Reportagem: Paula Filizola
– Foto: Werther Santana (desfocada para evitar identificação dos agredidos) - do Correio Braziliense.
Mais
um caso de agressão a homossexuais foi registrado nas proximidades da Avenida
Paulista, em São Paulo. Na madrugada de sexta para sábado, por volta das 4h, um
casal gay foi espancado após sair de um bar na região. No domingo, o analista
fiscal Marcos Paulo Villa, 32 anos, e o namorado, um coordenador financeiro com
a mesma idade e que preferiu não se identificar, prestaram queixa na 78ª
Delegacia de Polícia, no bairro dos Jardins. Um deles teve a perna quebrada e o
lábio aberto por conta dos socos. As vítimas também tentaram registrar o caso
na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), que não
funciona aos fins de semana.
O
ataque foi iniciado por provocações. O casal estava acompanhado de uma amiga,
que foi assediada por dois homens em um bar. Eles saíram do local e o casal de
gays parou em um posto de gasolina para comprar cigarros, onde sofreu ofensas
dos mesmos rapazes na fila da loja de conveniência. “Eles começaram a chamar a
gente de veado e dizer que não merecíamos viver. Tentei conversar, mas meu
namorado se exaltou um pouco e discutiu com eles”, disse Villa. O analista
fiscal relatou ainda que, ao deixarem o local, eles foram seguidos pelos
agressores, que, conforme Villa, teriam entre 25 e 30 anos.
Quando
o casal estava em frente a um restaurante, eles foram atacados. “Um monte de
gente viu. Levamos socos e chutes no corpo inteiro. Levei um soco na boca e
caí. Eles chutaram a minha cabeça e eu desmaiei. Não lembro de mais nada”,
contou o coordenador financeiro. “Nunca tinha visto nada semelhante. A gente
nunca acha que vai acontecer com a gente. Primeiro, porque não somos
estereotipados. Se aconteceu com a gente, pode acontecer com qualquer um”,
acrescentou Villa, que, ainda no sábado, recebeu atendimento na Santa Casa de
Misericórdia de São Paulo.
Levantamento
Em
2010, a prefeitura de São Paulo, com a ajuda de um serviço de denúncias, traçou
um mapa das agressões provocadas pela homofobia na capital paulista. Segundo o
relatório, 50% dos casos de agressão contra gays ocorrem na Avenida Paulista e
em ruas próximas, uma região que concentra bares, restaurantes e casas noturnas
frequentados por homossexuais (veja quadro). As denúncias mostraram que os
agressores atuam em grupos e atacam pelas costas, sem chance de defesa para as
vítimas.
Em
âmbito nacional, um levantamento da Secretaria de Direitos Humanos (SDH) em
parceria com O Disque 100 — central de atendimento criada pelo governo federal
— aponta que, em crimes de natureza homofóbica, 83,6% das vítimas são
homossexuais, 10,1%, bissexuais e 4,2%, heterossexuais que sofrem algum tipo de
violência por serem confundidos com gays. O relatório também destaca que, em 39,2%
dos episódios de violação relatados contra a população homossexual, o agressor
é desconhecido; em 22,9%, são vizinhos; e em 10,1%, os próprios amigos. Segundo
Villa, os dois agressores não eram conhecidos do casal.
Escalada de agressões
Casos de ataques a homossexuais têm se tornado
recorrentes na Avenida Paulista (SP). A região é conhecida por concentrar
bares, restaurantes e boates frequentados por gays.
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Em agosto, os arquitetos Bruno Chiarioni Thomé, 33 anos, e Rafael Ramos, 30,
foram agredidos por um grupo de seis rapazes próximo à estação de metrô da
Consolação, depois de deixarem uma casa noturna. Os agressores utilizaram
pedras e uma luminária de ferro para atacar a dupla.
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Em março, o ativista do movimento LGBT Guilherme Rodrigues, 23 anos, foi
agredido por quatro jovens em um posto de combustível conhecido por ser um
ponto de encontro de homossexuais na região da Paulista.
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No fim de janeiro, um estudante de 27 anos foi agredido com uma garrafada no
olho direito. Ele estava acompanhado de um amigo, que levou um soco no peito. A
dupla percebeu que um dos agressores tinha a cabeça raspada e o outro, uma
tatuagem.
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Em novembro de 2010, cinco homens — sendo quatro adolescentes — agrediram um
grupo de cinco pedestres na Avenida Paulista, deferindo golpes com lâmpadas
fluorescentes. Após ouvir vítimas e testemunhas, a polícia chegou à conclusão
de que os ataques tiveram motivação homofóbica. O estudante de jornalismo Luis
Alberto Betonio, 23 anos, foi um dos agredidos.