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Poucas & Boas nº 110: Onde está a mudança?

A história do São Pedro de Heliópolis

                  Reportagem: 
                  João Antônio, Breno Alves, Micael Nobre e Dhomini Ícaro
São Pedro de Heliópolis 2017 - o primeiro na nova Praça de Eventos (foto: Landisvalth Lima)

A história do São Pedro de Heliópolis, na Bahia, se mistura com um então jovem político chamado José Emídio Tavares De Almeida, popularmente conhecido como Zé do Sertão, que logo após ser eleito o primeiro prefeito do município, teve uma a grande ideia que mudaria a história da cidade. Pensou em criar uma festa de grande porte, coisa nunca antes vista em Heliópolis, pois todos os outros eventos da cidade eram de cunho religioso, como os festejos natalinos, novenas e outros.
   Inicialmente a ideia de Zé do Sertão era trazer um trio elétrico, com a intenção de fazer uma festa semelhante ao aclamado carnaval de Salvador, mas essa ideia foi descartada por seu correligionário e colaborador, e mais tarde apresentador do São Pedro, professor Landisvalth Lima. Este alegou a falta de estrutura da cidade e até uma falta de coerência, pois trio elétrico não tinha nada a ver com a cultura local. Deu a ideia de, ao invés de um festejo semelhante ao de Salvador, que se fizesse uma festa que difundisse as origens da cultura do nordeste brasileiro.
  Pondo o forró em sua experiência como trilha sonora principal, e sendo uma festa projetada para se passar em um ponto espaçoso da cidade, as coisas que faltavam para a primeira edição do São Pedro, em 1987, seriam agora atrações e uma boa divulgação. Como atração principal da primeira edição do São Pedro foi contratado o cantor Genival Lacerda, famoso na época pela música Radinho de pilha, que tornou famoso o refrão “Ela deu o rádio”, de intencional duplo sentido e uma melodia dançante que conquistou o grande público.
  Decidida a realização do São Pedro, na divulgação da festa, Zé do Sertão não poupou esforços. Realizou festas menores em todos os povoados que do município, os chamados Esquenta São Pedro, ótimos aperitivos que deixavam um gostinho de quero mais na população desses povoados. E como se não bastasse as festas, o prefeito Zé do Sertão ofertou transporte gratuito em todos os povoados.
  Com tudo para dar certo, a saudosa primeira edição do São Pedro aconteceu divido em três noites, lotando o calçadão da Rua Régis Pacheco, conhecida como Rua das Pedrinhas, e fazendo esposas colocarem a mão na frente dos olhos de seus maridos. Moças de biquínis desfilavam no palco ao lado de Genival Lacerda e a primeira multidão aplaudia a novidade. Não satisfeito com as proporções dessa primeira edição, pensando em uma forma de prover mais ainda a festa recém lançada, decidiu sair a busca do Rei do Baião, Luiz Gonzaga, na cidade de Exu, em Pernambuco.
  E novamente a cidade de Heliópolis é surpreendida pela audácia do prefeito. Em um dia daquele mágico ano para a história heliopolense (1988), José Emídio aparece com o filho de Januário Gonzaga, coisa que não era esperada, pois o cara era ídolo nacional e cuidava da saúde abalada. Heliópolis, uma recém emancipada cidade da Bahia, que fica a mais de 330 Km de distância de Salvador, teria condições de contratar o ícone da música nordestina?
  Fato é que a segunda edição do São Pedro de Heliópolis aconteceu e foi outro sucesso estrondoso, superando a edição anterior e entrando não só pra história do município, mas até pra história do próprio Luiz Gonzaga, pois essa foi sua última apresentação em solo baiano.
  Alvorada: nascimento e oficialização
  A alvorada, conhecida por anteceder o São Pedro, têm uma história consideravelmente recente em relação ao nascimento do evento. Na medida em que os anos se passavam, novas gerações se integram aos festejos e novos costumes nasciam. Algumas pessoas resolveram fazer uma brincadeira entre amigos e acabou se transformando na Abertura do São Pedro de Heliópolis.
  A Alvorada da festa foi oficializada no ano de 2009, permitindo ao festejo ser iniciado antes das três noites de festa que paralisavam a cidade. Começou com pequeno suporte logístico, como uma espécie de “esquenta” para a festa. Com o passar dos anos, aumentou de proporção, até ser oficializada pelo ex-prefeito Walter Almeida Rosário, no ano de 2009.
Alvora do São Pedro: brincadeira que virou coisa séria (foto: Landisvalth Lima)
  Com atualmente nove edições oficiais, A Alvorada do São Pedro de Heliópolis arrasta uma multidão de foliões pela avenida Helvécio Pereira de Santana, puxada por um trio elétrico, muita música e bebida alcoólica. Tudo que um jovem precisa para dar algum sentido a sua vida.
   Economia de Heliópolis em tempos de São Pedro
   No período pré e pós São Pedro, o tráfego de capital circulante em Heliópolis é facilmente notado. A dinheirama entra e sai aos montes no município. Com a vontade de sair bem na foto, numa espécie de fenômeno anual, a população da cidade de Heliópolis sai em busca roupas e calçados. Esse tipo de compra que acontece on-line, em lojas ou, em maior número, em barracas de outros municípios que vêm a Heliópolis na garantia de boas vendas, faz circular a moeda e gera dividendos ao município.
   Por outro lado, o São Pedro de Heliópolis não se limita ao povo do município. É a grande festa da cidade e uma das principais em toda a região Nordeste da Bahia, sempre trazendo inúmeras pessoas vindas de cidades vizinhas ou de cidades relativamente distantes. Exemplos são os filhos de Heliópolis que hoje moram em cidades do sudeste e, todos os anos, marcam presença na festa. É esse fenômeno a causa do alto capital circulante na cidade, gasto em atrações vindas de fora ou no comércio local, fazendo a economia heliopolense ferver neste período.
  Turismo durante o São Pedro
   As animadas noites do São Pedro da cidade recebem cerca de 35 mil pessoas, um grande número para uma pequena cidade como a de Heliópolis. Esse grande número se dá por recebermos uma grande quantidade de turistas que vem apenas para acompanhar esses três dias de festa. Muitos desses turistas vêm de cidades vizinhas como Poço Verde, Tobias Barreto, Lagarto, Simão Dias e Aracaju, em Sergipe; Ribeira do Pombal, Ribeira do Amparo, Cícero Dantas, Fátima, Salvador e outras cidades da região.
 Um grande número também vem do estado de São Paulo, já que muitos heliopolenses migraram daqui para as grandes cidades do estado paulista e aproveitam essa festa para rever a família e curtir com amigos. Muitos desses diferentes foliões passageiros permanecem em Heliópolis por períodos bem maiores que os três dias da festa. Aproveitam esse tempo para gozar férias trabalhistas, visitar parentes e matar a saudade de sua terra Natal.
   Praça de Eventos: novo palco do São Pedro e seus benefícios para Heliópolis
   A festa era tradicionalmente realizada na Praça Regis Pacheco, em um local popularmente conhecido como Calçadão das Rua das Pedrinhas. Com o crescimento alarmante do público do São Pedro, foi construída na Praça Isabel Ribeiro, ainda na primeira administração do atual prefeito Ildefonso Andrade Fonseca, o Ildinho, uma espaçosa praça de eventos, com belo designer, que atualmente recebe os shows do grande São Pedro de Heliópolis. Depois de sua inauguração, a jovem praça foi palco das duas últimas edições do São Pedro, de 2017 e 2018, superando expectativas e se transformando em sucesso, depois de ser fortemente criticada, principalmente pela classe política que faz oposição à gestão do atual prefeito Ildefonso Andrade Fonseca.
  Em um cenário distante das grandiosas noites de festa, a praça de eventos é diária e amplamente utilizada pela população heliopolense para a prática de esportes, inclusive futebol, ciclismo, skate, caminhadas, corridas, ginástica, dentre outras atividades. Também passou a ser um grande ponto de encontro da população, mostrando que ela não vive só de São Pedro, mesmo sendo o local ideal para o mesmo.
    Alcoolismo: reflexos no São Pedro
   É inegável o sucesso do São Pedro, com inúmeros pontos positivos que fazem dessa festa a maior do Nordeste baiano, mas há um contraponto a toda essa alegria contagiante: o excesso de pessoas que não moderam o uso de bebidas alcoólicas. É cada vez maior o número de pessoas viciadas no uso exagerado do álcool que marcam presença nas edições do São Pedro. Na edição deste ano não foi diferente.
   Os casos variam de pessoas passando mal por conta do abuso no uso do álcool no organismo a eventuais brigas pelos mais diversos motivos, sempre potencializados pela famosa “pinga”. Este ano, por precauções tomadas pela organização, não houve violência nenhuma registrada, mas pessoas passaram mal pelo excesso de bebidas alcoólicas, revelando o outro lado da festa. Este problema vem se tornando cada vez mais visível e não é exclusividade do São Pedro de Heliópolis. Está virando um problema extremamente comum na sociedade brasileira, inclusive protagonizado por jovens e adolescentes.

Esta reportagem é parte avaliativa da disciplina Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, desenvolvida por alunos do Colégio Estadual José Dantas de Souza e solicitada pelo professor Landisvalth Lima.