, porque a cidade está cercada desta
atividade agrícola.
Rodelas ficou nacionalmente
famosa porque faz parte da vida de Wagner Maniçoba de Moura, ou simplesmente
Wagner Moura, ator nascido em Salvador, mas que viveu sua infância e parte da
adolescência em Rodelas. Wagner Moura interpretou o personagem Capitão Nascimento,
no filme Tropa de Elite, além de ter participado de inúmeras novelas, filmes e
seriados no Brasil e em vários países mundo afora. Tomara que Rodelas continue
evoluindo para continuar exportando talentos para o mundo.