Um homem, um cavalo e o destino de um país
Landisvalth
Lima
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Jair Bolsonaro montou no cavalo e não sabe o que fazer (foto: CompreRural) |
Meu avô me dizia, certa feita,
que quando um cavalo nos é ofertado, se bem selado, devemos aproveitar ao
máximo a jornada. Mais ainda chamava a atenção ele que isso jamais ocorreria duas
vezes. Uso este aforismo popular para iniciar dizendo que o nosso presidente da
República não está querendo cavalgar no mandato que lhe deram ou não sabe o que
fazer com um cavalo.
Digo isso porque um homem, que
ficou quase trinta anos num mandato de deputado federal, sem nenhum fato
engrandecedor, que ficou mais conhecido pelo seu amor ao Golpe de 64 (Ele
insiste em dizer que foi uma revolução!), que chegava às manchetes de jornais
pelo seu comportamento intolerante com socialistas, homossexuais e transgressores
diversos, numa nação civilizada, jamais seria alçado à condição nobre de
Presidente da República.
Jair Messias Bolsonaro não
chegou à presidência pelo seu currículo. Foi sorteado! Isso mesmo. A maioria
esmagadora do país estava de saco cheio do discurso mentiroso de um conjunto de
políticos de uma pseudoesquerda. Afora o meu querido Nordeste, sempre generoso
com coronéis e políticos pseudorrobinhoodeanos, a esquerda levou uma surra
histórica. Somado a tudo isso, a mesma esquerda foi incapaz de admitir erros.
Para implantar a ditadura do proletariado, valia tudo. Juntaram-se com a elite,
praticaram atos vergonhosos de corrupção, engessaram a máquina pública, doutrinaram
os pobres. Só não conseguiram o domínio da classe média, da imprensa e da mídia
alta.
Naturalmente, após o fiasco do
governo Dilma Rousseff, e da incapacidade do PSDB de ser oposição – porque era
também protagonista do mesmo esquema de corrupção em outras esferas – o povo,
por um conjunto de sentimentos (raiva, vingança, decepção e outros), somado ao
desejo de implantar algo novo, viram o Capitão como salvação. Esqueceram seus
defeitos ou os viram como bem mais leves que os do PT. Entre um tiro na cabeça
e um soco no estômago, vai o último. Mais de 57 milhões enterraram a arrogância
petista, o domínio de uma nação a partir de uma cela da Polícia Federal em
Curitiba.
O caminho para Bolsonaro estava
tão pavimentado a ponto de ele vencer as consequências de uma facada, elevar
seu partido ao topo do mais votado e eleger todos da família que se candidataram
a algum cargo. O cavalo estava selado. Dia primeiro, Bolsonaro montou no cargo.
Rodeado de militares com fichas impecavelmente limpas, tinha tudo para iniciar
a maior revolução administrativa da história. Mas, em exatos 45 dias de governo,
nunca se viu tanto perrengue, tanta muvuca. Não sabe o Capitão para onde vai.
Das promessas de um novo tempo, começa com sete auxiliares envolvidos em algum
problema com a justiça. Um ministro seu chegou a dizer que desconhecia Chico
Mendes, ou que ele foi irrelevante.
Bolsonaro precisa saber que não
há necessidade de ele combater a esquerda. Ela é autofágica. Morre pela própria
língua e pelos atos incoerentes. O Capitão precisa saber que seu eleitorado não
é doutrinado, nem pela esquerda ou pela direita. Seus eleitores querem um
Brasil grande, próspero, onde a liberdade seja sempre o norte. É inaceitável vê-lo
brigando com a Rede Globo, implacavelmente perseguida por petistas e
adjacentes. Parece que o jornalismo independente da família Marinho está incomodando
o até agora pseudo novo governo do PSL.
Para completar, numa intriga
ainda sem explicação, envolvendo o seu filho Carlos e o ministro da secretaria
de governo, o Bebbiano, coloca em risco uma maioria já consolidada no Congresso,
necessária para a aprovação de medidas fundamentais para novos tempos. Curioso
é a alegação para a demissão do auxiliar: a relação pessoal de confiança foi
quebrada. Mais uma vez, como sempre foi, deve-se tudo ao rei. O país pouco
importa.
Por fim, o presidente, de cima
do seu cavalo, está com medo de trotar os caminhos tortuosos da política? Está
com medo de ousar? Se assim continuar, logo logo perderá seus soldados. Se não
seguir ousadamente em frente, passará a impressão de que não estava preparado
para o cavalo selado à sua frente. Ganhou, montou mas não sabe o que fazer com
ele. Aí, só restará a torcida de muitos para que um Mourão o derrube da sela e
faça o que deve ser feito.