Itacuruba - Cidades do Velho Chico 38
Contraprosa vai apresentar nesta série Cidades do Velho Chico, o menos populoso município do Estado de Pernambuco. Seu nome é Itacuruba, que vem do tupi: Ita = pedra – e Kuruba = grão, seixo, ou seja, Grão de pedra. O município margeia o São Francisco e faz limites com Belém de São Francisco e Floresta, em Pernambuco, e com Rodelas, no Estado da Bahia. Itacuruba fica distante do Recife em 466 kms. Sua área total é de 436,528 km², abrigando uma população de 4.284 pessoas, censo de 2022, perfazendo uma densidade demográfica de 9,96 hab/km². A previsão de sua população para 2024 foi de 4.490 pessoas, dados do IBGE. Apesar de ter uma renda per capita pouco superior a 11 mil reais, Itacuruba é um lugar de vida encantadora. Os turistas a apelidaram de Jardim Sertanejo.
A história da formação de Itacuruba se mistura com a catequese dos índios que habitavam o lugar. Até o século XVII, toda essa região era ocupada por índios pertencentes ao tronco linguístico macro-jê, que foram catequizados por padres jesuítas na Ilha do Sorubabel, em Rodelas, na Bahia. Com a saída dos jesuítas, passou a missão a ser chefiada pelos capuchinhos franceses, que à época dos acontecimentos, já possuíam outras missões no São Francisco, na zona dos índios Rodelas, desde 1673. A Ilha do Sorubabel, em 1702, se encontrava sob a direção do frei Francisco Dumfront, debaixo da proteção de Nossa Senhora do Ó. Nesta missão é que se encontram as raízes e berço da atual formação religiosa local, uma vez que estava situada na foz do rio Pajeú, por onde subiam os índios catequizados pelo frei.
Sabe-se que lá foi construída, no início do século XVIII, a igrejinha da missão, com um muro de pedra ao redor. A igreja passou a contar com uma imagem da santa em madeira. Em 1709, os capuchinhos franceses foram substituídos pelos barbadinhos italianos. Mesmo sem frei Francisco Domfront, a missão de Sorubabel teve vida ativa no século XVIII. Em 1792, o Rio São Francisco desce com sua maior cheia de todos os tempos. A Ilha do Sorubabel foi totalmente inundada, sua capela destruída e a imagem da Nossa Senhora do Ó arrastada pelas águas. Nas proximidades de Petrolândia, na fazenda Várzea Redonda, a imagem foi colhida por pescadores. Identificada, recolheram-na à igreja da Freguesia de Tacaratu, onde permaneceu durante 97 anos.
Foi Manuel Quirino Leite quem, auxiliado pelo padre Miguel Arcanjo, promoveram a construção da capela da velha Itacuruba, cuja pedra fundamental foi lançada em 1889. Manuel Quirino é considerado o fundador de Itacuruba. A luta dele começou em 1870. Após construir a primeira casa do lugar, vivia a espreitar e incentivar o povo, trabalhando para fundar aquele aglomerado e escolhendo o local favorável para cada um construir sua morada na fazenda Itacuruba, de sua propriedade. Conseguiu que habitantes da região, notadamente da Bahia, convergissem para aquele local. A Capela de Nossa Senhora do Ó foi construída com a frente para o Rio São Francisco, diante de uma colossal quantidade de ilhas. Manoel Quirino Leite veio a falecer em 1919, aos setenta anos de idade.
O lugarejo foi crescendo e se desenvolvendo. Em 1930, o povoado passou a qualidade de Distrito, criado com a denominação de Itacuruba, por ato municipal de 24 de novembro daquele ano, subordinado ao município de Floresta. a quem pertenceu até 1938. Pelo decreto-lei estadual nº 235, de 09 de dezembro de 1938, transfere o distrito de Itacuruba do município de Floresta para o de Belém do São Francisco. Itacuruba continuou sua trajetória de crescimento lento e constante. A cultura da cana de açúcar e mandioca serviu de lastro econômico até 1948 quando a população começara a se voltar para o plantio da cebola, economicamente mais produtiva. Com a monocultura da cebola, o povoado entrou um ritmo maior de desenvolvimento. Com as grandes safras de cebola o local ganhou grande impulso econômico. No início da década de 1960, começam as ideias de emancipação. Itacuruba foi elevado à categoria de município pela lei estadual nº 4939, de 20 de dezembro de 1963, desmembrado de Belém de São Francisco. A instalação se deu em 24 de abril de 1964. O primeiro administrador foi Manoel Maniçoba da Silva, escolhido em um consenso popular. O primeiro prefeito eleito foi Carlos Magalhães Araújo.
Com a construção da Barragem de Itaparica, foi projetada uma nova sede para o município de Itacuruba. O processo de transferência das famílias residentes na antiga Itacuruba estava previsto para ter início em meados de dezembro de 1987, finalizando em 23 de março de 1988. Após três meses de reassentamento, a nova Itacuruba, localizada distante 20 kms do local da antiga, apresenta outra configuração. Nada lembra a velha Itacuruba, que beijava as águas do São Francisco e de lá era possível ver a velha Rodelas, na Bahia. A arquitetura moderna da cidade esconde sua grande história. Ruas e avenidas largas, comércio organizado, prédios públicos pujantes. Tudo remete ao mundo atual em Itacuruba, mas o seu povo carrega na alma as lutas dos seus primeiros moradores e não desistem nunca da labuta. Sabem muito bem que o sossego do amanhã é construído nas lutas do agora.