Das dez melhores escolas baianas,
apenas três estão em Salvador
Por Jorge Gauthier - da Redação do CORREIO.
Foi-se o tempo em que para estudar
com qualidade na Bahia era preciso sair do interior e rumar para a capital. É o
que apontam os resultados das avaliações do Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem) de 2010, divulgados ontem pelo Ministério da Educação (MEC).
De acordo com os dados, as escolas do
interior tiveram rendimentos superiores às instituições da capital. Das cinco
melhores escolas, entre as que tiveram o índice mais alto de participação no
exame (mais de 75% dos alunos fizeram a prova), três são do interior: Colégio
Helyos e Gênesis, ambos em Feira de Santana, a 108 quilômetros de Salvador, e
Colégio Dínamo, em Alagoinhas, a 107 quilômetros da capital (ver tabela na
página ao lado). Estendendo a análise para o top 10, ainda no grupo 1, sete são
de fora da capital.
Este ano, as notas de cada escola
foram divididas pela porcentagem de participação dos estudantes no exame. No
grupo 1, com mais de 75% de participação, entre as 100 melhores escolas de todo
o país, 87 são particulares - dessas, o Colégio Helyos é a única baiana. Ele
ocupa a 60ª posição nacional e teve 95% de participação dos alunos. Na antiga
forma de classificação, quando os rankings não consideravam a taxa de
participação, a escola chegou a figurar entre as 10 melhores do Brasil.
Método
A coordenadora pedagógica do Helyos,
Patrícia Moldes, explica que o segredo dos bons resultados é o processo
contínuo de desenvolvimento do estudante. “O trabalho deve começar bem cedo,
nas séries iniciais, para que o aluno chegue pronto ao 3º ano para qualquer
tipo de prova, não apenas no Enem. No interior, muitas vezes há limitação de
conseguir material humano. Em contrapartida, há menos alunos por turma”,
explica.
A professora destaca ainda que as
aulas de xadrez, dentre outras atividades que estimulam o raciocínio lógico,
têm papel fundamental no desenvolvimento dos alunos do colégio. Outro
diferencial, segundo a professora, é facultar aos alunos a opção de fazer a
prova do Enem. “Como ainda poucas universidades aplicam o Enem como facilitador
de entrada, ainda não há uma cultura ampla de estudar para o Enem na Bahia.
Damos a opção aos alunos de fazerem ou não a prova, mas a maioria aceita fazer
para se testar. Não há pressão e isso colabora com um bom desempenho”, explica
a professora, que já trabalha no colégio há 19 anos.
Para a diretora do Colégio Oficina,
primeiro lugar entre as escolas de Salvador, Lurdinha Viana, que tem mais de 20
anos de experiência no ensino, os melhores resultados do interior do estado são
reflexo do crescimento das universidades fora da capital. “Em cidades como
Feira de Santana e Vitória da Conquista, por exemplo, tem universidades
estaduais que têm formado profissionais aptos para desenvolver um bom trabalho
educacional e isso reflete em situações com as notas do Enem”, avalia.
O diretor de avaliação de informações
educacionais da Secretaria da Educação da Bahia, Marcos Pinho, avalia
positivamente o deslocamento de bons rendimentos para o interior do estado.
“Isso significa que há polos educacionais em desenvolvimento no interior. O
governo estadual ainda dispõe de programas educacionais voltados exclusivamente
para o interior, o que estimula o desenvolvimento dessas áreas”.
Diferença
Apesar dos bons rendimentos no interior, a situação educacional da Bahia não é boa. Das 1.352 escolas baianas que tiveram estudantes inscritos, 61% tiveram rendimento abaixo da média nacional, que foi de 553,73 pontos, de um total de 1.000 pontos possíveis; apenas 21% ficaram acima da média e 18% não tiveram notas divulgadas porque não alcançaram 2% de participação dos alunos na prova.
Apesar dos bons rendimentos no interior, a situação educacional da Bahia não é boa. Das 1.352 escolas baianas que tiveram estudantes inscritos, 61% tiveram rendimento abaixo da média nacional, que foi de 553,73 pontos, de um total de 1.000 pontos possíveis; apenas 21% ficaram acima da média e 18% não tiveram notas divulgadas porque não alcançaram 2% de participação dos alunos na prova.
A discrepância entre o ensino público
e o privado mostrou-se acentuada. Entre as escolas privadas da Bahia, 76%
tiveram rendimento acima da média nacional e apenas 5% ficaram abaixo dessa
nota. Na rede pública, os números são praticamente inversos: 79% ficaram abaixo
da média nacional de 553,73 pontos e 4%, acima. O restante não teve
as notas divulgadas porque menos de 10 estudantes ou menos de 2% dos alunos
fizeram as provas.
Pinho destaca porém que as escolas
públicas da Bahia tiveram melhora de rendimentos com relação ao ano passado.
“Em 2010, a média das escolas estaduais foi de 508 pontos contra 499,44 em 2009.
Já a rede privada saiu de 605.59, em 2009, para a 608.51 em 2010. Comparar as
duas redes - pública e privada - não é conveniente pois elas têm tamanhos
diferentes”.
No Brasil, das 26 mil escolas
que tiveram estudantes inscritos, 30% tiveram nota acima da média. Um
percentual de 51% não alcançou a nota média e outras 19% não tiveram notas
divulgadas.
Colégio Oficina: o melhor da capital
Uma média de 40 horas de aulas
semanais, provas de conteúdo todos os sábados e turmas com número de alunos
reduzido são alguns dos segredos do Colégio Oficina, que está na primeira
colocação entre as escolas de Salvador do grupo 1. A meta do Ministério da
Educação é que a média do Enem por escola chegue a 600 pontos até 2028. A meta
não assusta a diretora do Colégio Oficina, Lurdinha Viana, escola que atingiu
690,63 pontos em 2010. “O ideal é estimular o aluno para que não haja
acúmulo de conteúdo sem estudar. Assim os alunos conseguem evoluir no nível de
desenvolvimento intelectual”.
Nas instituições públicas, quem tem
25 horas de aulas por semana, em média, as metas causam preocupação. O diretor
de avaliação de informações educacionais da Secretaria da Educação da Bahia,
Marcos Pinho, acredita que a Bahia vai conquistar a meta, mas faz a ponderação
na comparação com a rede privada. “A rede pública está fazendo um trabalho
contínuo de melhora do sistema. Mas, temos que saber que depende de muita
coisa. Dos professores, dos alunos, das famílias da rede pública que são
diferentes da rede privada. São características diferentes que precisam ser
administradas”, disse.