MARCO ANTÔNIO MARTINS – da FOLHA DE SÃO PAULO
Djalma Beltrami: encrencado! |
O titular da Delegacia de Homicídios de Niterói (RJ), Alan
Luxardo, disse na manhã desta segunda-feira que escutas telefônicas incriminam
o comandante do 7º Batalhão da PM de São Gonçalo, tenente-coronel Djalma
Beltrami, preso mais cedo sob acusação de tráfico de drogas e corrupção.
Segundo o delegado, Beltrami e outros 12 PMs recebiam R$ 160 mil por mês do
tráfico. "Há fortes indícios da participação dele [comandante Beltrami] no
esquema, só que no momento muita coisa deve ser mantida em sigilo para não
atrapalhar as investigações. É certo que os policiais do GAT (Grupo de Ações
Táticas) do batalhão recebiam quantias semanais pagas por traficantes da
região. Esse valor chegava a R$ 160 mil mensais", disse o delegado. De
acordo com Luxardo, a investigação começou há sete meses, quando o
tenente-coronel Cláudio Luiz Silva de Oliveira ainda estava à frente do
comando. Há cerca de dois meses, Oliveira foi preso sob acusação de ser o
mandante do assassinato da juíza Patrícia Acioli. "Se comprovou que após a
mudança no comando houve novo pagamento de propina com participação do coronel
Beltrami", destacou o delegado Alan Luxardo. Desde cedo, a corregedoria da
PM e a CGU (Corregedoria Geral Unificada) cumprem os mandados de prisão
referentes aos militares. No final da manhã, Beltrami prestava depoimento na
Delegacia de Homicídios de Niterói. Ele foi preso preventivamente. A Polícia
Civil informou que Beltrami nega as acusações. Escutas telefônicas também
apontam que traficantes foragidos do Complexo do Alemão atuavam no morro da
Coruja, localizado em São Gonçalo. Eles seriam responsáveis pelo envio de
drogas do Rio para a comunidade e favelas comandadas pela facção criminosa
Comando Vermelho, na região dos Lagos. Segundo investigações da Polícia Civil,
ele recebia através de equipes do GAT (Grupo de Ações Táticas) propina de
criminosos para não reprimir o tráfico de drogas. Beltrami foi levado para a
Delegacia de Homicídios de Niterói, também na região metropolitana. A Folha
entrou em contato com a PM, mas ainda não obteve retorno. A Polícia Civil ainda
tenta prender outros policiais militares suspeitos de receber propina de
traficantes. Ao todo, devem ser cumpridos 26 mandados de prisão, sendo 13
contra PMs. A operação chamada Dezembro Negro começou após investigações sobre
homicídios praticados por traficantes em São Gonçalo. Durante as investigações,
foi descoberto o esquema de corrupção de PMs.
JUIZ
Beltrami assumiu o comando do 7º Batalhão após a saída do
tenente-coronel Cláudio Oliveira, acusado há cerca de dois meses de ser o
mandante do assassinato da juíza Patrícia Acioli. O comandante também estava
entre as equipe acionadas após o massacre na escola municipal Tasso da
Silveira, em Realengo (zona oeste do Rio), em abril deste ano, quando um rapaz
entrou na unidade e atirou contra diversas crianças e depois se matou. Doze
pessoas morreram na ocasião. Além da carreira na PM, Beltrami também exerceu a
profissão de árbitro durante 20 anos. Conhecido nos gramados como "juiz
linha dura", ele se despediu do cargo no primeiro semestre deste ano na
decisão do Troféu Carlos Alberto Torres entre Madureira e Boavista. Juiz da
Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro desde 1989 e da CBF desde
1995, o tenente-coronel Beltrami também participou da retomada do Complexo do
Alemão em novembro do ano passado.