CAROLINA MONTENEGRO – Enviada especial da FOLHA DE SÃO PAULO
a Porto Príncipe.
Uma Florianópolis. Quase meio milhão de pessoas. Esse é o
tamanho da população que ainda vive em acampamentos provisórios no Haiti. São
550.560 pessoas, segundo a OIM (Organização Internacional para a Migração).
Quando um megaterremoto devastou o país, em janeiro de 2010, cerca de 1,5
milhão de pessoas perderam ou deixaram suas casas. Desde então, o número de
desabrigados caiu, mas, a partir de julho, estagnou-se. Os dois principais
motivos: falta dinheiro e falta terra. "A pequena redução de deslocados
reflete o grande desafio que é reinstalar as pessoas no país", diz o chefe
da IOM no Haiti, Luxa Dall'Oglio.
CUSTOS
Os custos de construção são altos. Por toda a capital, Porto
Príncipe, espalham-se barracas de plástico improvisadas. A Folha visitou o
campo Jean Marie Vicent no bairro de Delmas, que abriga cerca de 50 mil
deslocados em condições precárias. Não há esgoto, água encanada ou iluminação
pública. Crianças brincam em meio ao lixo nas ruas, enquanto porcos remexem os
dejetos. Embora a área seja patrulhada 24 horas por dia pela Minustah (a missão
da ONU no Haiti), roubos, casos de violência doméstica e abusos são frequentes.
"A vida piorou muito depois que viemos para cá. Antes, eu vendia roupas.
Aqui ninguém tem dinheiro para comprar nada. Queremos ir embora", diz
Jocelyn Jean, 53. Mas sair para onde? Autoridades haitianas e da ONU admitem
que a posse da terra no Haiti é um problema. É comum que várias pessoas
detenham títulos de uma mesma propriedade. Desde a independência da França, em
1804, a constante instabilidade política criou brechas para a irregularidade. Outro
grande empecilho à reconstrução do país é a qualidade do solo. "O solo
aqui é muito pobre. Quebramos e peneiramos pedras de brita porque não há
areia", explica o tenente Diego Rodrigues Toledo, da companhia de engenharia
do contingente brasileiro da Minustah. Perto dali, uma equipe pavimenta uma rua
onde será construído um hospital, parceria entre o Ministério da Saúde do
Brasil e o governo de Cuba. "Esse solo daqui não seria permitido em
estradas no Brasil. Vamos ter que fazer um reforço de cascalho e cimento para a
via ficar mais resistente", diz Toledo.