Em meio às drogas, desemprego e
baixa qualidade educacional, as perspectivas para o futuro juvenil em
Heliópolis são desalentadoras.
Verônica: a causa está na família |
As informações documentais
colhidas em diversos órgãos da cidade são incompletas, imprecisas e atrasadas.
Isso dificultou o nosso caminho ao objetivo final, complicando toda e qualquer
análise da verdadeira situação municipal. Não há dados específicos. Em
decorrência disso, optamos pelas entrevistas.
Em uma visita ao Conselho Tutelar
da cidade no último dia 03 de dezembro, foram levantados alguns questionamentos
sobre o trabalho infantil. Um dos funcionários públicos do local, José Neves
Santos, nos respondeu que "existe a
Lei que proíbe. Todo mundo sabe que tem, que menores não podem trabalhar. Mas
se fosse pra a gente intervir, muita gente ficaria com fome, porque algumas
pessoas aqui ainda passam fome! Aí tem muitas crianças que trabalham pra ajudar
seus pais ainda. A gente sabe que é errado, mas não tem jeito, vai fazer o que?".
É fato que a realidade social de
Heliópolis é sofrida e muitos jovens e crianças precisam ajudar os pais na
manutenção da renda familiar. Como uma cidade funciona com um órgão em prol do
bem comum, que sabe que o problema existe e só sabe questionar o que fazer? O
colapso é reflexo da falta de organização da gestão pública, da falta de
planejamento e, principalmente, da falta de política pública de gestão. O que
crianças e jovens precisam é primordialmente de educação, que consequentemente gerará
emprego e renda.
Questionamos sobre o cenário das
drogas, e o Conselheiro nos disse: “É
muito alto (o uso de drogas), de 10
jovens no mínimo 1 usa drogas ou coisa parecida, álcool ... A maior queixa e
números de denúncias que o Conselho recebe é de jovens usuários de maconha. Não
tem muito o que fazer não, por que a gente não pode punir, a gente envia um
relatório pro promotor e ele manda um oficio pra nós encaminharmos esses jovens
pra uma clínica de reabilitação, mas como aqui não tem nenhuma, nunca nenhum
jovem foi internado".
Um descaso descarado e explícito
ao que se diz à saúde pública e segurança no município. A falta de
comprometimento do estado, faz com que não se enxergue que 10% dos jovens (se
não for maior) entrem num estado deplorável, que é o caminho das drogas e do álcool.
O planejamento não parece existir, já que as falhas nesses setores são visíveis
e praticamente não há atuação em benefício dos atingidos pelos vícios, enquanto
as portas da marginalidade estão todas abertas para eles. Está claro que o
governo pouco se importa com a sociedade, principalmente quando se trata de programas
com retorno social a médio e longo prazos. Parece que a única coisa que
planejam é um conjunto de cartas para usá-las no período de 4 em 4 anos.
Quelton: necessidade de atenção |
José Quelton Almeida, Secretário
de Educação, nos disse o seguinte, em um depoimento: "Muitos jovens de Heliópolis, hoje, apesar das poucas oportunidades, têm
a possibilidade de terem um futuro promissor. Mas temos uma parcela menor de
jovens com acesso à universidade, e uma parcela enorme de jovens dispersos, no
caminho do desinteresse, das drogas, alguns até na prostituição, banalizando
mesmo suas vidas. E tudo isso requer uma atenção maior da educação, da saúde,
da assistência social, das famílias...”
Atenção? Isto não é ação! Se há
possibilidades por que não explorá-las? Por que não promover as oportunidades
necessárias? A teoria é a coexistência de uma hipótese, mas uma hipótese não
comprovada e não aproveitada é só teoria, e teoria não testada não gera
resultado! Falta na secretaria de educação do município alguém que vá além das
teorias.
Se na educação só encontramos
atenção, continuamos nossa ação em busca do objetivo delineado e ouvimos as
palavras pronunciadas pela secretária de Ação Social, Maria Zizélia Alves de
Souza Maranduba: “A justiça obriga que o
município faça concurso, então cada dia que passa o nosso município está
limitado em relação a emprego. A partir do momento que vem esse concurso aí, o
trabalho aqui vai ficar complicado (...) Concurso não é uma coisa boa não minha
amiga, eu falo como mãe, não é fácil ter que ver seus filhos saírem daqui
porque chega uma certa idade e eles tem que arrumar trabalho e como aqui não
vai ter, eles terão que sair da cidade. Existe essa questão partidária e nem
isso vai ter mais. (...). Então essa questão de concurso eu não acho vantagem
não”.
Zélia: contra o Concurso Público |
Alguns dias depois da entrevista
realizada com dona Zélia, ela nos enviou um relatório com o programa que a
Secretaria Municipal de Assistência Social tem para oferecer aos jovens da
cidade. O programa é o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para
Crianças e Adolescentes (S.C.V.F). Mas o intuito da desta reportagem é retratar
os programas que O MUNICÍPIO oferece em benefício de seus adolescentes. O
S.C.F.V é um programa do governo federal, que é implantado em todas as cidades
do Brasil. Sendo assim, fica nítido o descaradamente do órgão municipal que não
faz nada em prol da causa, mas tenta se engrandecer com projetos de outros
governos.
Infelizmente, o que se tem visto
é um comodismo por parte da gestão pública. A falta de infraestrutura,
incentivos fiscais para que grandes empresas possam vir, e consequentemente
gerar mais empregos, criar recursos para a área de saúde, segurança e projetos
educacionais. Em suma, valorização da inteligência, do saber. A viabilização
dessas bases com certeza alavancaria o desenvolvimento da cidade e diminuiria
drasticamente esses péssimos índices sociais. Porém, o quadro que se vê é de
uma Heliópolis que não é somente aprisionada pelo poder dos coronéis políticos,
que acorrentam a população e limitam seu desenvolvimento, como ocorre desde sua
emancipação, mas uma cidade onde os índices de desenvolvimento e estatísticas
são desanimadores. A educação continua estagnada, beirando o retrocesso, à
medida que cresce a criminalidade e aumenta o alcoolismo e o consumo de drogas.
Uma mudança de roteiro é capaz de mudar o cenário e consequentemente a história
de seus personagens. Uma Heliópolis diferente é possível, mas competência
política é essencial para tudo acontecer!
Reportagem de Juliana Silva
Oliveira, Naiane dos Santos Ribeiro, Pedro Igo Souza Santos e Wallas Almeida
Vital, como avaliação da disciplina Redação e Expressão, ministrada pelo
professor Landisvalth Lima, no 3º ano A do Colégio Estadual José Dantas de
Souza.