Em entrevista exclusiva ao 'estadão.com.br',
ex-caseiro que denunciou Antonio Palocci conta que atualmente vive de bicos e
desabafa: 'Vou ser prejudicado pelo resto da vida?' Para o ex-caseiro, combater
a corrupção passa por falar a verdade e não mudar a versão.
Francenildo Santos Costa: "Vou ser prejudicado só porque falei a verdade?" |
BRASÍLIA - No Dia Internacional de Combate à Corrupção,
comemorado neste dia 9 de dezembro, o ex-caseiro que denunciou o ex-ministro
Antonio Palocci faz um desabafo em entrevista exclusiva ao estadao.com.br.
Francenildo Santos Costa reclama da dificuldade que tem tido para arrumar
emprego fixo nestes últimos cinco anos e meio depois que contou ter visto o
ex-ministro por diversas vezes na chamada "casa do lobby" em
Brasília. "Só porque falei a verdade eu vou ser prejudicado pelo resto da
vida?" Francenildo vive de bicos como jardineiro e limpezas de piscina.
Não conseguiu nenhum emprego com carteira assinada depois que teve a coragem de
enfrentar um dos homens mais poderosos da República. Ele afirma que possíveis
empregadores ficam com receio diante de sua fama, mas não se arrepende de ter
falado a verdade. Para o ex-caseiro, combater a corrupção passa por falar a
verdade e não mudar a versão, diz ele fazendo referência aos escândalos mais
recentes. Ele acredita que a corrupção sempre existiu. "Ainda bem que tem
a imprensa para denunciar." Aconselhado pelo advogado, Wlicio Nascimento,
retomou os estudos. Ele Francenildo só tinha a 4ª série quando ganhou
notoriedade e deve concluir o segundo grau no próximo ano. Para ele, esta foi a
parte boa de ter feito a denúncia, ter recebido incentivo para evoluir. Sobre o
ex-ministro Palocci, que perdeu outro cargo neste ano sob suspeita de
corrupção, prefere nem falar: "O que ele (Palocci) faz não me interessa,
meu problema é com a Justiça." Conta que acompanhou o julgamento que
absolveu Palocci no Supremo Tribunal Federal (STF) porque espera que alguém
seja punido no episódio. O processo continua em andamento contra outros
envolvidos, como o ex-presidente da Caixa Jorge Mattoso.
Reparação. Francenildo aguarda a conclusão de um
processo em que pede indenização por seu sigilo bancário ter sido violado. Na
primeira instância, a Caixa Econômica Federal foi condenada a indenizá-lo em R$
500 mil. O banco público recorreu e o processo está paralisado no Tribunal
Regional Federal da 1ª região, em Brasília. Enquanto a reparação não sai,
procura manter a discrição. A pedido da mulher, não recebe mais jornalistas em
sua casa em São Sebastião, na cidade satélite de Brasília. Conversa apenas no
escritório do advogado, no Lago Sul, bairro nobre da capital. Recusou convite
para entrar na política e procura dedicar sua energia para a filha nascida no
ano passado e espera no futuro poder dar uma vida melhor para a família. No dia
a dia, procura seguir o que fez no caso Palocci, falar a verdade.
Cabe aqui um comentário final deste blog: não
acreditamos que os empresários honestos, que não precisem das tetas do governo
e que sejam adeptos do verdadeiro republicanismo, não possam oferecer um
emprego digno a este rapaz. Parece que não vale a pena ser correto. Será que é
verdade o que um promotor público disse uma vez que aqueles que lutam contra os
poderosos acabam como Tiradentes?