Landisvalth Lima
Paripiranga considera Justino Neto um prefeito mediano (foto: Landisvalth Lima) |
O Landisvalth Blog vai realizar
uma série de reportagens sobre o primeiro ano de governo de alguns prefeitos da
nossa região. Para começar a série, estivemos na cidade de Paripiranga - Ba,
fronteira com o município sergipano de Simão Dias. A cidade chama atenção por
abrigar a sede do Centro Universitário Ages e por ter um dos dois únicos
prefeitos eleitos pelo Partido Verde na Bahia, Justino Neto, que obteve 47,13%
dos votos em 2016, exatos 8.220 votos. O outro prefeito verde é de São José do
Jacuípe, Erismar de Amadinho.
Para saber como anda a
administração do prefeito, conversamos com várias pessoas. Prometemos não
registrar nomes, a não ser que desejassem. Perguntamos o que estavam achando do
primeiro ano de administração do prefeito e pedimos uma nota de 0 a 10. Após
cerca de vinte entrevistas, a média atingida pelo prefeito Justino Neto foi
exatamente 5,0. Esta nota reflete inclusive a opinião média das pessoas. Alguns
poucos deram 10,0, outros poucos deram 0,0, mas a nota mediana predominou.
Pedíamos para que justificassem suas notas e as justificativas eram quase que
idênticas.
A verdade é que o primeiro ano da
administração de Justino Neto foi marcada pela crise. Um prefeito que não tem
obras para mostrar. E a população está acostumada a relacionar eficiência com a
quantidade de obras. O município de Paripiranga não é diferente da maioria dos
5570 espalhados pelo território brasileiro. Depende do FPM – Fundo de
Participação dos Municípios. Sua arrecadação própria é insignificante e o
prefeito fica à espera dos recursos de emendas federais e estaduais. Como as
torneiras estão fechadas para os opositores dos encastelados no poder, os
prefeitos precisam ser criativos para garantir o mínimo possível para
funcionamento da máquina pública. Talvez aí esteja a explicação do ano morno da
administração de Justino Neto, sem obras ou novidades.
Justino Neto (PV) - Prefeito de Paripiranga |
Mas muitos depoimentos foram
conscientes. Um dos entrevistados chegou a dizer um “mas ninguém está
construindo nada mesmo!”. Outro afirmou que votou contra o prefeito, mas que
sabia que ele não fazia obras por causa da crise. Também elogiaram o fato de
estar pagando os servidores em dia, o que na verdade não é mérito, é obrigação.
Muitos eleitores se mostraram frustrados porque esperavam mais do novo
prefeito. Mas também relataram críticas severas, como o corte de salários.
Falam de garis recebendo apenas 400 reais, fato ainda não comprovado por este
blog. Talvez aí esteja a fórmula encontrada pelo prefeito para manter a folha
de pagamento em dia.
Outros fatos confirmam que,
apesar de estar no PV, Justino Neto segue uma cartilha conservadora da
política. Quando foi eleito, tinha apenas 5 vereadores. Para se garantir, negociou
com alguns vereadores da oposição. Jerônimo de Brício, do PP, que não gosta de
ficar muito tempo longe do poder, aderiu ao prefeito eleito. Sua esposa foi
vice de Marco Antônio do Bizé (PSD), apoiado pelo ex-prefeito George, candidato
que amargou um distante terceiro lugar, com apenas 20% dos votos. Também aderiu
ao prefeito eleito a vereadora Nany, esposa de Bira de Gringo (PMDB), o vice de
Dr. Patrick (PSDB), segundo colocado no pleito de 2016, com pouco mais de 27%
dos votos. No pacote, para completar, veio também o vereador Augusto de Dezinho.
Com 8 vereadores, Justino garantiu a eleição do seu irmão, José Aloisio (PV),
segundo vereador mais votado, como presidente da Câmara Municipal de Paripiranga.
Com maioria folgada, isolando os
três vereadores do PSD, Paulo de Nezinho, Toinho de Virgílio e Alexandre, garante
o prefeito do PV um membro da família como escudo no Legislativo. Mas não ficou
só por aí. Justino também levou o administrador de suas empresas para ser o
secretário de administração, homem mais que de sua confiança. Cercado de todas
as armas protetoras, resta a Justino Neto fazer uma boa administração. Se falhar,
não poderá alegar perseguição de adversários. Tais proteções podem também
servir como escudos para, caso queira, trilhar os descaminhos das administrações
nada republicanas.
Estive também na Prefeitura Municipal de
Paripiranga para ouvir a palavra de Justino Neto, mas ele estava em viagem para
Salvador. Falaram que estaria no município na sexta-feira. Vamos tentar o
contato com o prefeito para que ele possa revelar o que fez e o que pretende
fazer à frente da prefeitura. Afinal, sempre há um George à espreita, desde que
livre das artimanhas jurídicas, a querer voltar ao lugar que ocupou um dia. Quando
o sapato, mesmo velho, molda-se às formas do nosso pé, a gente sempre quer calçá-lo
novamente.