Carlos Madeiro - do UOL, em Maceió
Mapas do Brasil mostram a situação da seca no Nordeste, as áreas em vermelho. A imagem à esquerda (abril de 2011) mostra 15% da região atingida, já a imagem à direita (abril de 2012) mostra 80% |
Com 593 municípios em situação de emergência por conta da
seca, o semiárido do Nordeste não sofre apenas com a falta de água, mas também
com a escassez de alimentos. Muitas cidades, onde não chove há seis meses, já
informaram problemas relacionados à falta de comida, já que grande parte das
produções agrícolas --inclusive as familiares-- foi perdida pela falta de
chuva.
Imagens captadas por satélite mostram que boa parte do
Nordeste enfrenta a maior seca dos últimos 30 anos. É possível perceber que 80%
do semiárido da região sofre com a estiagem, o que representa seis vezes o
percentual registrado no ano passado. Não choveu nos quatro primeiros meses do
ano --como era previsto-- e não há perspectiva de chuvas pelos próximos três
meses.
A entrega de alimentos a moradores do sertão, por conta da
seca, é algo que não havia ocorrido nos últimos anos, mas que está sendo novamente
realizado em 2012. A situação mais grave é a da Bahia, onde 228 municípios estão
em situação de emergência.
Segundo a Defesa Civil Estadual, o governo baiano adquiriu
pouco mais de 130 mil cestas básicas para distribuição nos municípios. Além
delas, o Estado também recebeu mais 4.630 do Ministério da Integração Nacional
e 5.000 do Ministério da Agricultura, totalizando 140 mil cestas básicas.
O cenário se repete |
“Esses alimentos devem ser entregues às famílias para durar
por pelo menos 30 dias, pois a situação é crítica e temos uma grande demanda.
Depois da água, a falta de alimentos é a nossa maior preocupação, mas estamos
atuando para não deixar ninguém passar fome”, afirmou o coordenador-executivo da
Defesa Civil, Salvador Brito.
Segundo Brito, além dos alimentos, existem outras
preocupações com os sertanejos. “Temos outros problemas. Como a estiagem vem se
alongando, temos diversas repercussões na natureza, como problemas na
agricultura familiar e a captação de água para irrigação. Todo semiárido sofre
com essa falta de chuvas” disse.
CIDADES EM EMERGÊNCIA
Bahia 228
Rio Grande do Norte
139
Piauí 102
Pernambuco 56
Alagoas
34
Sergipe
18
Ceará 16
No Piauí, onde já são 102 municípios com decretos
homologados pelo Estado, não há distribuição de alimentos. Porém, segundo a
Defesa Civil, ao invés de cestas básicas, os sertanejos serão contemplados com
o Bolsa Estiagem, que vai pagar cinco parcelas de R$ 80 às famílias atingidas.
“Nós sabemos da dificuldade que existe no Estado como um todo. Oficialmente não
temos relatos de falta total de alimentos, mas pode ser o que esteja
acontecendo. A antecipação do Seguro Safra também vai ajudar nessa compra de
alimentos”, disse o diretor da unidade da Defesa do Piauí, Jerry Herbert.
A luta parece ser eterna |
O diretor explicou ainda que o Estado pretende ampliar o
números de caminhões-pipa para ofertar água a população. “Estamos trabalhando
com mais de 200 carros-pipa, e o Ministério da Integração vai contratar mais
300 para amenizar o problema que está gravíssimo. O problema é que, até agora,
os R$ 15 milhões anunciados pelo governo federal estão só no papel, não foram
liberados. Assim, não podemos aumentar as ações.”
Em Pernambuco, um decreto do governador Eduardo Campos
(PSB), publicado no Diário Oficial do Estado neste sábado (5), oficializou
decreto de emergência nos 56 municípios do Sertão. Segundo informou a
assessoria de imprensa da Coordenadoria de Defesa Civil, a entrega de cestas
básicas e de alimentos está sendo feita pela Secretaria de Assistência Social.
No Ceará, o coordenador da Defesa Civil, Hélcio Queiroz,
informou que já são 16 municípios em situação de emergência e as demandas por
alimento serão discutidas nos próximos dias. “Nós vamos ter uma reunião nesta
segunda-feira (7) do comitê de ações de combate à seca, onde vamos definir as
realizações que serão feitas nessas cidades. Entre elas, pode ser definida a
entrega de alimentos”, disse.
A situação também é grave em Alagoas, onde 34 cidades estão
em situação de emergência. Segundo a AMA (Associação dos Municípios de
Alagoas), o fornecimento de água por meio de caminhões-pipa continua suspenso e
ainda não há entrega de alimentos, apesar de relatos apontarem para perda de
produção em vários municípios. "A operação pipa está paralisada porque o
recurso acabou há mais de uma semana. Não estamos com distribuição de comida ou
água. Estamos providenciando, pedindo ao governador, vê se eles liberam carros
e comida pela Secretaria da Assistência Social”, informou Margarete Bulhões,
responsável pelo setor de decretos de emergência da AMA.
Em Sergipe, as mais de 100 mil pessoas afetadas nas 18 cidades
em emergência estão recebendo o fornecimento de água por carros-pipa. Na
Paraíba, apesar da seca ter se intensificado nas últimas semanas, ainda não
decretos homologados pelo Estado, o que deve ocorrer nos próximos dias, quando
a documentação das prefeituras for entregue ao governo do Estado. No Rio Grande
do Norte, 139 municípios decretaram, coletivamente, situação de emergência em
abril.