Mário Negromonte se emocionou em solenidade, após
receber apoio em discursos de aliados do PT e do PDT, e acusou a imprensa do
sul de preconceito com nordestino.
SALVADOR - Pressionado por denúncias de fraudes em
sua pasta, o ministro das Cidades, Mário Negromonte, do PP da Bahia, chorou, na
manhã desta sexta-feira, 25, em Salvador, durante solenidade de anúncio da
segunda etapa do Programa Minha Casa, Minha Vida no Estado. Depois de
receber mensagens de apoio nos discursos do presidente da Assembleia baiana,
Marcelo Nilo (PDT), e do presidente da União dos Municípios da Bahia (UPB),
Luiz Caetano (PT), Negromonte se emocionou ao cumprimentar o
aliado em seu discurso. "Quero dizer que você é um grande
amigo", disse, antes de perder a voz. "Obrigado pela solidariedade.
Fique certo que eu jamais irei decepcionar os amigos, o povo da Bahia ou meus
familiares." O ministro das Cidades disse ser vítima de "fogo
amigo" dentro do governo e acusou a imprensa de ter preconceituosa com
mulheres e nordestinos. "Identifico fogo amigo, claro que sim! Partidos da
base aliada e o próprio PP nacional - não da Bahia - têm interesse no
ministério", admitiu. "As denúncias surgem porque o ministério é
importante. A gente toma conta de diversos programas, como o Minha Casa, Minha
Vida, de R$ 170 bilhões, o de saneamento básico, de R$ 50 bilhões, o de
mobilidade urbana, de R$ 30 bilhões. E a gente contraria muitos interesses.
Aqui e acolá tem meia dúzia de insatisfeitos na bancada, é normal."
Preconceito. O ministro participou, durante a manhã, de um
evento no qual foi anunciada a construção de imóveis da segunda etapa do
Programa Minha Casa, Minha Vida. Deputado eleito pela Bahia, Negromonte também
disse ser vítima de preconceito por ser nordestino - e acusou a "imprensa
do sul". "As denúncias vêm de parte da imprensa, insatisfeita com o
governo federal, interessada em enfraquecer a presidente Dilma (Rousseff). É
uma mulher e existe discriminação", especula. "Existe discriminação
com o nordestino também. Fizeram uma ilação com a Festa do Bode (Negromonte é
acusado de tráfico de influência para ajudar a financiar o evento). Se fosse a
Festa da Uva ou da Maçã, certamente ninguém faria discriminação. Mas como é
Festa do Bode, coisa de nordestino, e o ministro é nordestino, tome
cacetada." Sobre
a possibilidade de exonerar auxiliares, o ministro disse ter instaurado uma
sindicância para "apurar eventuais irregularidades" e ter avisado a
Controladoria Geral da União (CGU) e o Ministério Público. "Disponibilizei
toda a documentação original", afirma. "Mas não vou culpar ninguém
antes de julgar. A sindicância vai apontar se houve erro e não vou passar a mão
na cabeça de ninguém." Ele, porém, diz não ver irregularidades,
previamente. "É bom que se entenda que ainda não houve licitação, quem
tiver desconfiança tem de ir ao Estado (MT) procurar o governador (Sinval
Barbosa, do PMDB)", diz. "O governo passado tinha feito uma proposta
de BRT e ele (o governador) achou por bem mandar os técnicos analisarem melhor
e quis o VLT, que é uma coisa mais moderna", lembra. "Aí, mandou (a
proposta) para Brasília, para uma decisão colegiada da Gecopa, que reúne
técnicos dos Ministérios das Cidades, do Planejamento, da Fazenda, do Turismo e
do Esporte. Quando ele nos procurou, propondo a alteração, eu disse: 'mudar o
modal, tudo bem, mas você vai ter de batalhar para conseguir mais recursos'. E
ele vai conseguir mais recursos buscando o financiamento através do seu
governo."
Demissão. Sobre
sua permanência no cargo, Negromonte disse estar "tranquilo".
"Quem me ligou foi o ministro Gilberto Carvalho (secretário-geral da
República), dizendo que eu ficasse tranquilo, que a presidente da República
conhece todo o trâmite, que por ela não tem problema nenhum", afirma. "Não
tenho apego a cargo, não vou ficar de joelho para ninguém", diz o
ministro. "Fico muito honrado de fazer este trabalho junto com a
presidente Dilma, a primeira mulher presidente do Brasil, mas só vou ficar lá
se me sentir confortável e ela também. Se eu sentir que ela não me quer, eu vou
lá e entrego."