Profissionais do Instituto
Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), do Rio, já fizeram mais de 2 mil
operações desde 2003
CLARISSA THOMÉ / RIO - O Estado
de S.Paulo
Dr. Paulo Prado: 84 anos e dedicação ao próximo. (Foto: Tasso Marcelo/AE) |
A professora Zuila Nogueira dos
Santos tinha 35 anos quando ouviu um diagnóstico que mais parecia sentença: não
voltaria a andar. A artrite, que desde os 12 anos lhe provocava dores, havia evoluído
para artrose e destruído o osso do encaixe do fêmur com a bacia. Dependente da
cadeira de rodas havia quatro meses, não teve outra alternativa senão mandar o
filho viver com o pai. Precisava de ajuda para as tarefas mais simples. Zuila
conta essa história em casa, aos 42 anos, no município de Porto Valter (AC), a
12 horas de distância da capital, Rio Branco. Sorri ao falar dos momentos de
angústia - ao todo, locomoveu-se por um ano e sete meses com a cadeira de
rodas. Ao contrário do prognóstico inicial, Zuila voltou a andar. Ela foi uma
das beneficiadas pelo projeto Suporte, do Instituto Nacional de Traumatologia e
Ortopedia (Into), em que uma equipe com até 15 profissionais se desloca pelo
País para realizar cirurgias ortopédicas de alta complexidade. O programa
começou como piloto, em 2003, e ganhou fôlego recentemente. Se nos primeiros
anos a equipe fazia uma ou duas viagens por ano, atualmente realiza ao menos um
mutirão mensal, principalmente para cirurgias de quadril, fêmur e coluna na
Região Norte do País. A média é de 25 pacientes operados por viagem, mas já
aconteceu de a fila ser tão grande que fizeram 90 cirurgias em uma semana.
Passa de 2 mil o número de operações já realizadas pelos profissionais.
Referências. Os médicos
andarilhos estão entre os melhores de suas especialidades - nomes como Pina
Cabral, referência brasileira em cirurgia de quadril, que fez parte da equipe
até a aposentadoria; Marco Bernardo Cury, chefe do serviço no Into; e Luiz
Cláudio Schettino, especialista em coluna, responsável pela cirurgia para
reconstrução de vértebra a que foi submetido o cantor Herbert Vianna, em 2001. Alguns
pacientes esperam há anos por uma cirurgia. Uma jovem de 25 anos, de Cuiabá,
estava havia dois sem andar depois de um acidente que provocou um grave
afundamento do osso do quadril. Foi operada por Tito Rocha, coordenador de
Desenvolvimento Institucional do Into, responsável pelo Suporte. "Somos
missionários. A ortopedia é uma das poucas chances que se tem de mudar
completamente a vida de uma pessoa", diz o médico.
Estratégia. Para que a equipe consiga sair do Into, é montada quase uma operação de guerra. Por dois dias, todos os equipamentos, ferramentas e próteses são separados e acondicionados em 12 contêineres. O ortopedista Paulo Padrão, de 84 anos, comanda esse trabalho. Aposentado do Into, ele voltou a integrar a equipe do instituto como o responsável pelo material de cirurgia. Nas longas viagens, sua disposição inspirava os mais novos. "É a realização do médico: levar o atendimento a pessoas carentes, que não têm a quem recorrer. A minha mulher acha meio ruim, mas já se acostumou", afirma Prado, que passou recentemente por uma cirurgia renal e está temporariamente afastado das viagens do grupo.