Bruno Thadeu – do portal UOL,
em São Paulo
A arena vai receber 100 milhões em investimentos |
O futebol em Roraima ainda vive
na Idade da Pedra. O campeonato estadual começou em março com cinco times e
aguarda a entrada de mais um clube, o Atlético, durante a competição. A média
do ano passado foi de 50 torcedores por jogo. E o cenário caótico não deve
mudar. O presidente da federação local, Zeca Xaud, completará 40 anos no poder.
São 11 mandatos ininterruptos, 38 anos seguidos no comando, recorde entre os
presidentes de federações estaduais. Ele encerrará o atual mandato, em 2014,
com 40 anos à frente da entidade. Zeca Xaud assumiu o comando em 1974. Nessa
época, Pelé ainda era jogador e o Brasil era tri. Ricardo Teixeira, que ficou
23 anos na CBF, nem sequer conhecia a filha de João Havelange. O cartola
assumiu a Federação Roraimense com a missão de profissionalizar o futebol em
Roraima. O futebol local, entretanto, não tem estrutura comparável a diversos
torneios amadores realizados no país. O Estado não envia representante para a
Copa do Brasil há dois anos. A média de público é de 50 pagantes por jogo, a
pior do pais. Isso mesmo com ingresso grátis.
Zeca Xaud: 40 anos no controle do futebol de Roraima |
Mesmo diante dessa situação
desoladora, Roraima terá seu principal estádio, o Canarinho, reformado e com
capacidade para 10 mil pessoas. O custo da arena está avaliado em R$ 100
milhões, bancado com dinheiro público federal (10% da verba do contribuinte de
Roraima e 90% de verba do restante do país). A ditadura de Zeca Xaud foi
arregimentada na base do paternalismo. Afundados em dívidas e sem qualquer
perspectiva de crescimento, os clubes locais ficam isentos de pagar taxas de
arbitragem, registros de jogadores e outros pagamentos. A conta é assumida pela
Federação de Roraima. Em contrapartida, os times se tornam ultra dependentes da
entidade. Para piorar, os presidentes dos principais estão há décadas no poder.
Não há patrocinadores, contratos com TV ou mesmo placas de publicidade nos
campos.
UMA ARENA REFORMADA POR R$ 100
MILHÕES
Uma obra de reforma e ampliação
do estádio Flamarion Vasconcelos, na cidade de Boa Vista, capital de Roraima,
está sendo executada pelo governo estadual com recursos do governo federal a um
custo previsto de R$ 100 milhões. O UOL Esporte tentou contato com a Federação
Roraimense, mas não obteve retorno. Único Estado do país que não possui 2ª
divisão, o futebol de Roraima tem protagonizado casos bizarros. Em 2009, o
Atlético de Roraima quis mandar seu jogo da Copa do Brasil no Rio Grande do
Sul, seduzido por ofertas de empresários. Zeca Xaud alegou não ter autonomia
para impedir a manobra do Atlético local. Outro caso: um jogo quase não ocorreu
porque um dos times esqueceu de levar a documentação dos atletas. “A
fragilidade do campeonato não se deve somente à federação. Roraima tem outros
problemas: o centro mais perto daqui é em Manaus, que fica a 800 km de distância.
Para jogar com time de outro Estado, só de avião. Jogador não quer se
transferir para cá. Além disso, pelo menos 70% dos habitantes de Roraima são de
outras regiões do país. Eles chegam aqui com o coração preenchido por outros
clubes”, argumentou o jornalista Ribamar Rocha.