O
patrimônio do governador Agnelo Queiroz aumentou 413% entre 2006 e 2010.
Personagens do submundo de Brasília o acusam de se beneficiar de desvios de
dinheiro público nesse período
ANDREI MEIRELES, HUDSON CORRÊA E MURILO RAMOS – portal da revista ÉPOCA.
Agnelo Queiroz (PT) |
O passado
recente do governador do Distrito Federal, Agnelo
Queiroz (PT), bate a sua porta a todo momento. Nas últimas
semanas, Agnelo foi atingido por uma sequência de denúncias sobre suas
passagens pelo Ministério do Esporte e pela Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa). Nos dois casos, Agnelo se atrapalhou nas explicações. Falta
esclarecer suas verdadeiras relações com o policial militar João Dias,
responsável por desvios de dinheiro público de convênios do Esporte. Nesse
caso, o governador terá oportunidade de apresentar suas justificativas ao
Superior Tribunal de Justiça (STJ). Agnelo não convenceu ao tentar justificar
um depósito de R$ 5 mil em sua conta bancária feito por Daniel Almeida Tavares,
um lobista do setor farmacêutico. Disse que o dinheiro era o pagamento de um
empréstimo pessoal. A Polícia Federal investiga as acusações de que, na Anvisa,
Agnelo beneficiou grandes laboratórios em troca de doações para sua campanha
eleitoral de 2010. No rol de suspeitas, há casos mais graves. Agnelo é acusado
de receber propina nos dois cargos ocupados no governo Lula.
Agnelo
também tem dificuldades para explicar o crescimento de seu patrimônio no
período em que pertenceu ao governo federal. ÉPOCA teve acesso a um processo
que tramita na Justiça Federal no Rio de Janeiro. Nele estão anexadas suas
declarações de Imposto de Renda entre 2003 e 2007. Não há bens declarados,
apenas rendimentos auferidos com salários. Agnelo afirma que seus bens estão
registrados no Imposto de Renda de sua mulher, Ilza Maria Santos Queiroz. À
Justiça Eleitoral, no entanto, a cada eleição que disputa, Agnelo apresenta
declaração sobre seus bens. Chama a atenção nessas declarações o salto do
patrimônio próximo de 413% entre 2006 e 2010. Em 2006, quando se candidatou ao
Senado, Agnelo relacionou bens – contas bancárias, três automóveis e um apartamento
– com valor declarado de R$ 224 mil. Naquele ano, Agnelo declarou ter recebido
R$ 187.899 de remuneração. Desse valor, Agnelo doou a seu partido de então, o
PCdoB, R$ 42.368 – o equivalente a 22,7% de sua renda bruta.
No ano
seguinte, a renda declarada por Agnelo caiu para R$ 57.642. Durante oito meses,
até ser nomeado para uma diretoria da Anvisa em novembro de 2007, Agnelo
recebeu apenas o salário de menos de R$ 3 mil mensais como médico da rede
pública. Apesar disso, quatro anos depois, Agnelo entregou à Justiça Eleitoral
uma relação de bens com valor cinco vezes maior: R$ 1,1 milhão. Entre as duas
declarações, Agnelo comprou uma casa no Lago Sul, bairro nobre de Brasília, e
dois apartamentos. No ano passado, ÉPOCA mostrou que Agnelo construiu uma
quadra de tênis e um campo de futebol em uma área pública ilegalmente
incorporada ao terreno da casa. Em nota, Agnelo afirmou que seu patrimônio cresceu porque a
declaração passou a reunir os bens dele e da mulher. “A declaração de Imposto
de Renda de Agnelo Queiroz, referente a 2006, é uma declaração individual de
patrimônio”, diz o texto. “Em 2010, foi apresentada declaração de Imposto de
Renda em conjunto com a esposa, Ilza Queiroz, do patrimônio agregado do casal.”
Na declaração de Imposto de Renda apresentada por Agnelo referente ao ano de
2006, não há, porém, nenhum bem em nome do governador. Essa prática se repetiu,
segundo os documentos em poder da Justiça Federal a que ÉPOCA teve acesso, nas
declarações referentes a 2003, 2004, 2005 e 2007.
Pistas importantes para explicar o aumento do
patrimônio de Agnelo surgem em conversas com João Dias e Daniel Tavares. Personagens
do submundo político de Brasília, eles são ex-integrantes do PCdoB e, em alguns
períodos, estiveram muito próximos a Agnelo. Nos últimos meses, ÉPOCA
entrevistou os dois. Com Daniel Tavares, as conversas foram realizadas entre
junho e a semana passada. Com João Dias, a entrevista foi feita há cerca de um
mês, após a divulgação de suas acusações, que derrubaram o então ministro do
Esporte, Orlando Silva.
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