Em vídeo, testemunha-chave conta bastidores da teia de
corrupção montada no Ministério do Esporte pelo ex-ministro Agnelo Queiroz.
Aparecem nomes e funções dos envolvidos na rede que desviou recursos públicos
para ONGs de fachada e empresas fantasmas
Claudio Dantas Sequeira – da ISTOÉ – nº 2190 – de 28 de
Outubro de 2011.
Na semana passada, ISTOÉ obteve com exclusividade o inteiro
teor de um explosivo depoimento gravado em vídeo por Geraldo Nascimento de
Andrade, testemunha-chave das denúncias sobre o esquema de desvio de verbas com
ONGS do programa Segundo Tempo, do Ministério do Esporte. Como motorista,
arrecadador e até como laranja para empresas fantasmas, Andrade serviu por mais
de quatro anos a essa rede de corrupção. Ele é um homem simples, de 25 anos,
que na maior parte do tempo esteve preocupado em garantir uma subsistência
modesta. Numa gravação de quase duas horas, Andrade conta tudo o que
testemunhou e executou para o grupo. Seu relato, nunca revelado na íntegra,
impressiona pela riqueza de detalhes e foi repetido por ele à Polícia Civil e
ao Ministério Público. As declarações de Andrade foram checadas pelas
autoridades, cruzadas com documentos e ofícios internos do Ministério, aos
quais ISTOÉ também teve acesso exclusivo. O material embasou duas denúncias já
acolhidas pela Justiça Federal e que correm sob segredo de Justiça. Com esse
conjunto é possível traçar pela primeira vez um organograma de quando foi
instalado, como atuavam, como era feita a distribuição da propina e o papel de
cada operador no complexo esquema de dreno de recursos públicos montado no
Esporte (leia quadro na pag. ao lado). A gravação deixa evidente que a teia de
falcatruas que irrigou o caixa do PCdoB foi iniciada e bem azeitada pelo
ex-ministro do Esporte e antecessor de Orlando Silva, Agnelo Queiroz, hoje
governador do Distrito Federal. O depoimento de Andrade ajuda a demonstrar, com
minúcias, como Agnelo organizou esse propinoduto para sugar dinheiro no
Ministério do Esporte – operação que se manteve sob administração do PCdoB com
Orlando Silva.
Ofícios internos do Ministério do Esporte e dados do
processo sigiloso que corre na 10ª Vara Criminal da Justiça Federal em
Brasília, obtidos por ISTOÉ, dão ainda mais substância à denúncia de Andrade e
confirmam que o policial militar João Dias Ferreira tem motivos de sobra para poupar
Agnelo das denúncias que acabaram derrubando Orlando Silva. Esses documentos
atestam que a Federação Brasileira de Kung-Fu (Febrak), de João Dias, foi a
primeira ONG do esquema a entrar no Ministério, ainda na gestão Agnelo, em
2005. E os convênios assinados em 2006, após sua saída, com a Associação João
Dias de Kung Fu, o Instituto Novo Horizonte e a Associação Gomes de Matos –
todas elas ligadas ao PM – levam a chancela de um intrigante personagem: Rafael
Barbosa. Médico por formação, homem da mais inteira confiança de Agnelo,
Barbosa era, na época, secretário Nacional de Esporte Educacional. A ligação
entre os dois é tão estreita que o ex-ministro, depois de deixar a pasta,
nomeou Rafael Barbosa como seu adjunto na diretoria da Anvisa. Mais tarde, eleito
governador do DF, Agnelo entregou-lhe a Secretaria de Saúde, cargo que ele
ocupa até hoje.
Uma análise mais detalhada do contrato com a Febrak, de João
Dias, com o ministério dá um exemplo bastante preciso de como funcionou o
conluio. A proposta do convênio de R$ 2,5 milhões para atender dez mil
crianças, pelo Segundo Tempo, teve tramitação acelerada. Ganhou carimbo de
“urgente” e, em apenas três dias, chegou à mesa de Rafael Barbosa. Em 12 de
abril, ele assinou ato de autorização, atestando a “proficiência” da Febrak e
dando prazo de dois dias para que a comissão constituída pelo ministro
concluísse sua análise. O ato de Barbosa desconsiderou o despacho do
coordenador técnico do Ministério, Marcos Roberto dos Santos. O analista, em 22
de março, registrou que vinha se manifestando “diversas vezes em reuniões e
documentos à diretoria” sobre a necessidade de averiguação in loco das
“atividades inerentes ao desenvolvimento do programa”. O próprio Orlando Silva,
então secretário-executivo, alertou para a recomendação de “vistoria prévia das
instalações”, antes que se assinasse o contrato.
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