Ildinho, entre Zé do Sertão e Valdelício, vendo os votos que configuraram a traição (foto: Landisvalth Lima) |
Uma palavra só poderia resumir o
que ocorreu neste primeiro dia deste já real 2017: indignação. Depois de uma
manhã tranquila, serena e nublada, o povo e os políticos foram para a Igreja da
Matriz do Sagrado Coração de Jesus, em Heliópolis, para uma Missa em Ação de
Graças. Bem como disse o padre João Maranduba, “para agradecer o que alcançamos
e o que desejamos alcançar.” Lá estavam Ildefonso Andrade Fonseca, o prefeito
eleito; Ana Dalva Batista Reis, Ronaldo Santana, José Clóvis Pereira e Maria da
Conceição Andrade, os vereadores, e seus familiares. Faltaram o vice-prefeito
eleito, José Emídio Tavares, e o vereador Valdelício Dantas da Gama. Estava ali
configurado que a oposição engordou. Também, nenhum dos vereadores eleitos de
fato pela oposição marcaram presença.
Apesar da indignação da ausência
da oposição e dos novos membros que aderiram a ela, o evento não foi triste.
Uma banda musimarcial desfilou pelas ruas da cidade, guiadas pelo prefeito e
pela primeira dama Santaninha. A Missa começou por volta das 10 horas da manhã
e foi bastante organizada. O padre João pediu que o prefeito governasse para
todos e que a igreja não tinha partido. Aquela missa era para agradecer as
graças alcançadas de todos. Findada a parte litúrgica, as autoridades e o povo
seguiram para a Câmara Municipal de Heliópolis. Lá, uma multidão aguardava a
posse dos eleitos.
Após orientação aos eleitos sobre
a documentação a ser providenciada, percebemos a ausência do advogado dr.
Gabriel Fontes. Informações indicavam que já havia um acordo para ser o
advogado da Câmara Municipal o advogado do vice-prefeito eleito. Iniciaram-se
os trabalhos. O presidente que saía passava o comando para o vereador mais
idoso, justamente o Valdelício Dantas da Gama que, até o dia anterior, fazia
parte do grupo do prefeito eleito. Tudo isso após formar toda a mesa com os
eleitos. Depois o vereador mais idoso devolveu a bola para o ex-presidente da
casa, nomeando-o para secretariar os trabalhos. Esse jogo já começava a
impacientar o público que, vez ou outra, soltava uma vaia, um apupo e até
gritos de “ladrão”, direcionados ao vice-prefeito eleito. A história do
rompimento com o prefeito já não era mais segredo.
Depois dos juramentos, leitura de
declaração de bens e posse, foi a vez da eleição para os membros da mesa. Como
adiantou este blogue, a chapa nº 01 tinha como candidato a presidente
Valdelício Dantas da Gama – Vice-presidente, Giomar Evangelista dos Santos – 1º
Secretário, Manoel do Tijuco e, como 2º secretário, Doriedson Oliveira. A chapa
nº 02 já havia sido inscrita e trazia como presidente, José Clóvis Pereira –
vice-presidente, Maria da Conceição – 1ª secretária, Ana Dalva Batista Reis e,
2º secretário, Ronaldo
Santana. Durante todo o processo, a indignação do público aumentava. Gritos,
palavras de ordem, xingamentos, vaias, dirigidas sempre a Zé do Sertão,
Valdelício ou Giomar Evangelista. Ildinho foi aplaudidíssimo. Ana Dalva, Ronaldo,
José Clóvis e Maria de Renilson igualmente. O público já havia tomado partido e
a sessão solene ameaçava caminhar para o descambado, embora Giomar tentasse em
vão silenciar a plateia.
Começa então o processo de votação, logo após a
assinatura das cédulas eleitorais. Um a um seguem para o voto direto e secreto.
Ao final, é feita a contagem e os números refletem o que todos já esperavam:
Chapa 01- 5 votos, Chapa 02- 4 votos. Os novos administradores da Câmara
Municipal de Heliópolis tomaram posse para os próximos dois anos, claro,
debaixo de uma sonorosa vaia. Já no cargo, Valdelício Dantas da Gama dá posse
ao vice-prefeito Zé do Sertão. Ninguém ouviu seu juramento. Nunca se viu uma
quantidade tão grande de palavrões direcionados a um político na história de
Heliópolis. A gritaria foi espetacular. Embora a mesa tentasse conter os
ânimos, a ação foi inútil. Quando foi a vez do prefeito Ildinho, houve também
muita zoada, mas eram aplausos, gritos de “Ildinho, Ildinho!”, um dos poucos
momentos alegres da solenidade de posse dos eleitos.
O momento infeliz ao extremo foi quando foi dada a
palavra a Zé do Sertão. Mais vaias, mais gritos ofensivos. Um verdadeiro
tumulto. Teimoso, o vice-prefeito continuou falando, mas era uma disputa
insana. A plateia sempre foi mais forte. Para aumentar a desgraça, Giomar
Evangelista ameaçava tomar providências e chamar a polícia. Mas não adiantava,
o povo estava irritado com a traição de Zé do Sertão ao grupo fundado por ele
próprio. Para evitar um problema maior, já que o presidente não tomava uma
atitude, o prefeito empossado e os vereadores governistas se retiraram do
Plenário e convocaram a todos para deixarem a Câmara Municipal.
Com o Plenário vazio, Valdelício tentou
justificar sua atitude de mudar de lado mais uma vez, rotina na sua atuação ao
longo dos oito mandatos. Giomar Evangelista, como sempre, enalteceu suas
supostas virtudes, já com a presença ostensiva da Polícia Militar. Após o
encerramento, os governistas voltaram para assinar o Termo de Posse quando tudo
parecia caminhar para a normalidade. No dia em que Ildinho perdeu a maioria na
Câmara Municipal e rompeu definitivamente qualquer possibilidade de
reaproximação com seu vice, numa atitude inteligente, esvaziou o ambiente do
Poder Legislativo e evitou uma tragédia anunciada desde o início da sessão.
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