RANIER BRAGON – da Folha de São
Paulo
Marina Silva (#REDE) deu entrevista à Folha no gabinete do senador Pedro Simon (PMDB) |
Maior beneficiária do abalo que
as manifestações de rua causaram no mundo político, a ex-senadora Marina Silva,
55, diz que os protestos que recorrem à violência "extrapolam" os
limites da desobediência civil aceitável. Tendo saltado de 16% para 26% das intenções
de voto, ela diz que foi um "erro em todos os aspectos" a presença de
um membro da Rede na depredação do Itamaraty. "No Estado Democrático de
Direito existem regras." Ela também diz acreditar que o apoio popular ao
nome de Joaquim Barbosa à Presidência representa mais um desejo de justiça que
uma real aspiração de que o relator do mensalão comande o país: "Desejos
por messias não são bons em hipótese alguma".
Folha - A sra. dizer que não é
candidata não contradiz seu discurso de autenticidade?
Marina Silva - Mas eu não estou
dizendo que não sou. Digo que não estou no lugar de candidata, que a candidatura
é uma possibilidade.
Caso a Rede não seja criada a
tempo, o nome Marina Silva estará na urna em 2014?
Não quero falar por hipótese.
Estamos focados na Rede.
Vocês estudam impor limites a
doações, têm pouco tempo na TV e palanques fracos nos Estados. Campanha desse
jeito não é muito "sonhatismo"?
Não sei o que você chama de
"sonhatismo". Gostaria de saber o que seria muito realismo? É aceitar
o que está aí como uma fatalidade e que não existe saída?
A sra. vê Joaquim Barbosa como um
candidato viável?
O que a sociedade está
sinalizando com certeza é que tem um desejo imenso de que a justiça seja feita,
que a impunidade deixe de ser uma realidade no nosso país.
Não como candidato salvador da
pátria, um messias...
Desejos por messias, eles não são
bons em hipótese alguma, não existem salvadores da pátria, existem homens e
mulheres que se dispõem a construir a pátria.
A sra. apoia atos que resultam em
depredações e confrontos?
Eu tive um momento muito
importante na minha vida na década de 80 quando fizemos os movimentos contra os
desmatamentos na Amazônia. Havia um grupo que achava que éramos tão indefesos
que tínhamos de enfrentar os jagunços na mesma moeda. Na época eu vi serem
assassinados [os ambientalistas] Wilson Pinheiro, Chico Mendes e João Eduardo.
Minha opção sempre foi de fazer movimentos pacíficos. Atos de desobediência
civil podem ser feitos de forma pacífica, sem desrespeitar direitos
fundamentais--por exemplo, agressão às pessoas, ao patrimônio.
Como as autoridades devem lidar
com essas situações?
No Estado Democrático de Direito
existem regras a ser observadas. O Estado está ali para assegurar inclusive os
direitos dos manifestantes de se manifestarem, mas também para proteger o
patrimônio das pessoas e o patrimônio público.
A sra. acha que aquele integrante
da Executiva da Rede errou no ato do Itamaraty?
Ele próprio reconhece que errou.
Sei que ele errou em todos os aspectos, até porque no meu entendimento não é
com uma atitude violenta que se vai resolver os problemas.
Qual é a impressão que a sra. tem
de movimentos como a Mídia Ninja e Fora do Eixo?
Eles estão vivendo agora uma
série de críticas. Não tive tempo de aprofundar essas críticas. O que merece
reparação deve ser reparado. Se tem que algo a ser investigado, tem de ser
investigado.
Petistas dizem que a sra. perderá
apoio por causa das suas posições conservadoras.
Se você fizer uma pesquisa da
forma como a ministra Dilma e o governador Serra se portaram nas eleições do
segundo turno de 2010, acho que dificilmente conseguiríamos algo mais
conservador do que aquele tipo de postura. A diferença é que eu procuro dizer
exatamente aquilo que penso.
A sra. diz que manteve nos
últimos anos uma agenda socioambiental. Acha que até a eleição é possível
complementar esse perfil?
Mas quem foi que disse que
defender meio ambiente não é tratar de economia, que falar de desenvolvimento
sustentável não é falar de infraestrutura, de educação, de ciência, de tecnologia,
de agricultura?
A aparência não é essa: o
Datafolha mostra que a sra. é vista pela população como uma das menos
preparadas para administrar a economia.
A população tem direito de saber
mais das pessoas que ela não conhece. Imagino que o sociólogo FHC e o operário
Lula também tenham suscitado algumas dúvidas.
Ao se aproximar de André Lara
Resende, a sra. não teme ser associada ao governo FHC?
Se Lula fosse se preocupar em ter
ouvido uma série de pessoas que já deram contribuição em vários governos, ele
não seria hoje o grande admirador do Delfim [Netto] que ele é.
Autonomia do BC para a senhora é
"clausula pétrea"?
Autonomia do BC é necessária,
fundamental. Eu não acho que devemos é entrar no caminho da institucionalização
dessa autonomia.
Mexeria na Previdência?
O Brasil precisa encarar as
grandes reformas: política, da Previdência, tributária.
Trabalhista?
É algo a ser pensado.