Lucas Cunha – do Bahia Notícias
Eliana Calmon explicou os riscos da retomada da greve foto: Bahia Notícias |
Uma longa reunião durante a
madrugada deste sábado (19) de lideranças da Polícia Militar com a ex-ministra
do Superior Tribunal de Justiça, pré-candidata ao Senado pelo PSB na Bahia,
Eliana Calmon, marcou o fim do movimento de aquartelamento dos PMs no estado,
após a prisão do líder grevista, o vereador de Salvador Marco Prisco (PSDB).
Segundo relato do deputado estadual Capitão Tadeu (PSB), que assumiu a
liderança do movimento depois de Prisco ser preso, Calmon explicou a situação
para as lideranças presentes. "Ela nos mostrou como será agora o andamento
do processo e que a continuidade do aquartelamento seria ruim para toda a
população, os policiais e o próprio Prisco em sua defesa". Tadeu ainda
explicou que chegou a conclamar uma nova paralisação sem realização de
assembleia devido à "comoção geral" ocorrida logo após o anúncio da
prisão de Prisco e que seu pedido para que os PMs ficasse aquartelados,
respeitando o mínimo de 30% da força nas ruas, foi uma medida para "evitar
um mal maior". "Imagine você o que seria 30 mil policiais revoltados
nas ruas. Para nós, o acordo com o governo havia sido quebrado. Por esse
motivo, para evitar um mal maior, já que os policiais estavam se sentindo
traídos pelo governador, pedi pelo aquartelamento, preservando os policias e a
população".
Após o fim da reunião com a Eliana, as associações começaram,
no início da manhã deste sábado a avisar seus associados da nova orientação e,
segundo Tadeu, a situação deve se normalizar à medida que informação seja
divulgada. O deputado do PSB disse ainda desconhecer a informação, divulgada
pelo jornal Folha de S. Paulo, que Prisco teria pedido pelo fim da paralisação.
O deputado Capitão Tadeu (PSB) foto: Roberto Viana |
Nota da PM no Facebook
Uma nota publicada pela Polícia
Militar da Bahia no Facebook tornou pública uma comunicação feita entre o
deputado estadual Capitão Tadeu (PSB), novo líder do movimento da PM na Bahia,
e a ex-ministra do Superior Tribunal de Justiça e pré-candidata ao Senado pelo
PSB na Bahia, Eliana Calmon, onde a jurista explicou ao seu correligionário que
a situação de Prisco, preso na tarde da última sexta-feira (19), "só pode
ser solucionada no âmbito da Justiça Federal, mediante Habeas Corpus examinado
pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região". No mesmo documento, Calmon
recomenda a Tadeu que "a melhor solução para o problema não está no
aquartelamento das forças policiais, porque não decorreu a prisão do descumprimento
pelo Governador do acordo anteriormente assinado. Aliás, não poderia ele
acordar sobre os processos em andamento na Justiça". Com isso, o Coronel
Alfredo Braga, comandante geral da PM no estado, convoca a tropa para voltem a
"atuação natural" e que "o diálogo e negociação continuam
abertas visando a modernização da nossa Corporação".
Prisco pede para não retomar
greve
Vereador Marcos Prisco (PSDB) foto: Bahia Notícias |
Apesar do impasse criado após a
prisão do líder do movimento grevista da Polícia Militar na Bahia, o vereador
Marco Prisco (PSDB), na tarde desta sexta (18), o clima parece ter se amenizado
depois uma mensagem enviada pelo próprio Prisco aos membros da sua associação,
a Aspra (Associação dos Policiais e Bombeiros da Bahia), onde orienta a não
retomar a paralisação em protesto contra sua detenção. Segundo o jornal Folha
de S. Paulo, a informação foi confirmada pelo advogado e por dirigentes da
Aspra, durante uma reunião na noite de sexta, quando se discutiu a
possibilidade de um retorno da greve. Cerca de 200 policiais estiveram reunidos
na Praça Municipal, em Salvador, onde o diretor da Aspra (Ivan Leite) informou
aos presentes que poderiam voltar para suas casas, pois não havia comando para
que voltasse a paralisação, segundo informações do jornal A TARDE. O clima de
tensão em torno de uma nova greve começou logo após o anúncio da prisão de
Prisco, quando o deputado estadual Capitão Tadeu (PSB) conclamou uma nova
paralisação e diz ter assumido o controle do movimento grevista, exigindo que o
governador Jaques Wagner interceda a favor da libertação de Prisco. Já o
governo respondeu, por meio de nota da Secretaria da Segurança Pública (SSP),
que não participou da operação de prisão de Prisco, feita a pedido do
Ministério Público Federal e executada pela Polícia Federal, e que também
assegura o cumprimento de todos os itens do acordo firmado com as associações
representativas da Polícia Militar (PM), quando do final da paralisação, no
último dia 17 de abril. Prisco foi levado para o presídio da Papuda, em
Brasília.
Policiais Federais falam em falta
de sensibilidade política
O Sindicato dos Policiais
Federais da Bahia (Sindipol-BA) divulgou uma nota para esclarecer à sociedade
baiana sobre o cumprimento do mandado de prisão do vereador Marco Prisco. De
acordo com o comunicado, a prisão foi realizada na tarde desta sexta-feira (18)
por equipes de policiais de Brasília, e por “expressa determinação judicial
emanada da Justiça Federal, acolhendo representação do Ministério Público
Federal, pelo que descabe, em princípio, qualquer discussão acerca de seu
cumprimento”. O texto deixa claro a discordância do Sindipol “para com a falta
de sensibilidade política para cumprimento de citada ordem nesta data, pois
além de estarmos em pleno feriado santo, vivemos uma instabilidade
institucional da sociedade baiana face aos últimos acontecimentos, apenas
agravando ainda mais a insegurança e oportunizando uma retaliação de maneira
generalizada”. O sindicato ressalta que “há indícios severos” de estar
acontecendo um “processo de judicialização de uma questão política, conduzido
de forma débil, e que não pode redundar em confronto ou hostilidades entre
forças policiais”. Segundo a entidade, o esquema remete a temerárias conclusões
sobre a utilização da greve dos policiais para interesses políticos. A nota
destaca que isso quer dizer que “não se quer resolver os graves problemas das
categorias policiais ou da segurança pública em profundidade: antes, se quer
fazer de um movimento legítimo de policiais ganhar a conotação
político-eleitoreira, mormente quando se utiliza do processo de desmoralização pública
de suas efetivas lideranças”. O sindicato diz que “não fechará os olhos para
tais desvios”, e que não ficará em silêncio diante do “cinismo e perversão com
que são tratadas as questões atinentes à segurança pública da Bahia e do
Brasil”. Além do mais, o Sindipol defende a necessidade urgente de
desmilitarização de todas as forças policiais militares estaduais, pois entende
que “não é aceitável que demandas de cunho essencialmente trabalhistas estejam
elevadas ao patamar de insurgência à segurança nacional, com escólio em um
diploma legal genérico, com tipos penais idem, e que podem muito bem ser
manipulados por atores políticos no poder ao sabor de interesses os mais
diversos, inclusive os espúrios”. A entidade sindical, por fim, reconhece a
legitimidade do pleito dos policiais militares, e pede que os atores sociais
envolvidos na discussão se “pautem pela prudência e responsabilidade na
resolução de tão grave questão”, e com “menos mídia e palanque, com mais
parcimônia”. Ao finalizar o comunicado, o Sindicato dos Policiais Federais
ressalta que, se tais princípios não forem observador, “a responsabilidade de
todos aqueles que, acostumadas a decidir sobre problemas reais com a simples
caneta em seus escritórios fechados e climatizados, estarão também com suas
mãos ensanguentadas com o jorro de sangue do crescente número de vítimas que
estão com suas vidas ceifadas em decorrência dessa tragédia”.