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Neópolis - Cidades do Velho Chico - 31

A Jornada Pedagógica e a educação da Bahia

Não vou alongar este artigo com as imensas possibilidades que a equipe da DIREC-11 tem para fazer um bom trabalho na área de educação. Como o objetivo aqui é contribuir para uma melhora, deixarei de lado a enumeração das contribuições que Pedro Fernando, José Hilton, Simone, Fafá, Jucimar, Tânia, Lílian Peixinho e tantos outros guerreiros da DIREC de Ribeira do Pombal fazem para que a educação de nossa região progrida. Pautar-me-ei, pois, nas falhas ocorridas na Jornada Pedagógica 2010, promovida pela Secretaria da Educação do Estado da Bahia.
Começarei pela nova grade curricular. Que me perdoe o professor Osvaldo Barreto, Secretário de Educação, mas se ele conhecesse a realidade das escolas desta região, jamais tiraria uma aula de Português do currículo. Digo mais, colocaria mais duas como obrigatórias para o ensino de redação. Sua nova grade curricular é quase um desastre. A aula de Matemática, que também foi cortada, só teria sentido com a obrigatoriedade do ensino de informática educacional, como disciplina mesmo. As disciplinas eleitas foram Filosofia e Sociologia. Sinceramente, vamos resolver o problema educacional com estas duas disciplinas como obrigatórias em todas as séries do Ensino Médio? Os concursos cobram conteúdos filosóficos ou teorias sobre sociedade? Vá lá que, aqui e ali, estas disciplinas ajudem na resolução de questões da área de humanas. Agora, se o aluno não sabe ler e escrever com fluência na lª série do Ensino Médio, como estas disciplinas resolverão a questão?
E não me venham para cá dizer que foram técnicos renomados que propuseram o novo currículo. Foram técnicos renomados que também propuseram o Construtivismo e veja no que deu. No papel a idéia é fantástica, mas nós ainda temos problemas sérios para resolver. Não adianta colocar o aluno diante de um computador numa planilha do Excel se ele não sabe fazer as quatro operações, no mínimo. Não adianta colocar Aristóteles diante de um aluno que mal sabe escrever fizolofia. A verdade é que o fracasso da educação na Bahia não está no currículo, na ausência de regimento na unidade escolar, na não elaboração do PPE ou na falta de reuniões de AC. Estes elementos são complementares. Eles pouco contribuem na decadência ou ascendência do resultado em sala de aula. A essência da escola está no ato do professor ensinar e do aluno aprender. Para que a educação seja de qualidade, é preciso que professor e aluno sejam eficientes nas suas funções. Os outros elementos: currículo, estrutura, objetos pedagógicos, planejamento, assiduidade, bons salários, transporte, condições sociais adequadas, projetos etc contribuem, complementam, mas não são essenciais!
Deveríamos, antes de obrigar o ensino de Filosofia e Sociologia de forma ampla, lembrar a inúmeros professores, coordenadores, diretores e técnicos que a educação não pode ser vista como bico, como elemento de garantia de uma boa aposentadoria. A educação não pode ser usada para nomeação de afilhados políticos incompetentes. Pensávamos que a estabilidade no emprego e a gestão democrática resolveriam a questão. Os concursos estão rareando, a seleção feita pelo REDA é incoerente e a eleição para diretor só funcionou em metade das escolas. Para completar o quadro, professores do REDA estão sendo obrigados a ensinar disciplinas que não dominam. Como pode um professor iniciante ministrar 18 horas-aula em 06 disciplinas, Matemática, História, Filosofia, Educação Física, Artes e Geografia, sabendo-se que ele foi selecionado para ensinar Matemática? Ou ele é um gênio, ou vai ensinar o que sabe e enrolar nas outras.
Os índices de rendimento educacional dos nossos alunos estão lá embaixo. O ENEM foi criado para medir o rendimento dos alunos. Quem está em primeiro lugar? A escola particular. É bom que se diga: as melhores escolas particulares não perdem tempo com estas discussões. Selecionam os professores, fazem uma reunião, cobram o programa, exigem resultados e são os primeiros de todo e qualquer exame que venha a medir os rendimentos escolares. Sei que a professora Gilza Andrade, uma das palestrantes da sexta-feira na Jornada, discorda disso, mas ela é coordenadora, e eficientíssima, da Faculdade Ages, que propaga e tem orgulho da sua brilhante colocação entre as melhores do Nordeste do Brasil. E foi a prova que mediu tudo isso. E não me venham dizer que a prova do Enem exige o aprofundamento destas novidades. As questões do Exame Nacional do Ensino Médio mesclam várias disciplinas, com inteligente raciocínio lógico. Pergunto: o aluno ruim em Matemática e Português tem alguma chance?
Digo mais. Querem mudar o foco da escola competitiva? Mudem os concursos. Mudem as formas de seleção para vestibulares e afins. Imaginem a Petrobrás fazendo uma seleção de funcionários. Os selecionados seriam os sujeitos pensantes ou os sujeitos com saberes? O pensante não sobrevive sem o saber. Nossos alunos estão saindo da escola pública com pouco o quase nenhum saber. Temos alunos no Ensino Médio que não passariam numa prova de 5ª série de Português ou Matemática. A avaliação tem que ser classificatória e seletiva para que o professor possa trabalhar com os que fracassaram de forma mais pertinente. O fracasso é o feedback mais importante, mas ele não pode vencer. É preciso parar com esta história de ficar reinventando a roda. Temos teorias demais, idéias demais, fracassos demais! Precisamos colocar o que já existe no caminho do progresso. Estas mudanças constantes atrapalham e desestimulam alunos e professores.
Aos participantes da Jornada Pedagógica 2010 deixo aqui o meu apreço. Ouviram tanta coisa com paciência de Jó, mas estavam nitidamente decepcionados. Perdemos a oportunidade de debatermos problemas mais significativos. Só nos restou discutir algo já posto, ou melhor, imposto! A democracia na educação da Bahia é uma falácia. Quem quiser saber pergunte a Dona Josefa Elza, toda poderosa primeira dama de Heliópolis e diretora do Colégio Estadual José Dantas de Souza. Afinal, não organizar um horário escolar para prejudicar um profissional só porque é esposo de uma vereadora que faz oposição ao prefeito, não convidar os professores que lhe fizeram oposição para a solenidade de formatura dos alunos da escola, e outros males já neste blog citados, não podem ser exemplos de escola democrática ou de novos desafios para a escola pública. Tais comportamentos é que devem ser cortados e não as aulas de Português ou Matemática.
Por fim, acredito que aquele vídeo sobre a Escola do SESC do Rio de Janeiro foi o marco desta Jornada. Foi um tapa nos dirigentes incompetentes, outro nos professores descompromissados com a educação de qualidade. Foi uma facada nos que colocam os alunos para fazerem cópias e ficam conversando fofocas na secretaria do colégio, outra mais profunda nos que distribuem médias gratuitas sem ter dado assuntos por todo o ano. Mas foi um refrigério para os muitos que sonham com uma escola pública competente. Espero que este artigo não sirva de estímulo ou desculpa para não aceitarmos o que está posto e cruzarmos os braços. Mesmo com os erros cometidos pela cúpula da SEC, ainda é possível, se atacarmos as verdadeiras causas, colhermos resultados positivos. Como? Despolitizem a educação, valorizem os que sabem e os que querem saber. Professor não é empregado, é educador. Aluno não é cliente, é cidadão. Escola não é segundo lar, é local onde se aprende e onde se ensina. Os resto é modismo e conversa fiada!