Saímos de Juazeiro pela BR 122 e, cerca de 15 kms depois, retomamos o caminho pala BA 210. O destino era o município de Sento Sé, localizado à margem do Lago de Sobradinho, no lado oposto ao de Remanso. Sento Sé é a última cidade da BA 210. A partir dali, margeando o São Francisco até Xique-Xique, o trajeto de quase 200 kms é feito em estradas vicinais, num dos trechos mais esquecidos e abandonados da Bahia, mesmo com suas belezas naturais, inexploradas desde que por aqui os portugueses chegaram. A cidade de Sento Sé é cercada de belezas por todos os lados. O visitante ficará abismado não só com o Velho Chico. As montanhas que contornam o vale fazem poses encantadoras para as mais belas fotos.
Chegamos à cidade por volta do meio-dia. Os 200 kms desde Juazeiro foram transitados sem maiores problemas. A BA 210 estava impecavelmente bem tratada. O estômago é que estava maltratado e reclamava atenção. Então paramos para o abastecimento do corpo. Almoçamos no Restaurante Almeida, localizado bem no centro de Sento Sé.
Agora é preciso entender como Sento Sé chegou até aqui. Antes de existir a cidade, havia uma tribo dos povos originários denominados centossés. Povoaram a região até a chegada dos primeiros portugueses vindos do Piauí. Vieram então as lavouras de cana de açúcar, instalando engenhos e fundando a feitoria de Sento Sé. Em 1719, foi construída a capela de São José, elevada à freguesia em 1752, com o nome de São José da Barra. Elevado à categoria de vila com a denominação de Sento Sé, por Decreto datado de 6 de julho de 1832, desmembrado de Juazeiro e instalado em 21 de novembro de 1833.
Em 1911, a sede do distrito de Sento Sé foi transferida para o arraial de Almeida, modificando o nome para Manoel Vitorino. Dois anos depois, a sede retornou para Sento Sé, ainda com o nome de Manoel Vitorino. Somente em 20 de fevereiro de 1934, pelo decreto Estadual 8.818, mudou-se a denominação para Sento Sé. A vida dos seus habitantes seguiu seu rumo de forma normal, com a evolução chegando sempre aos poucos. Porém, com a chegada do Lago de Sobradinho, uma mudança radical aconteceu. A cidade desapareceria, engolida pelas águas do Velho Chico.
A nova Sento Sé seria construída, mas distante 62 kms da cidade velha, onde hoje se encontra. Evidente que a nova sede foi planejada e se apresenta de forma mais organizada, mas a velha Sento Sé deixou saudades. O livro Sento-Sé - Memórias de uma cidade submersa - de Adzamara Amaral, editora Lisbon Press, consegue, em suas quase 100 páginas, passar um pouco da decepção daqueles que até hoje lutam por uma melhor indenização das terras que deixaram afogadas um mundo de histórias de vida. Publicado em 2020, o livro traz memórias que testemunharam os impactos trágicos da Barragem de Sobradinho, iniciada em 1972 e concluída 6 anos depois. Um deles chama atenção: um professor, que resistiu à mudança, só saiu de sua casa na velha Sento Sé amarrado e colocado em um avião. O professor morreu de depressão anos depois e foi um dos primeiros a ser enterrados na nova Sento Sé. A Lei Estadual 3347, de 23 de dezembro de 1974, foi a que regulou a transferência da sede municipal.
De clima semiárido, o município de Sento Sé tem sua vegetação predominantemente do tipo caatinga. Além do São Francisco, há outros atrativos para os visitantes: o Rio Verde, a serra da Gameleira, a da fazenda Brejo Grande, a serra das Almas e a serra da Gruna no distrito de Amaniú; a serra da Palmeira no distrito de Américo Alves, a serra do Mimoso no distrito de Minas de Mimoso, a serra do Cachorro Queimado e a serra do São Pedro no distrito de Piri. Além disso há os morros Velho do Pascoal, da Dispensa do Tombador, Monte Cruzeiro e Tambor. Também vale citar a gruta da Pedra Branca, na Fazenda do mesmo nome, a gruta do São Pedro, gruta dos Prazeres e Bananeira. Há um Parque de 346.908,10 hectares administrado pelo ICMbio que preserva o bioma caatinga.
Da sua refundação para cá, há mais de 48 anos, pouca coisa mudou em Sento Sé em relação ao município. Apenas em 1983, pela Lei estadual 4.543, de 15 de outubro daquele ano, o distrito de Bossoroca passou a se chamar Piçarrão. Os outros distritos de Sento Sé, a sede, Amaniú, Américo Alves, Cajuí, Minas do Mimoso e Piri continuam inalterados. Sento Sé faz limites com Campo Formoso, Casa Nova, Itaguaçu da Bahia, Jussara, Morro do Chapéu, Pilão Arcado, Remanso, Sobradinho, Umburanas e Xique-Xique. Fica distante de Salvador 670 kms. Sua área é de 12 871,039 km², que abriga uma população de 38.158 almas, com densidade de 3 habitantes por km2.