Landisvalth Lima
Linha de produção da Dakota (foto:Jairo Andrade) |
Muito já se falou, e é verdade,
do quão significativa é a instalação de uma fábrica numa cidade do interior.
Além de desenvolver a região, evita imigração para os grandes centros, já atolados
em problemas por causa da alta densidade demográfica. Desde a entrada em
funcionamento da fábrica da Dakota Calçados S/A em Poço Verde, em 1º de abril
de 2014, vive o município sergipano a expectativa de, agora sim,
desenvolver-se. Ocorre que não há desenvolvimento pleno sem qualidade de
vida. Não se pode medir progresso apenas pelo aumento do nível de emprego ou
arrecadação. Esta visão capitalista é selvagem.
Para entender o que aqui afirmo,
é preciso fazer um histórico rápido sobre a vinda do grupo Dakota para nossa
região. Fundada em 07 de dezembro de 1976, segundo informa o próprio portal, a
Dakota é atualmente uma das maiores empresas calçadistas da América Latina, com
8 fábricas distribuídas nos estados do Rio Grande do Sul, Ceará e Sergipe. Sua
capacidade de produção hoje é de 80.000 pares de calçados por dia, exportando
para todo o mundo. O grupo está dividido em três empresas: A Dakota S/A, que
mantém duas unidades no estado do Rio Grande do Sul, municípios de Sarandi e
Nova Petrópolis; a Dakota Nordeste S/A, com quatro unidades no estado do Ceará,
municípios de Quixadá, Maranguape, Russas e Iguatu e a Dakota Calçados S/A com duas
unidades no estado do Sergipe, municípios de Simão Dias e Poço Verde. Hoje, o
número de funcionários ultrapassa 12 mil em todo o grupo.
A empresa chegou a Poço Verde através
dos incentivos fiscal e locacional concedidos pelo Governo de Sergipe – por
meio do Programa Sergipano de Desenvolvimento Industrial (PSDI). O investimento para construção da fábrica no
município foi de exatos R$ 22.527.489,00, como informa detalhadamente o portal
da Prefeitura Municipal de Poço Verde. A previsão inicial era de gerar 300
empregos, mas hoje beira 500 empregados e falam que a meta é chegar aos 2.500
funcionários, mesmo número que abriga atualmente a fábrica em Simão Dias.
Portanto, a Dakota não veio para Poço Verde porque se encantou com o rio Real.
Ela terá isenção de vários impostos por 25 anos, já que uma lei do governo
Marcelo Déda ampliou o prazo que era de apenas 15 anos.
Dakota: calçados elegantes produzidos sob condições questionáveis |
Vários casos inaceitáveis chegam
aos nossos ouvidos e não são queixas de preguiçosos. Todos sabem que uma
fábrica tem que produzir bem e cada minuto perdido vale ouro. O trabalho é
intenso, mas não deve ser confundido com castigo. O empregado precisa de
conforto para realizar sua atividade laboral. Além disso, ele tem que sair de
casa e ir para o local de trabalho sem se parecer com alguém indo para a cadeia.
O funcionário tem que vestir a camisa da empresa, defendê-la com prazer como se
fosse um patrimônio também seu. Isto refletirá significativamente na produção e
o lucro será cada vez maior. Para isso, o trabalhador terá que ser tratado como
um colaborador, um coproprietário e receber dividendos do sucesso do empreendimento.
Dá a impressão que a Dakota está
se aproveitando da condição de ser a única fábrica em Poço Verde para colocar
em prática um dos mais modernos processos de escravidão, coisa que foi detectada
em empresas como a Zara. Essa coisa de vender a imagem de ser “chique” para o
mundo da alta moda, mas manter funcionários trabalhando em condições subumanas,
remunerando com o mínimo que a lei obriga não pode ser coisa aceitável numa
empresa em pleno século 21. Pior ainda é, em pleno Carnaval, obrigar todos a
comparecerem ao trabalho, inventando a desculpa esfarrapada de que não é feriado
municipal, como alegou a empresa em postagem no CNNPV, do professor Jorge Leal.
Será que o diretor industrial da Dakota, Onório Rodrigues da Silva, não sabe
que há empresas que precisam dos feriados para faturarem e que as pessoas
precisam do carnaval para desfilarem com suas Dakotas nos pés e viver um pouco
mais a vida? Acho eu que ele ainda não descobriu que o lazer não é só para quem
gosta, mas uma necessidade para o organismo. Afinal, viver é, acima de tudo,
ter qualidade de vida.