Carlos Marighella no PCdoB. |
O líder revolucionário baiano Carlos Marighella, que morreu
em uma embocada ao lutar contra a Ditadura Militar no Brasil, será
simbolicamente anistiado pelo Ministério da Justiça em Salvador, na 53ª
Caravana da Anistia, realizada nesta segunda e terça-feira (5 e 6). A família
do guerrilheiro receberá um pedido formal de desculpas do governo pela
perseguição política e morte. Carlos Marighella, que nasceu em 1911 e morreu em
1969, completaria 100 anos nesta segunda se estivesse vivo. Nascido na capital
baiana, ele militou no Partido Comunista Brasileira (PCB) até 1967. Por
defender a luta armada, foi expulso da legenda e fundou a Aliança Libertadora
Nacional (ALN). Entre 1968 e 1969, Marighella foi considerado inimigo número um
da ditadura militar. O ódio contra o baiano ganhou força com sua participação
no sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick em parceria com o
MR-8. Resumo biográfico
Biografia de Marighella:
1911 - No dia 5 de dezembro, Carlos Marighella nasce na Rua
do Desterro número 9, na cidade de São Salvador, Estado da Bahia. Seus pais são
o casal Maria Rita do Nascimento, negra e filha de escravos, e o imigrante
italiano, o operário Augusto Marighella. Carlos teve sete irmãos e irmãs.
1929 - Marighella começa a cursar engenharia civil na antiga
Escola Politécnica da Bahia, depois de haver estudado no Ginásio da Bahia, hoje
Colégio Central. Numa e noutra escola, destaca-se como aluno, pela alegria e
criatividade. São famosas suas diversas provas em versos.
1932 - Ingressa na Juventude Comunista. O Partido Comunista
havia sido criado em 1922. Com a revolução de 30 uma grande efervescência
política varria o Brasil. Marighella participa de manifestações contra o regime
autoritário e o interventor Juracy Magalhães. Inconformado com versos de
Marighella que o ridicularizavam, Juracy manda prendê-lo e espancá-lo.
1936 - Abandona o curso de engenharia e vai para São Paulo a
mando da direção, reorganizar o Partido Comunista, que havia sido gravemente
reprimido após o levange de 1935. É, porém, novamente preso e torturado durante
23 dias pela Polícia Especial de Felinto Muller.
1937 - Marighella é libertado pela anistia assinada pelo
ministro Macedo Soares e, quatro meses depois, Getúlio dá o golpe e instaura o
Estado Novo. Na clandestinidade, Marighella é encarregado da difícil tarefa de
combater as tendências internas dissidentes da linha oficial do PCB em São
Paulo.
1939 - Preso pela terceira vez, é confinado em Fernando de
Noronha. Na cadeia, os revolucionários presos organizam uma universidade
popular e Marighella dá aulas de matemática e filosofia.
1942 - Os presos políticos vão para a Ilha Grande, no
litoral do Rio de Janeiro, porque Fernando de Noronha passa a ser usada como
base de apoio das operações militares dos aliados no Atlântico Sul.
1943 - Na Conferência da Mantiqueira, Marighella, mesmo
preso, é eleito para o Comitê Central. O Partido Comunista adota linha de apoio
ao governo Vargas em razão da entrada do Brasil na guerra, posição de que ele
discorda, embora a cumpra, por dever de militância.
1945 - Anistia, em abril, devolve à liberdade os presos
políticos. Com a vitória das forças antifascistas, o PCB vai à legalidade e
participa da eleição para a Constituinte. Marighella é eleito como um dos
deputados constituintes mais votados da bancada.
1946 - Apesar do apoio de Prestes, o general Dutra, eleito
Presidente da República, desencadeia repressão aos comunistas. Marighella
participa ativamente da Constituinte com um dos redatores do organismo parlamentar.
Conhece Clara Charf.
1947 -Ainda no primeiro semestre é fechada a União da
Juventude Comunista. Depois, é o próprio Partido que é posto na ilegalidade.
Marighela coordena a edição da revista teórica do PCB, Problemas e vive um
relacionamento com dona Elza Sento Sé, que resulta no nascimento, em maio de
1948, de seu filho Carlos.
1948 - No início do ano são cassados os mandatos dos
parlamentares comunistas. Marighella volta à clandestinidade. Data desse ano
seu romance com Clara Charf, sua companheira até o fim da vida.
1949/1954 - Em São Paulo, Marighella cuida da ação sindical
do PCB. Sob sua direção o PC se vincula aos operários, participa da campanha
"O Petróleo é nosso" e organiza a greve geral conhecida como
"dos cem mil" em 1953. Considerado esquerdista pela direção do
Partido, é mandado em viagem à China. Lá é internado em razão de uma pneumonia.
Depois, vai à União Soviética e volta ao Brasil em 1954.
1955 - A morte de Getúlio Vargas e o início do governo de
Juscelino Kubistchek permitem que os comunistas, embora na ilegalidade, atuem
de modo mais visível.
1956/1959 - O XX Congresso do PC da União Soviética inicia a
desestalinização. O PCB adota a linha da "coexistência pacífica"
pregada pela União Soviética. A vitória da Revolução Cubana, porém, contraria
frontalmente as posições do movimento comunista internacional.
1960/1964 - A renúncia de Jânio gera uma crise política.
Jango toma posse e Marighella passa a divergir da linha oficial do PC,
principalmente de sua política de moderação e subordinação à burguesia. Em
1962, divisão do PC dá origem ao Partido Comunista do Brasil - PC do B.
1964 - Com o golpe de abril, instaura-se a ditadura militar.
Perseguido pela polícia, Marighella entra num cinema do bairro da Tijuca, no
Rio de Janeiro, e lá resiste aos policiais até ser diversas vezes baleado,
espancado e finalmente preso. Sua resistência transformou sua prisão em um ato
político que teve repercussão nacional. É solto depois de 80 dias, depois de um
habeas corpus pedido pelo advogado Sobral Pinto.
1965 - Escreve e publica o livro "Por que resisti à
prisão", em que aponta sua opção por organizar a resistência dos
trabalhadores brasileiros contra a ditadura e pela libertação nacional e o
socialismo.
1966 - Publica "A Crise Brasileira", onde
aprofunda suas posições críticas à linha do PCB, prega a adoção da luta armada
contra a ditadura, fundada na aliança dos operários com os camponeses.
1967 - Na Conferência Estadual de São Paulo as idéias de
Marighella saem vitoriosas por ampla maioria - 33 a 3 -, apesar da participação
pessoal e contrária de Luiz Carlos Prestes. Vendo que a derrota no VI Congresso
era iminente, Prestes inicia um processo de intervenções nos Estados, para
impedir a participação de delegados ligados à corrente de esquerda. Marighella
viaja a Cuba para participar da conferência da Organização Latino-Americana de
Solidariedade-OLAS. O PCB envia telegrama desautorizando sua participação e
ameaçando-o de expulsão. Disso resulta uma carta dele rompendo com o Comitê
Central do PCB e afirmando que ninguém precisa pedir licença para praticar atos
revolucionários. Como represália, é expulso do Partido Comunista. Retorna ao
Brasil e funda a Ação Libertadora Nacional-ALN e dá início à luta armada contra
a ditadura militar.
Marighella foi metralhado pela Ditadura |
1968 - Marighella participa diretamente de diversas ações
armadas recuperando fundos para a construção da ALN. No primeiro de maio, em
São Paulo, os operários tomam o palanque de assalto, expulsam o governador
Sodrée realizam comemorações combativas do dia internacional dos trabalhadores.
O Movimento estudantil toma conta das ruas em manifestações contra a ditadura
que chegaram a mobilizar cem mil pessoas. Em outubro, porém, o Congresso da UNE
é descoberto pela polícia e os estudantes sofrem grave derrota. Também no final
do ano, torna-se conhecido o fato de que Marighella comandava parte das ações
guerrilheiras.
1969 - No início do ano, a descoberta de planos da Vanguarda
Popular Revolucionária - VPR pela polícia antecipa a saída do capitão Carlos
Lamarca de um quartel do exército em Osasco, levando um caminhão carregado com
armamento para a guerrilha. Em setembro o embaixador norte-americano é feito
prisioneiro por um destacamento unificado com integrantes da ALN e do MR-8 e
trocado por quinze presos políticos. No dia 4 de novembro, às oito horas da
noite, Carlos Marighella caiu numa emboscada armada pelos inimigos do povo
brasileiro em frente ao número 800 da alameda Casa Branca, em São Paulo, e foi
assassinado. Sua organização, a ALN sobreviveu até 1974.
Hoje, muitos comunistas nem sabem que Marighella existiu,
mas sabem usar a democracia, fruto da luta deste personagem, para desviar
verbas públicas para finalidades jamais previstas na ideologia do agora
anistiado.
Com informações complementares do www.carlosmarighella.nom.br,
Bahia Notícias e foto do estadão.com.br (Blog do Marcus Guterman).